Circular menos ??, para não dizer o mínimo possível. Evitar encher o tanque, abastecendo o suficiente para a semana; exigir a nota fiscal. Lembrar que carro polui o meio ambiente, e deixá-lo mais tempo na garagem.
Fazer compras perto de casa, dando uma moral ao comércio do bairro. Tentar ??carona solidária?, ?? mais difícil. Otimizar a agenda, pensar bem os percursos, e de preferência utilizar aplicativo de GPS. Fazer cálculos.
Segundo os especialistas, mudança de hábitos e a adoção de atitudes ??mais sustentáveis? são algumas das (poucas) formas que o consumidor tem de enfrentamento à disparada dos preços dos combustíveis no Brasil. Outra é a mobilização da sociedade civil, pressionando por todos os lados.
Na última quinta-feira à tarde, a Petrobras anunciou novos reajustes para gás de cozinha (16,1%), gasolina (18,8%), e diesel (24,9%). A gasolina acumula alta de 24,5% em 2022; diesel, 35%.
Na mesma quinta pela manhã, a reportagem de A TARDE percorreu postos da capital, entre as avenidas Cardeal da Silva, Vasco da Gama, Garibaldi e o Rio Vermelho, e apurou que o preço da gasolina beirava R$ 8 ??, variando de R$ 7,33 a R$ 7,79; diesel, de R$ 6,90 a R$ 7,25.
De acordo com Edval Landulfo, do Conselho Regional de Economia (Corecon), as únicas opções são tentar economizar, e ??protestar?.
??Veja o reflexo do diesel sobre os preços dos alimentos, tudo o que compramos é transportado. Há um efeito dominó nas finanças, produtos, empresas, gerando uma crise sem precedentes. Se não houver um clamor social, campanha a favor de mudanças, inclusive da imprensa, pressão de todos os lados, com o motorista pedindo nota fiscal ao abastecer, gerando filas; irritando o prefeito, para que ele possa ligar para o governador, e esse para o presidente, nada deve mudar. Precisa manifestação popular que gere efeito?, conta Landulfo.
Professor de finanças, ele destaca o contexto de guerra ??, com Rússia e aliados de um lado, e Estados Unidos e países da Europa que compõe a Otan (Aliança do Atlântico) do outro, ameaçando o mundo com sanções, tanto de não compra de petróleo, como diminuição da produção.
??São dois cenários. O da guerra, e os oportunistas do mercado, que aproveitam a invasão para majorar preços. E o outro diz respeito à oferta, ou, de ocorrer uma briga de tamanho precedente, onde os países do Ocidente resolvam boicotar o petróleo russo, ?? o que seria um tiro no pé da própria aliança, porque encareceria a produção mundial. E a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que poderia ou não entrar para poder regular o mercado, ofertando mais barris, ou deixando chegar a um determinado valor, aguardando a resolução do conflito?, afirma
??Já há um movimento por parte de alguns países no sentido de reduzir a oferta do produto para poder manter os preços (altos). Isso sempre existiu, agora estão um pouco mais temerosos porque configura crime, e os olhos do mundo estão voltados para o assunto. Acho difícil não comprarem o gás natural da Rússia, que abastece 40% da Europa, e também perder o petróleo russo, porque isso vai desregular o mercado. Mas se isso vier a acontecer será catastrófico, devido à grande escala que isso afetaria?, fala.
Ainda de acordo com Landulfo, havendo qualquer impasse, ou a guerra perdurando, é possível que o preço do barril de petróleo no mercado internacional chegue a US$ 170. E o litro da gasolina, no Brasil, a até R$ 15, ??a depender das oscilações?.
