Prado: o paraíso perdido no Sul da Bahia

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Cidade se modernizou, mas mantém características do passado, que arrebataram Pedro Álvares Cabral e continuam encantando visitantes

Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Trabalhadores se preparam para descarregar os peixes resultantes da
pesca artesanal (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Não é difícil saber o que Pedro Álvares Cabral sentiu ao retornar a Portugal, deixando a Bahia. Isso porque, segundo conta a história, a rota traçada pelas caravelas que passaram por Porto Seguro revela parte de um estado de belezas e encantos naturais descritos na carta escrita por Pero Vaz de Caminha e enviada pelo navegador português ao rei dom Manuel relatando o descobrimento de novas terras. Mas o texto, que não deixa dúvidas quanto às paisagens deslumbrantes no entorno do imponente Monte Pascoal, ainda não dava conta de tantas maravilhas daquele litoral. Portão de entrada da Costa das Baleias, Prado, também ao Sul do estado, se destaca nos últimos tempos como a maior e melhor infraestrutura da região, mesmo sendo repleta de concorrentes.

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Restaurantes no Beco das Garrafas oferecem o melhor da comida baiana (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

A convite da Pousada Casa de Maria, visitei a cidade de Prado, onde, durante cinco dias, pude me integrar às atividades de turismo, lazer e gastronomia. O mais legal foi visitar lugares que, mesmo para o turista mais afortunado, ainda não é permitido o desfrute. Entre as atividades, foi possível conhecer belas praias, fazer mergulho em recifes e até mesmo caminhada ecológica pelo Parque Nacional Descobrimento.

Erguida ao longo da margem esquerda do rio, a Vila de Novo Prado (1775) ?? onde antes, segundo relato de moradores, viviam as tribos dos índios aimorés ?? foi emancipada em 1896. Mas ainda hoje é possível encontrar casarões do século 19 e se encantar com uma viagem ao passado.

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Parada para pedir bênçãos para o passeio na Igreja de Nossa Senhora da Purificação, do século 14 (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

A cidade se modernizou sem perder seus monumentos e casario colonial, que se mantêm renovados, sua vida simples e tradições. A conversa dos moradores, sentados em cadeiras nas portas de casa, nos fins de tardes inesquecíveis, são coroadas por suas tradicionais brisa e luz, traduzidas em forma de alegria e hospitalidade.

Assim como uma boa cidade baiana, Prado encanta os cinco sentidos do corpo humano. ? bonito ver uma cidade tão colorida, com Centro Histórico que preserva seu casario datado do século 19, de ruas estreitas, calçadas com paralelepípedos e praças arborizadas. Algumas construções modernas até tentam descaracterizar a singularidade dos antigos imóveis, de fachadas robustas e cheios de histórias pra contar. Mas, fato é que, ainda assim, a simplicidade da cidade predomina. O mercado municipal é um convite ao olfato e ao paladar. Funciona como feira livre coberta, onde é possível encontrar, especialmente aos sábados, frutas, verduras, legumes, carnes e peixes, além de produtos bem típicos, como urucum, dendê, farinha de mandioca, pimenta, beiju de coco, requeijão caseiro e diversas delícias regionais.

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Paisagem deslumbrante em torno do Monte Pascoal (ao fundo), onde tudo começou (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

DELÍCIAS

Sentidos aguçados ainda no Beco das Garrafas, um dos lugares mais frequentados pelos turistas, onde uma variedade de restaurantes oferece o que há de melhor na culinária baiana e tradicional, em almoços ou jantares agradáveis, com música ao vivo e diversas atrações. Um dos destaques da gastronomia local é o prato falésias de mariscos, que mistura peixe budião, lagosta, camarão com purê de castanhas e molho de coquinho xandó, pitanga e guairu ?? frutas da região. A iguaria é verdadeiramente uma delícia! Quiosques de bares, barracas de artesanatos e hippies se misturam no emaranhado do Beco das Garrafas, que também abriga a Igreja de Nossa Senhora da Purificação ?? datada do século 14.

Prado também conta com excelente rede de pousadas e hotéis com ótima infraestrutura. Excelente pedida para relaxar e se divertir. Para quem gosta de passear, a região é o lugar ideal. Como o sol aparece logo cedo, basta tomar um bom café da manhã e colocar o pé na estrada.

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Beleza e encantos naturais, além de excelente infraestrutura, fazem do lugar um dos melhores da região (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Mar de águas claras, com praias recortadas por riachos e falésias coloridas. Assim é o encantador litoral de Prado, no Sul da Bahia, onde grande parte da paisagem ainda é semideserta e os habitantes locais praticam pesca artesanal. Bem diferente de muitos pontos badalados da Bahia, essa porção ao Sul do estado preserva o sossego. ? certo que há praias mais movimentadas, com excelente infraestrutura e barracas que oferecem aos clientes deliciosos petiscos e bebidas geladas. Mas a região preserva elementos fundamentais para apreciação da natureza, que soam como um convite ao bem-estar.

