Mirla Riomar lança 1º álbum com participação de Letieres Leite

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Diretamente de Barcelona, vestida com uma blusa de mangas longas, calça e cachecol, a cantora baiana Mirla Riomar fala sobre a saudade de Salvador. Não só do verão que só a cidade sabe fazer, mas também da energia calorosa dos baianos.
Há seis anos morando na capital da Catalunha, a artista reuniu o saudosismo, a inspiração e a identidade em Afrobrasileira, seu primeiro álbum, lançado em fevereiro.
Composto por nove canções autorais, o disco traz a construção musical de Mirla no ritmo da percussão.
Tem a mistura com o samba de roda no título Sem Eira Nem Beira, um pouco do pagode baiano na canção Maria do Cais e do baião em Mulheres da Minha Terra, uma das composições mais recentes. 
??Foi a última música que escrevi antes do álbum e não podia pensar em outro nome, porque ele fala de mim, de quem eu sou, da minha ancestralidade, e sou eu, afrobrasileira, e não tinha como não ter um baião?, afirma a cantora, que contou com a participação do harmonicista (gaitista) e produtor musical brasileiro Gabriel Grossi. 
A penúltima canção escrita e que também não esconde as raízes de Mirla é Iworò. A música abre o álbum com os toques do candomblé e das religiões de matriz africana para falar sobre o orixá da artista. Contando com a participação do saudoso maestro baiano Letieres Leite, Iworò é, nas palavras da compositora, a essência do Afrobrasileira.
??Eu tive a oportunidade de conhecer ele aqui em Barcelona, Letieres fez uma  participação no meu show, e poder cantar do lado dele, inspirando toda essa energia, é como um ancestral mesmo do meu lado, foi uma experiência muito forte. Ele sempre foi uma inspiração muito grande, é a referência da música afrobrasileira?, diz. 
Do sonho à realidade
As outras sete músicas, no entanto, têm uma longa trajetória. Mirla começou a compor quando ainda era criança e guardava tudo o que escrevia, mantendo o sonho de um dia ouvir suas canções em todos os lugares.
Hoje, Afrobrasileira está disponível em todos os perfis da cantora nas plataformas de música, com composições que fez aos 12 anos. 
Nesta idade, a baiana, nascida e criada no Bairro da Paz, participava de projetos sociais da comunidade relacionados à música.
Um deles foi o do líder comunitário Sidney Argôlo, que ensinava percussão às crianças dentro da própria casa. Além disso, cresceu ouvindo, através do pai, muita MPB, como Gilberto Gil, Batatinha, Caetano Veloso e Os Tincoãs. 
Junto a eles, as maiores influências musicais de Mirla são Virgínia Rodrigues, Margareth Menezes, Mateus Aleluia (Os Tincoãs) e Dorival Caymmi.
Para ela, Margareth e Virgínia também são referências na personalidade, na força e na busca pela ocupação dos lugares, o que a fez caminhar até aqui.
Antes de se dedicar integralmente à música, entre os 23 e 24 anos, a cantora estudou e passou a trabalhar na área da eletromecânica. 
??Muito por causa dessa dificuldade que é viver de arte, viver de música, ainda mais quando a gente é de uma família que passa por dificuldades econômicas. O tempo passou e quando consegui uma situação mais estável financeiramente, me mudei pro centro da cidade, fiquei mais próxima dessa cena musical. Nos finais de semana cantava, tocava, e  durante a semana trabalhava?, relembra.
A essência é baiana
A ida para Barcelona, em 2016, era apenas para conhecer a família do companheiro, Marcel Valles, que trabalha com Mirla no arranjo e produção musical. Lá, percebeu ser mais fácil em relação à ocupação musical. Segundo a cantora, o som brasileiro tem uma boa procura e receptividade nas terras espanholas, onde já se deparou com campeonato de forró, samba e rodas de capoeira. 
A voz do Afrobrasileira reconhece Barcelona como uma cidade cosmopolita, e estar cercada de artistas do mundo inteiro é uma troca de aprendizados.
??Quer você queira ou não, acaba sendo influenciado e influenciando os outros, porque quando você vai tocar com um percussionista baiano, ele tem um conceito, e quando precisa tocar com um cubano, é diferente, cada um aporta uma energia, e com isso a gente vai escutando e absorvendo, e sofre essa mudança?, compreende Mirla, que não deixou de trazer o contato com novos gêneros no álbum.
??A essência é da Bahia, de dentro do meu coração, mas também de coisas que vivi aqui, porque quando cheguei já tinha muita influência da música afro brasileira, e aqui me envolvi com jazz,  soul e blues, então queira ou não, influencia, o disco tem essa linguagem, tem eletrônico e outros ritmos que lembram, mas no fundo é a Bahia, o Nordeste, o Brasil?, conclui Riomar. 
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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