A Sandra de antes não tinha tempo. Vivia estressada, dormia pouco ou quase nada, não se alimentava bem. Mergulhada no trabalho, não existia pausa. Acredite, até amava o que fazia. Mas o que era mesmo o significado de parar? Ela só descobriu quando ficou entre a vida e a morte por conta de problemas de saúde causados por estresse.
Levada às pressas para o hospital, Sandra entrou em coma e ficou internada na UTI. As chances de sobreviver eram mínimas. “Quando tentaram reparar a hemorragia, eu aspirei meu próprio sangue e quase me afoguei. Meu pulmão estava lotado dele. Quando se fala em experiência de quase morte, já se imagina que alguém conseguiu ter uma lembrança daquele momento de inconsciência e eu tive o meu, com direito a túnel e luz cor-de-rosa???, recorda.
Baiana, administradora de empresas, pós-graduada em Neuropsicologia e Chief Happiness Officer certificada pela Florida International University. Sandra Teschner é também fundadora do Instituto Happiness do Brasil, um centro de estudos e projetos de Felicidade Intencional, que, há quase uma década, já impactou mais de 500 mil pessoas nos últimos dois anos. Nessa trajetória, ela vem somando participações em grandes eventos internacionais como World Happiness Summit (Miami) e Wellbeing 360 (Tecmilenio México) e mais consultorias de Gestão da Felicidade em empresas, entre elas o Grupo Centre Norte (SP), Picadilly Calçados, Sebrae, Morumbi Shopping, Grupo AD Shoppings e a Avatim.
Sandra voltou do coma dois dias após ser internada decidida a entender, ou melhor, a aprender a ser feliz. E espalhar felicidade também. A meta é, até o final de 2022 fazer um milhão de pessoas felizes. ???Eu só pensava em mudar tudo o que podia mudar, aceitar tudo o que não podia mudar e, principalmente, saber diferenciar as duas situações. Dá para aprender a ser feliz intencionalmente???.
E se alguém está se perguntando agora: é possível ser feliz diante de tantas perdas que a pandemia trouxe? A resposta é sim. E ela garante, tem até receita. Veja na entrevista:
A felicidade é mesmo o caminho ou o destino? Afinal, o que é felicidade?
A felicidade é um estilo de vida, uma ciência, uma decisão. Ela é o caminho e não a chegada, porque se fosse o destino, quando você estivesse lá, já teria acabado. Logo viria o próximo desejo e estaríamos sempre em débito. Por isso, sim, a felicidade é o caminho. Você pode achar, por exemplo, que não é capaz de ter uma planta, mas se começar a cuidar de uma suculenta e vê-la crescer, já vai se sentir mais feliz por estar fazendo isso.
O que nos torna pessoas felizes?
Entre os pilares da felicidade estão a conectividade, ou seja, como eu me relaciono e a qualidade disso. Identificar a toxidade das relações, quando eu sou tóxico para outras pessoas e buscar estar envolto daqueles que nos fazem vivenciar o melhor de nós.
O segundo pilar é ter uma vida pautada em significado. Disso vai desde o seu propósito, a agir pelas razões certas, a ser alguém que se doa, a ter atitudes proativas. Não só reclamar, mas o que você faz em relação a tudo isso? E, o terceiro são as emoções positivas.
Dar boas risadas, o cheiro do café que você gosta, um bilhetinho que alguém querido deixou. Contemplar o fato de acordar e estar vivendo mais um dia. Temos aí um tripé fundamental dessa felicidade com um efeito exponencial.
Como ‘plantar felicidade’ e o que isso pode trazer para si mesmo, para o outro e para o mundo?
Toda felicidade é uma decisão interna, mas ela só acontece em coletividade. O que isso significa? Ninguém é feliz sozinho, nem individualmente. Esta não é uma forma possível de alguém se sentir verdadeiramente feliz. Então, quem é feliz, propaga. Ele é um agente multiplicador. Promove contágio feliz. Então, a gente planta, colhe felicidade e vê um resultado dela no outro.
Entre fazer o que gosta ou tentar aprender a gostar do que faz, como o trabalho pode nos tornar infelizes?
O trabalho nos torna infelizes quando faltam emoções positivas, a conectividade social e o significado. Aquilo que você faz te dá prazer? O local onde você trabalha é um fator estressor? Se a gente não consegue responder essas perguntas de uma maneira positiva ou provocar uma mudança dentro desse ambiente de trabalho, ninguém nunca vai gostar do que está fazendo. Mas é necessário mapear isso.
Você presta consultorias a grandes empresas em que defende a ???Gestão da Felicidade???. Por que ela deve ser uma preocupação das organizações?
A educação emocional começa a ter um peso muito grande. A pessoa feliz é mais criativa, logo, ela encontra soluções para problemas com maior facilidade. Ela se relaciona melhor com as pessoas, tem um grau de imunidade maior, adoece menos. Logo, ela falta menos nas empresas, se conecta melhor com os outros e se torna um fator motivacional. Ou seja, as vantagens de uma pessoa intencionalmente feliz, educada emocionalmente para ser feliz, são inúmeros, trazem resultado e impactam muito em produtividade.
E de que maneira, a gente pode ser feliz com nossas próprias experiências?
Eu faço um trabalho social como madrinha de crianças e jovens com múltiplas amputações, doenças graves raríssimas. Vou contar uma história muito real. Aos 11 anos, Jessyca perdeu todos os membros, em decorrência de uma meningite meningocócica, além de parte da audição. Ela ouviu dos médicos que não sobreviveria.
Não tem como Jessyca ser feliz se ela exigir da vida que continue tendo as mesmas pernas e os mesmos braços. Mas, é possível Jessyca ser feliz como ela é hoje. Jessyca Oliveira, a Jessyborg (@jessyborg.oficial), é paratleta, escritora, palestrante.
