O incentivo à produção de uma fruta exótica, com alto valor no mercado ??? e, por isso, normalmente consumida por pessoas de elevado poder aquisitivo ???, até poucos anos desconhecida no lugar, é a aposta para movimentar a economia e melhorar as condições de vida em Couto de Magalhães de Minas, de 4,43 mil habitantes, município de baixa renda do Vale do Jequitinhonha, na região de Diamantina. Trata-se da pitaia, espécie de cacto, também conhecida como fruta-do-dragão , oriunda da América Central.
O estímulo ao cultivo da planta está inserido numa série de ações voltadas para o fortalecimento do empreendedorismo social e no aproveitamento dos arranjos produtivos locais como forma de gerar renda e emprego para a população, implementadas pela Prefeitura de Couto de Magalhães de Minas, que tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,659.
O IDH é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O índice varia em uma escala que vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano.
Como resultado das iniciativas voltadas para geração de renda, Couto de Magalhães de Minas foi vencedora da etapa estadual do 11º Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor (PSPE), cuja cerimônia de premiação ocorreu em 29 de abril. O município foi o ganhador do prêmio na categoria Sala do Empreendedor.
O prefeito de Couto de Magalhães de Minas, José Eduardo Rabelo (Podemos), afirma que seu objetivo é que, a partir do incentivo ao plantio da cultura, a pitaia venha a se transformar em referência de geração de renda no município, em condição semelhante ao plantio do morango na vizinha Datas (5,4 mil habitantes), na mesma região. ???Acreditamos que a pitaia será o ouro de Couto de Magalhães, igual o morango é hoje para Datas???, afirma Rabelo.
Ele explica que a ideia da produção da pitaia surgiu a partir da constatação de que a planta exótica se adapta muito bem ao clima da região. Essa ???descoberta’ foi feita a partir dos resultados promissores de um experimento da cultura, realizado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), sediada em Diamantina (35 quilômetros de Couto de Magalhães). O plantio experimental foi iniciado há quase 10 anos em uma área de 100 hectares da Escola Estadual Jerônimo Pontelo, de vocação agrícola, instalada em terreno que sediava uma unidade da antiga Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem), na zona rural do município, às margens da BR-367.
Leia também: Projeto fortalece presença da fruta do Norte de Minas no mercado nacional
A partir dos resultados positivos do experimento feito pela UFVJM, a pitaia começou a ser plantada pelos moradores em seus quintais e pequenas áreas em sítios. Até agora, de acordo com informações da Prefeitura de Couto de Magalhães de Minas, o cultivo da espécie exótica foi feito por cerca de 30 famílias da cidade.
???Hoje, as famílias plantam a pitaia em pequena escala. Mas nosso objetivo é estimular a produção em larga escala, pois temos condições e clima favoráveis???, afirma o prefeito José Eduardo. Segundo ele, a meta é que dentro de pouco tempo a fruta-do-dragão venha a ser produzida por mais de 100 famílias no município.
Distribuição
Para transformar a pitaia no ???ouro de Couto de Magalhães de Minas???, anuncia José Eduardo, além de distribuir mudas da espécie, a prefeitura vai oferecer meios para facilitar a comercialização da fruta exótica. Para isso, pretende disponibilizar o transporte gratuito para os produtores até a CeasaMinas, em Contagem, na Grande BH.
O objetivo é viabilizar o acesso ao mercado consumidor e elevar o valor do produto. Nesse sentido, o prefeito de Couto de Magalhães de Minas lembra que, hoje, o quilo da pitaia é vendido no município pelo preço médio de R$ 10, muito aquém do valor aplicado em outras cidades, onde o valor pode chegar a R$ 30 o quilo.
A prefeitura busca parceria para incrementar o plantio da fruta e captar recursos para escoar o produto e já contactou a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) e a Companhia de Desenvovolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
Apoio
Para dinamizar a cultura na região, a Prefeitura de Couto de Magalhães de Minas solicitou apoio também à Associação dos Produtores de Pitaias do Brasil (Appibras). A entidade, sediada em Redenção, no Pará, deu resposta positiva.
Na correspondência enviada à Appibras, a Prefeitura de Couto de Magalhães de Minas lembra que a fazenda experimental da UFVJM no município já tem viveiros e pesquisas sobre a planta com ???resultados bastante promissores???.
Informa também que foi pedido à presidência da Codevasf ???recursos para apoio à disseminação e fomento da produção de 50 hectares na região, o que permitirá um volume adequado para acesso ao mercado???.
A prefeitura destaca que a iniciativa visa à promoção de trabalho e renda para os agricultores familiares e para a população urbana em situação de vulnerabilidade social.
