Juros sobem para 12,75% e país lidera ranking mundial

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O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu elevar a taxa básica da economia (Selic) em mais um ponto percentual, para 12,75% ao ano, maior patamar desde abril de 2017. Com isso, o Copom efetua a décima alta consecutiva nos juros desde março de 2021, quando a Selic estava no piso histórico de 2% ao ano. A decisão foi unânime e veio em linha com a expectativa do mercado. O Copom sinalizou que mantém a estratégia de aperto monetário no território contracionista, mas que, na próxima reunião, em junho, fará um ajuste de ???menor magnitude???.

 

???O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista???, informou a nota. ???O Comitê enfatiza que vai perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude???, acrescentou o comunicado.

 

No comunicado, o Copom destaca que o ambiente externo seguiu se deteriorando. ???As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de COVID-19 na China e da guerra na Ucrânia???, diz a ata da reunião do Copom. ???A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes???, acrescentou o comunicado. Ontem, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, anunciou a elevação da taxa básica da economia norte- americana em 0,5 ponto percentual, com a taxa subindo para o patamar entre 0,75% e 1%.

 

Maior juro
no mundo

 

Com a nova taxa básica, subtraindo a inflação projetada para os próximos 12 meses, o juro real do Brasil passa para 6,69% ao ano, de acordo com levantamento da Infinity Asset Management divulgado ontem. Com isso, o Brasil passou a liderar o ranking das maiores taxas de juros reais ??? descontada a inflação ???  do mundo. Em março, quando a taxa Selic passou para 11,75%, o Brasil estava em segundo lugar no ranking de 40 países elaborado pelo economista-chefe da Infinity, Jason Vieira. A Rússia estava em primeiro naquela listagem e, na atual, ficou em sexto lugar, com taxa de juro real de 1,36% ao ano.

 

A média de juros reais é negativa, de 1,73%. No segundo lugar da listagem ficou a Colômbia, com juro real anual de 3,86%. Em terceiro, o México, com juros anuais de 3,59%, descontada a inflação. Na lanterna ficou a Argentina, com juros reais negativos de 10,30% ao ano.

 

Para o economista Rob Correa, analista de investimentos e autor do livro ???Guia do investidor de sucesso no longo prazo???, ???os impactos eonômicos do conflito russo-ucraniano, associados a uma pressão inflacionária recorde sobre alimentos e energia, tensões a respeito do ciclo monetário brasileiro passaram a ganhar força??? e com a tendência inflacionária pressionada pelos combustíveis e alimentos, a pressão sobre a próxima reunião do Copom será maior. ???Na minha avaliação, a piora do cenário brasileiro nos primeiros meses de 2022 são indicativos de um ajuste mais expressivo da Selic ao longo do tempo???, disse o economista

 

 

Para Marcelo Oliveira, fundador da Quantzed, a decisão do Copom veio conforme o esperado. ???Acredito que o comunicado foi positivo e não provoca grandes impactos nem sustos, pois o aumento já estava precificado???, disse o fundador da empresa de tecnologia e educação financeira. Para ele, embora se espere uma nova alta de 0,5 ponto percentual na Selic, a mensagem da reunião do BC deixou a palavra ???provável???, o que, para ele, ???dá um benefício de dúvida de não fazer essa próxima alta???.

 

Exagero A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou equivocada e excessiva a decisão do Copom de manter o ritmo de aumento da Selic em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, maior patamar desde abril de 2017. ???Desde março de 2021, a taxa básica de juros tem sido elevada pela autoridade monetária, acumulando mais de 10 pontos percentuais no período. Para a CNI, a taxa anterior, de 11,75%, já era suficiente para garantir uma trajetória de queda da inflação nos próximos meses, uma vez que a alta leva tempo para restringir a atividade e, consequentemente, segurar a alta dos preços???, destacou a entidade em comunicado após o anúncio da decisão do Copom.

 

???Este novo aumento da taxa de juros deve comprometer ainda mais a atividade econômica, que já dá claros sinais de fraqueza. Para a indústria, a intensificação do ritmo de aperto da política monetária piora as expectativas para o crescimento econômico em 2022, com efeitos adversos sobre a produção, o consumo e o emprego???, disse o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, na nota. A entidade informou ainda que os dados de atividade econômica do Banco Central, medidos pelo IBC-Br, em fevereiro, estava 0,4% abaixo do índice de dezembro de 2021, ???apontando estagnação da economia???.

 

Para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), ???o nível de desemprego e os riscos de recessão são potencializados diante do ritmo e da intensidade das altas dos juros no Brasil. ?? fato que a economia brasileira convive com uma doença antiga, a inflação, mas o tratamento não pode ameaçar a vida do paciente, tal como está ocorrendo???. Em nota divulgada ontem, a entidade considera que mesmo com a elevação da taxa de juros desde março de 2021 a expectativa da inflação não recua e já se aproxima de 8%. ????? evidente que mudanças no cenário internacional têm agravado as pressões inflacionárias em todo o mundo, inclusive no Brasil, sobretudo nos preços de commodities???, diz a Fiemg no comunicado.

 

Mas para a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), a decisão do Copom é ???uma medida técnica e necessária para conter o processo inflacionário no país. Para o presidente da Abrainc, Luiz França, apesar do aumento nos juros, temos boas perspectivas para o setor. ???A taxa dos financiamentos imobiliários é atrelada à remuneração da poupança e a mesma não vai subir na mesma proporção que a Selic???, afirma o executivo. 

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