Um dos principais pontos turísticos está localizado a 13 quilômetros do Centro, a Praia da Paixão. ? um recanto agradável, com mar de águas mansas e cristalinas, com um pequeno rio que chega ao mar. Bem ao lado, outro lugar que você não pode deixar de conhecer é a Praia do Tororão, local de beleza única, com uma pequena cascata de água doce que desce das falésias e vai direto para o mar. A visão é espetacular e, com o sol forte da região, o banho é sempre refrescante.

O calor da Bahia exige que o tour comece logo cedo. Para quem não se importa em madrugar, a recompensa é alta. Em direção à Praia do Farol, é possível ver belíssimas e imponentes falésias em tons variados de cores, que se revezam com planícies e praias serenas. De águas mornas e convidativas, as praias se estendem por 84 quilômetros. Do alto é possível ver todo o litoral. Em alguns trechos, as falésias chegam a ter entre 18 e 25 metros de altura. E, em alguns momentos, parecer se debruçar sobre o mar, proporcionando, assim, exuberantes paisagens.

CUMURUXATIBA Cereja do bolo ainda a ser servida aos turistas mais exigentes e que dispõem de mais tempo, a Vila de Cumuruxatiba não pode ficar de fora do roteiro para quem visita a região de Prado. De origem pataxó, que significa ??grande diferença entre os mares?, Cumuru, como é abreviada, é uma vila de aproximadamente 7.500 moradores, em sua maioria pescadores. Já na chegada, um gigantesco portal chama a atenção. Ao se olhar para a esquerda, é possível ver, ao longe, a silhueta de um morro, como se fosse a corcova de um camelo ?? é o Monte Pascoal, montanha que é motivo de tantas discussões, entre pradenses e porto-segurenses.

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Prato falésia de mariscos é um dos pontos altos da gastronomia (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

?s margens da estrada, na entrada da vila, há uma represa onde várias crianças nadam, como se o mundo fosse só diversão. O mar está logo à frente. Com a maré baixa, os recifes ficam à mostra, barcos ancorados ao longe, e pescadores com águas pelos joelhos. Da praia, o olhar se finda numa longínqua curva, que tem um recife, e forma uma ponta no seu final. A pergunta é inevitável! E lá? De súbito vem a resposta do povo de Cumuru: é a Praia do Moreira, um dos destinos mais procurados no local.

O lugar também tem história. Um italiano comprou uma fazenda e cercou a maior parte dela. Deixou uma boa fatia da cerca para praia, onde as pessoas pudessem ter acesso sem ter que invadir suas terras. E olha que ele foi camarada, já que, de toda a orla, você consegue ver uma imensidão de paredões de falésias. Durante o verão, turistas de todo o Brasil e de outros países também passam por lá. Geralmente, estão fugindo do barulho urbano e das praias movimentadas, encontrando no Moreira o tão desejado sossego.

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Em alguns trechos, falésias chegam a ter até 25 metros de altura (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

E, antes de partir, vale dar uma parada para experimentar as delícias gastronômicas. Afinal, mousses e pudins do local são famosos. Destaque da vila, a confeiteira Ana Nely já apareceu até em programa de televisão. Toda desenvolta, adora ??um dedo de prosa?? com os clientes. Entre um papo e outro, ela conta que era empregada de Baby Consuelo. Diz que ??patroa melhor não teve?. Faz comentários hilários e afirma que, se não fosse ali, gostaria de viver no Rio.

* O jornalista viajou a convite da Pousada Casa de Maria

SERVI?O


Como ir

» De avião ?? a melhor opção é descer em Teixeira de Freitas, já que fica a 70 quilômetros de Prado (há voo diário da Azul, partindo do aeroporto de Confins). Alugue um carro ou contrate o serviço de um táxi ou van para continuar a viagem ?? são mais 50 minutos até a cidade.
» De carro ?? são 780 quilômetros. Saindo de BH, pegar a BR-381 e ir até a BR-116, em Governador Valadares. Seguir em direção a Teofilo Otoni, pegar a BR-418 e seguir até Teixeira de Freitas. São aproximadamente 9 horas, dirigindo tranquilamente.

Onde ficar
» Pousada Casa de Maria
Diárias a partir de R$ 200, para duas pessoas, na baixa temporada
(73) 3298-1425 e (73) 99993-4473
reserva@casademaria.com.br

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Bar da Ana Nely, que já apareceu até na TV por causa dos seus dotes culinários (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

 

Por Edésio Ferreira/E.M/Uai.

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