Brumadinho: tecnologia ajuda a combater estigma na produção de mexerica

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Fruticultores de mexerica, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão usando a tecnologia de rastreabilidade para derrubar o estigma de contaminação de seus produtos e ingressar em mercados mais potentes e rigorosos.  Após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em janeiro de 2019, produtores locais passaram a sofrer com o estigma de contaminação e tiveram retração significativa no escoamento da produção agrícola.
 
Com cerca de 970 hectares de lavouras de mexerica atualmente, Brumadinho chegou, na década de 90, à posição de principal produtor da fruta no estado, posição ocupada atualmente por Belo Vale. No ano passado, foram 5 mil toneladas. Este ano, apesar da expectativa de queda significativa na safra estadual devido a eventos climáticos, o município deve manter sua posição de liderança.
As frutas colhidas em Brumadinho levarão uma etiqueta com código de barras e QR Code. Os dois recursos oferecem informações detalhadas sobre o produto que está sendo comercializado. Os agricultores recebem ainda apoio nas áreas de licenciamento e documentação, manejo, comunicação, escoamento e comercialização
 
Os fruticultores contam com apoio de um programa de fomento à agricultura desenvolvido pela Vale com a empresa contratada NMC Projetos e Consultoria e que, desde 2020, atende 300 produtores rurais de Brumadinho e Mário Campos.
 
Durante o processo, os produtos passam por estudos de tecido vegetal. São realizados três tipos de análises e, mediante qualquer inconformidade, é feita a correção do manejo. A análise microbiológica indica se há micro-organismos. A química aponta se o tipo e a dosagem dos defensivos utilizados no plantio estão adequados. E a de metais pesados identifica qualquer indício de contaminação por esses materiais nas plantações. “Foram realizadas 309 análises desde o início do programa e, nunca foi encontrado nenhum vestígio de metais pesados nos produtos agrícolas de Brumadinho”, afirma o gestor do Programa, Ivan Bosio.
 
De acordo com o técnico, além de atendimento à legislação, a iniciativa da rastreabilidade veio  oferecer mais confiança ao consumidor. “A rastreabilidade funciona como um selo de garantia de qualidade. Por meio do QR Code é possível ter informações detalhadas sobre o produto que está sendo comercializado, como origem, produtor responsável, data do plantio e da colheita”, detalha.
 

Busca de confiança dos consumidores 

 
“Com a rastreabilidade, transmitimos mais confiança para quem está comprando”, explica Marcelo Gustavo de Oliveira, que, com o pai, é responsável pela gestão da maior fazenda de mexerica do município. São 35 mil pés da fruta espalhados por 70 hectares de terra e uma produção média anual de mil toneladas. Recentemente, a propriedade concluiu o processo de rastreabilidade de seus produtos.
 
Segundo Ivan Bosio, o produto rastreado gera benefícios tanto para o comprador como para o produtor. “Por um lado, a tecnologia garante ao consumidor final transparência em relação ao que está sendo consumido. Por outro, incentiva o produtor a seguir as melhores práticas de cultivo e facilita sua entrada nos mercados mais exigentes”. A expectativa, revela, é que até o fim do ano, todos os agricultores de produtores vegetais apoiados pelo Programa tenham concluído a implantação da rastreabilidade.
 
João Carlos Monteiro Maciel é produtor agrícola há mais de 27 anos. Começou plantando bucha vegetal, agora tem a mexerica e a lichia como principais cultivos. Ele conta que, em 2019, perdeu praticamente todos os mercados com os quais comercializava. “As pessoas simplesmente assumiram que tudo o que era produzido aqui estava contaminado”, lembra. João Carlos defende que a rastreabilidade é um importante aliado do produtor rural. “Tem mercado que só compra assim.”
 

Diversificação da produção 

 
Os agricultores locais estão apostando na diversificação do cultivo como forma de garantir seu sustento e ampliar a renda. “Os produtores normalmente já chegam com uma ideia. Nós estudamos a viabilidade daquilo de acordo com as características da propriedade e o perfil do produtor, fazemos um estudo de mercado e orientamos todo o processo de migração para o novo cultivo. Ter um plano B é muito importante na agricultura”, explica Bosio.
 
João Carlos Maciel já se prepara para o retorno ao cultivo da bucha vegetal. “O mercado está muito bom e serei o único do município a oferecer esse produto”. Já Marcelo Gustavo de Oliveira aposta no milho e no abacate como alternativas à mexerica. “Não podemos depender somente de um produto. Se diversificamos a produção, garantimos outra fonte de renda caso haja algum problema com a safra principal”, justifica.
 
A expectativa é de que a produção de tangerina em Minas Gerais, que tem a ponkan como a variedade mais cultivada, seja de 250 mil toneladas, quase 12% a menos que em 2021, devido a variações climáticas.

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