Hoje, aos 17 anos, ela nada, faz surf adaptado, corre com as próteses e está pré-classificada para as Olimpíadas de Paris 2024. Tudo é com muita luta, com muita dificuldade, mas é uma escolha.
E na hora que você faz uma escolha e começa a se alegrar a partir disso – e não com todas as perdas que teve – é que começa a ressignificar os seus dias.
Como a ciência vem contribuindo para entender qual é o caminho da felicidade?
Primeiro, desconstruindo o mito de que felicidade é um dom. Quando a pessoa fala que felicidade, a pessoa nasce com ela ou não, eu costumo dizer que isso é uma meia verdade: 50% é um dom. O restante, 10% é circunstancial e 40%, aprendível. Que atitudes, hábitos, como coloco isso no meu dia a dia, quais são as formas de comportamento que eu preciso mudar, transformar para conseguir. ?? uma decisão interna: eu preciso me sentir bem.
Vivemos um momento de restrições, distanciamento, luto e perdas. O sorriso está escondido atrás da máscara. Como a pandemia reconfigurou o que as pessoas definem como felicidade?
Durante a pandemia, também perdi minha mãe. Foi difícil? Foi dificílimo. Felicidade é sobre como diante das dificuldades, vamos seguir. Chorei, ainda choro e vou passar a vida sentindo falta dela. Porém, eu procuro fazer do meu luto algo melhor para os outros, o que eu trago da experiência de minha mãe, como eu honro a vida que teve.
Grande parte das mudanças que nos provocam aconteceram durante a dor. A grande diferença é que pessoas felizes ficam tristes, mas não ficam lá. A gente precisa entender que durante a pandemia, houve perdas sim.
Eu não consigo mudar a história da pandemia, mas consigo mudar como sou atuante a partir dela, o que me tornei? De que maneira colaborei, contribui para um tempo melhor, para as pessoas?
Então, felicidade se aprende?
Antes, eu não sabia que ser feliz tem a ver com ter o coração em paz e conter um ciclo vicioso e negativo de sensações. Eu nem sabia que existia uma ciência que dizia que o seu bem-estar é duradouro, a sua felicidade também, ainda que vivencie momentos difíceis, de tristeza, desconfortáveis, negativos.
Não tenho como transferir felicidade, mas como contagiar pessoas no caminho positivo. Estudei felicidade, corri atrás para entendê-la e isso fez toda diferença de como seria minha visão a partir dali, mas, de que maneira eu atuaria como um todo. Começando por mim mesmo, minha família, vizinhos, cidadã, no trabalho, como pessoa em rede social, na vida. E sim, a felicidade é passível de ser aprendida.
GUIA PRÁTICO DA FELICIDADE
. A felicidade é sempre encontrada no lado positivo
Ser feliz é um estilo de vida, uma decisão que tomamos. Quem é você nesse cenário e que mudanças está apto a fazer?
. ?? na jornada do dia a dia que vivem as pessoas felizes
A felicidade não está em lugar nenhum, é uma construção. ?? no abraço, nas relações pessoais positivas, nas memórias afetivas, na leveza possível nos nossos dias que reside o ser feliz.
. Não é facilidade é felicidade
Comece escolhendo ser feliz, lembrando que não há caminho fácil fora da zona de conforto. O que te faz feliz? Se não tem uma resposta pronta, pare pense e anote. Leia, releia em voz alta para aquela pessoa que te conhece bem, risque, rabisque, mude de ideia.
. Contra-ataque a dor
Emoções negativas reduzem a visão do mundo, fazendo com que não encontremos a saída para o que nos ameaça. Consciente disso, neutralize-as.
. Provoque emoções positivas e todas as ???inas???
Serotonina, ocitocina, endorfina, dopamina. Estudos contemporâneos mostram que sorrir, admirar (alguém ou alguma coisa), contemplar, brincar, provocam sentimentos harmônicos.
. Seja grato
E isso não tem nada a ver com a hastag #gratidão. ?? ser grato de forma genuína: agradecimento pelo outro, por quem nos faz bem, nos ajuda e nos faz sorrir.
. Solidariedade e felicidade
Ajudar quem está a sua volta parece utópico, mas não é. O maior beneficiado pelas suas ações do bem é você mesmo. Este é um dado unanime na ciência contemporânea.
Fonte: Trechos de A Receita da Felicidade, de Sandra Teschner, no Projeto Plantando Happiness.
DIA MUNDIAL
Até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a importância da felicidade para o mundo e as pessoas quando escolheu em 2012, o 20 de março como Dia Internacional da Felicidade.
OS BRASILEIROS S??O FELIZES?
No Relatório Mundial da Felicidade 2021 feito pelo Gallup Word Poll, pelo quarto ano consecutivo, a Finlândia ocupou o primeiro lugar na lista dos países mais felizes do mundo. Em seguida vem a Islândia e a Dinamarca. O Brasil nem chegou a entrar no top 20 do ranking. Já na avaliação por cidade, São Paulo foi a única que apareceu no estudo. Entre os 186 municípios do recorte, a capital paulista ficou na 53º posição.
QUEM ??
Sandra Teschner é administradora de empresas, pós-graduada em Neuropsicologia e Chief Happiness Officer certificada pela Florida International University. Sandra também é fundadora do Instituto Happiness do Brasil, um centro de estudos e projetos de Felicidade Intencional. Autora do livro Jessyborg: Desista de Desistir (Profashional Editora, 2020, R$ 35), Sandra é palestrante e já prestou consultoria em Gestão da Felicidade nas organizações para empresas como o Grupo Centre Norte (SP), Picadilly Calçados, Sebrae, Morumbi Shopping, Grupo AD Shoppings e Avatim.
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