Como resposta ao pedido de apoio, o presidente da Appibras, Afif Al Jawabri, se colocou à disposição para prestar o apoio necessário à prefeitura e aos produtores. Ele salientou que a entidade ???surgiu com o objetivo de fomentar, propagar e incentivar todos os produtores e interessados em produzir a pitaia em todo o território nacional, bem como, junto com sua diretoria técnica, fechar parcerias e, além disso, contribuir com conhecimento que venha agregar o entendimento de todo o ciclo produtivo da pitaia???.
Moradores começam a lucrar com o plantio
A economista Elbe Brandão Guimarães, que presta consultoria para a Prefeitura de Couto de Magalhães de Minas no fomento ao empreendedorismo no município, ressalta a importância do estímulo ao plantio da pitaia para elevar a renda e melhorar a vida da população local. ???Estamos vendo a pitaia hoje como uma oportunidade de geração de renda para a população de Couto de Magalhães, tanto rural como urbana???, afirma Elbe.
A consultora ressalta que já foi comprovado que o município tem clima favorável ao bom desempenho da espécie e os moradores têm a ???tradição??? de fazer plantios em seus quintais. ???Temos que levar em conta que a pitaia é uma fruta exótica com preço altíssimo no mercado???, observa a especialista.
A oportunidade de ganhar um dinheiro a mais com o plantio da fruta-do-dragão atraiu o interesse de moradores da pequena cidade do Vale do Jequitinhonha, como Maria da Conceição Meira Silva. Servidora pública, ela plantou cerca de 50 pés de pitaia no sítio da família, na localidade de Água Espalhada, a oito quilômetros da área urbana.
Ela informa que fez o plantio de pitaia há cinco anos. Colheu os primeiros frutos dois anos depois. Porém, relata, só conseguiu a colheita com quantidades suficientes para a comercialização a partir do quarto ano (2021) do plantio da pitaia, cuja safra, normalmente, ocorre entre os meses de outubro e maio, com mais de uma florada nesse período.
Neste ano, revela Maria Meira, ela vendeu mais de 100 quilos da pitaia. A comercialização foi feita pela própria família, por meio de WhatsApp, com entrega em domicílio, tendo como clientes moradores de Couto de Magalhães de Minas, por um valor que girou em torno de R$ 11 o quilo, bem inferior ao preço de mercado da fruta nos maiores centros consumidores.
A moradora diz não ter ideia de quanto faturou com a venda da produção. Porém, tem certeza de que a renda a mais obtida teve uma grande serventia. ???Com o dinheiro que juntamos (da venda da pitaia), compramos uma roçadeira para ser usada no sítio???.
Ela informa ainda que fez o plantio de três variedades da fruta- do-dragão ??? duas de tonalidades rosa/avermelhada e outra da cor branca. Neste ano, colheu frutas com 300 a 900 gramas. ???Quanto maior o tamanho da pitaia, a fruta torna-se mais doce e mais suculenta???, constata.
Outra moradora de Couto de Magalhães de Minas que se interessou pela fruta exótica é a dona de casa Darlene Conceição Pacheco. Ela afirma que fez um pequeno plantio de pitaia em seu quintal, iniciado há cinco anos, e vendeu os frutos das últimas duas safras ??? 2020/2021 e 2021/2022. Darlene disse que não tem noção exata da quantidade de frutas que comercializou.
???Neste ano, faturei pelo menos R$ 500. Esse dinheiro me ajudou muito a pagar contas de água e luz. Também serviu para as coisas que eu estava precisando???, declara Darlene. Como a conterrânea Maria Meira, ela afirma que vendeu a produção em Couto de Magalhães mesmo, por um preço mais em conta (R$ 12 o quilo).
???Mas, se levar a fruta para vender em outras cidades, a gente vai conseguir um preço muito melhor???, diz Darlene. ???Em Belo Horizonte, por exemplo, a pitaia é muito procurada???, cita a dona de casa.
A saborosa fruta- do-dragão
A pitaia é um fruto de espécie variada de cacto epífito que é conhecido, principalmente nos Estados Unidos, como fruta-do- dragão por conta do seu exterior escamado. Nativa da América Central e do México, a planta vem sendo cultivada em Israel, na China e no Brasil (mais comum na Região Nordeste).
A fruta tem sabor muito doce e agradável e vem sendo usada na fabricação de vinhos, sucos, doces e chás (com as suas folhas), além do sorvete, que tem um sabor atrativo e propriedades medicinais (ajuda a emagrecer e regula o funcionamento do intestino).
Pode ser cultivada em diversas altitudes, do nível do mar até acima de 1.000 metros, adaptando-se a lugares com temperatura média entre18°C a 26°C. Chuvas de 1.200 mm a 1.500mm ao ano são ideais para o bom desempenho da cultura, mas ela também se desenvolve em climas mais secos.
Comentários Facebook