Se o cenário é ruim em boa parte do mundo, a situação na Bahia é um ??pouco mais aguda no reflexo dos aumentos?, diz o secretário executivo do Sindicombustíveis na Bahia, Marcelo Travassos. Ele explica que, depois da privatização da Refinaria Landulfo Alves, adquirida pelo grupo árabe Mubadala Capital, que a rebatizou de Mataripe, os preços dos combustíveis tiveram altas consecutivas. ??Só em janeiro foram três aumentos seguidos, nos dias 1º, 15 e 22. Em fevereiro, um novo começou a ser praticado no dia 5?.
Com relação aos reajustes da semana passada anunciados pela Petrobras, a Acelen, que controla Mataripe, divulgou que já vigora uma redução dos preços dos combustíveis vendidos pela refinaria baseada no congelamento do ICMS no estado, mas que os valores praticados pela empresa ??seguem critérios de mercado?, que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete.
??Nos últimos dez dias, com o agravamento da crise gerada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço internacional do barril de petróleo disparou, superando os US$ 115 por barril, o que gerou impacto direto nos custos de produção?.
De acordo com Travassos, os sucessivos aumentos fazem a Bahia despontar como o segundo estado com a gasolina mais cara do Brasil. Ele explica que, para o mercado interno, isso gera duas consequências, o aumento direto de produtos e serviços, e o impacto na composição de índices, como o IPCA, que mede a inflação.
??Eu costumo dizer que, na agroindústria, quem planta com diesel, colhe com diesel e transporta com diesel, encarecendo preços em cadeia. No caso da gasolina, utilizado mais no ambiente urbano, impacta nos valores de serviços. O prestador de serviço, o médico, fisioterapeuta, técnico de tevê, geladeira, que utiliza transporte próprio para se deslocar à casa do cliente, para um atendimento, realizar um orçamento, ele vai reavaliar os preços, porque a alta do combustível está impactando no seu custo de vida?.
Gasolina em dólar
Um dos frentistas ouvidos pela reportagem, disse que está ??faltando um pouco de consciência? entre alguns motoristas. ??O pessoal está vendo que o preço está lá em cima, e continua enchendo o tanque. Você só vê as ruas cheias (de carros). Por isso também o preço não baixa?, falou.
Motorista de aplicativo há quatro anos, Márcio Gonçalves, 40, ressalta que a alta dos preços dos combustíveis pegou em cheio a categoria. Mesmo utilizando GNV, já na casa de R$ 4, ele diz que precisa abastecer ao menos R$ 40 com gasolina por dia, exigência para funcionamento do motor movido à gás natural.
??Tá muito puxado, o gás custava até pouco tempo R$ 2,50. Nem era para ele acompanhar a alta da gasolina. Daí tem as taxas (cobradas pelo aplicativo) que permanecem inalteradas diante do preço do combustível?, diz Gonçalves, que chega a rodar oito horas por dia.
Motorista de app, Márcio reclama dos altos preços
| Foto: Shirley Stolze | Ag A TARDE
Trabalhando na área de logística como motoentrega, José Pereira Souza, 58, diz que o vale-combustível semanal no valor de R$ 70 que recebia da firma foi cortado, e que agora é cada um por si. ??Não aguentaram a fatura mensal de até R$ 15 mil com combustível. A gasolina no Brasil não podia ser cotada em dólar. O preço está exorbitante, e puxando todo o resto para cima (custo de vida)?.
Marcelo Travassos explica que a paridade do preço da gasolina com o dólar não é uma exclusividade do Brasil. ??Toda grande empresa de petróleo trabalha com precificação baseada no mercado internacional desde muito tempo, como no governo FHC (Fernando Henrique Cardoso), por exemplo. O objetivo é fazer frente a investimentos dessas empresas, como por exemplo no pré-sal?.
??Depois houve um afastamento dessa política nos governos do PT, que usaram uma colocação mais social da empresa. E esse posicionamento foi alterado já na gestão (Michel) Temer, que com conselheiros mais liberais, reformulou a prática de precificação para baseada em dois critérios: preço do barril nas bolsas de valores de Nova Iorque e Londres, e na cotação do dólar americano no Brasil.
Comentários Facebook