Sempre à disposição dos caminhoneiros que precisam de mão de obra, os chapas não entraram na PEC de Benefícios, que concede auxílio de R$ 1 mil por mês aos motoristas de cargas pesadas a partir de agosto. Aprovada recentemente, a proposta, também apelidada de PEC Kamikaze, tem gerado grande debate e sido descrita como ???eleitoreira???, uma vez que amplia programas sociais do governo de Jair Bolsonaro (PL) em pleno ano de eleições.
Na profissão há 11 anos, ele diz que já tem seus macetes para garantir o sustento da família. ???Sempre que preciso já durmo por aqui. Se fosse voltar pra casa, nem ia dormir e já teria que vir pra cá de novo. Já tenho um local onde eu guardo o colchão e as minhas coisas???, relata. Segundo ele, além da incerteza do serviço, sua renda foi duramente impactada desde o início da pandemia de COVID-19 no Brasil. ???O mercado enfraqueceu muito. Muita gente deixou de comprar. Se a população não compra, não tem transporte. Nosso serviço autônomo caiu 50% do que era antes da pandemia???, revela.
Para ele, que é o único responsável pelas despesas da família, ser incluído na PEC de Benefícios traria um grande alívio para o bolso. ???Somos só eu e a minha esposa, mas as contas ainda ficam muito puxadas. Hoje, uma compra para nós dois fica na faixa dos R$ 400, sem contar água, luz, é muita coisa. O auxílio pagaria quase uma prestação da minha casa, ia me ajudar muito???, revela ele, que conseguiu comprar o imóvel pelo programa de habitação social Casa Verde Amarela, antigo ???Minha Casa, Minha Vida???.
Ele pega serviço às 7h, mas, muitas vezes, não tem hora para parar. ???A situação aqui todo dia é essa. Não tem hora de ir embora???, conta. Até o início desse mês, ele também era o único responsável pelo orçamento familiar.
???Minha esposa estava desempregada, mas conseguiu um emprego agora???, conta. Ainda assim, ele diz que qualquer valor de auxílio do governo já ajudaria nas despesas de casa. ???A compra que eu fazia de R$ 500 no mês agora é R$ 700, e olha que somos só eu, minha esposa e nossa filha. O aumento do salário não é repassado de acordo com aumento das despesas no nosso dia a dia???, avalia.
Dirigindo 12 horas diárias, sem folgar nem um dia da semana, nem mesmo aos domingos ou feriados, o motorista por aplicativo Anderson Ferreira, de 40, diz que as condições de trabalho estão cada vez mais precárias. ???Começo por volta das 5h30. Tem hora que a gente fica muito tempo parado, e quando chama é uma viagem ruim. Estamos praticamente pagando para trabalhar. Imagina você rodar três quilômetros e receber só R$ ? Isso sem contar que ainda tem o deslocamento até o passageiro para depois seguir viagem até o destino dele???, pontua.
???Eu acho que tinha que ser igual. O mesmo direito que eles têm seria bom pra gente também. Estamos nas ruas da mesma forma que os taxistas???, reivindica. Ele lembra, ainda, que o preço do combustível está inviabilizando a profissão. ???Com a gasolina oscilando de preço o tempo todo está muito difícil rodar. No mês de férias, então, o movimento vai lá embaixo e as corridas não estão com valores atrativos???, comenta.
Ele ainda ressalta os gastos com manutenção veicular e registros só para conseguir trabalhar. ???Tem um monte de coisa que a gente corre atrás, renovar carteira, placa vermelho, manutenção da moto, que desgasta bastante com o uso diário???, afirma. Para ele, o auxílio do governo deveria ser estendido a todas as categorias de trabalhadores informais. ???Nós também somos autônomos, igual o taxista e o caminhoneiro. Entendemos que eles realmente merecem, mas nós também. Não tem por que ficarmos de fora dessa???, reclama o motoboy.
Ciclistas ouvidos pela reportagem do Estado de Minas relatam fazer jornadas de mais de 12 horas diárias, muitas vezes sem folgas. ???A gente é novo, mas também temos que ajudar em casa???, conta o entregador de bicicleta Carlos Eduardo Soares, de 18. Trabalhando há seis meses com entregas, ele costuma pedalar cerca de 60 quilômetros por dia, o que equivale a três vezes a distância entre Belo Horizonte e Contagem. ???Moro com meus pais, ajudo a pagar as necessidades básicas, conta de luz, água. Ter o auxílio iria ajudar muito???, comenta.
Com uma expressão cansada, ele diz se sentir muito desvalorizado, até mesmo pelos passageiros que faltam com educação e respeito nas viagens. ???Não é fácil???, afirma. As condições financeiras da profissão também não são as melhores. ???Seria bom ter auxílio. Mesmo que a gente esteja fichado, as despesas de casa estão muito caras. Nós temos conta, aluguel, condomínio. Qualquer valor ajuda???, complementa Wantuil Machado Martins, de 39, também na profissão há mais de uma década.
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