Pré-candidata do PSTU ao governo de Minas critica recuperação fiscal

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A professora Vanessa Portugal, do PSTU, se prepara para disputar o governo mineiro pela terceira vez. Ela já concorreu nos pleitos de 2006 e 2010. Crítica de Romeu Zema, ela crê que o Novo, partido do governador e candidato à reeleição, é ??incentivador do aumento das opressões e da violência? contra mulheres, negros e integrantes da população LGBTQIA+. ??Não por dizer diretamente para violentar, mas porque, ao incentivar o preconceito, há incentivo indireto aos que estão na ponta, com menos capacidade de elaboração, de liberar a violência?, disse ontem, ao participar do ??EM Entrevista?, podcast de política do Estado de Minas. Para Vanessa, a eventual adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) proposto pelo governo federal vai gerar um “apagão social?. Na sexta-feira, mesmo sem autorização da Assembleia Legislativa, Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu que o Palácio Tiradentes siga os trâmites que podem culminar na entrada no plano de refinanciamento de dívida. ??Isso (o RRF) vai representar uma redução de investimentos na saúde, na educação e na habitação?, afirma a pré-candidata, defensora da estatização da mineração e da criação de parques industriais para diversificar a economia. Se o PSTU confirmar a escolha por uma chapa puro-sangue, o vice será Jordano Carvalho, metalúrgico e candidato da legenda ao Executivo estadual em 2018. A íntegra da entrevista com Vanessa está disponível no YouTube do Portal Uai. Leia, abaixo, os principais pontos:
Se a candidatura for confirmada na convenção do PSTU, será sua terceira vez na disputa pelo governo de Minas. O que a motiva a participar novamente do processo eleitoral?
As candidaturas do PSTU têm a ver com a apresentação de um programa que se diferencia do conjunto de alternativas colocadas no processo eleitoral. ? claro que queremos ganhar a opinião das pessoas para esse programa ?? e, quando entramos na eleição, entramos sabendo das dificuldades, mas para ganhar. Não porque quero ser eleita, mas por termos um conjunto de ideias e propostas à sociedade. Achamos importante que os trabalhadores e a juventude prestem atenção nisso, apoiem e se incorporem às ideias. Sou uma pessoa de movimento. Faço muitas greves e participo de ocupações de terras e manifestações. Estou em sala de aula há 30 anos, em escola pública. O fato de eu participar de certos movimentos me dá certa visibilidade. ? legítimo que eu represente essas ideias que defendemos no processo eleitoral. ? uma visão de mundo que discutimos em todos os espaços em que estamos.
A senhora disse que a pré-candidatura deste ano é mais ampla em relação às anteriores do PSTU. Não é possível se unir às pré-candidaturas de Psol e PCB? O campo mais à esquerda também tem outro partido: a Unidade Popular.
Houve um início de discussão, com todo o respeito à trajetória das organizações, mas não foi esse (aliança) o resultado do debate. O Psol, neste momento, tem opção clara de adesão ao programa apresentado pelo PT, mesmo tendo pré-candidatura própria no estado (Lorene Figueiredo). Esse é um dos pontos que vamos discutir na eleição: não existem debates puramente regionalizados. Os estados não se isolam da Federação. Com o PCB (a pré-candidata é Renata Regina) e a Unidade Popular não foi possível (se unir), porque há uma série de diferenças programáticas.
Como a senhora avalia a mineração no estado? 
A mineração no estado, hoje, é muito nefasta. Não defendemos parar ou acabar de vez com a mineração, mas o que ela traz de positivo? O percentual de impostos das mineradoras é baixíssimo e corresponde a aproximadamente 0,5% da receita do estado. Isso aumenta com o que se repassa às prefeituras, mas é muito baixo. A mineração traz tantos problemas sociais às cidades onde se instala que, dificilmente, há uma compensação econômica real. A mineração está colocando em risco o abastecimento das cidades e emprega muito pouco se comparada ao volume de recursos que movimenta. A mineração precisa ser contida, reduzida, limitada. Temos de desenvolver processo industrial de beneficiamento do minério e reaproveitamento do que já foi produzido. São mecanismos mais eficientes de geração de renda e emprego, mais eficientes para o desenvolvimento do estado.
O que a senhora quer dizer quando fala que a mineração precisa ser ??contida?, limitar? 
O processo, o volume e os locais. A mineração precisa ser controlada. Há locais onde, independentemente de haver minério, ela não pode entrar, porque compromete áreas básicas à sobrevivência, como o abastecimento de água. Tem de haver entrada de tecnologia, pois o modelo brasileiro é muito atrasado. A mineração não pode ser privada. O subsolo não pode ser explorado sob o controle de empresas privadas. ? preciso ter conselhos que sejam executados pelo conjunto de trabalhadores das cidades e pelos trabalhadores das empresas.
Há dependência da mineração? O que fazer para diversificar a economia?
Existem outras atividades com maior peso no PIB, como a indústria, que está sendo reduzida ?? um fenômeno do Brasil. O agronegócio tem peso em Minas, mas também é destrutivo, não gera emprego, representa concentração de riqueza na mão de poucos e não paga impostos na proporção de outros produtos. Minas tem economia diversificada, mas aumentar a diversificação tendo como base o desenvolvimento industrial é necessidade. O estado pode, e deve, ser gerador de produção de tecnologia e incentivar a criação de empresas. Não há saída fácil. Tenho de enfrentar os que lucraram, e continuam lucrando, com a miséria da população, aumentar a cobrança de impostos sobre esses grupos, estatizar algumas áreas da economia e usar esse dinheiro para investir nas condições de vida da população, em tecnologia e em parques industriais.
Como a senhora analisa a postura do governo Zema ante as causas das mulheres, dos negros e da população LGBTQIA ?
Os números apontam que há aumento brutal da violência contra mulheres, negros e LGBTs. O número de assassinados em função de sua orientação sexual, opção de gênero e raça é muito grande. ? a violência mais cabal, mas há uma violência cotidiana brutal: mulheres e negros continuam recebendo salários menores ou na fila do desemprego. Não há política de Estado que responda a isso. Há defesa de toda uma ideologia que faz com que preconceito, violência e a opressão aumentem. O partido Novo é incentivador do aumento das opressões e da violência contra mulheres, negros e LGBTQIA . Não porque diz diretamente para violentar, mas porque, ao incentivar o preconceito, há incentivo indireto aos que estão na ponta, com menos capacidade de elaboração, de liberar a violência.
Nunes Marques, do STF, autorizou Minas a aderir ao Regime de Recuperação Fiscal mesmo sem o aval da Assembleia. O que pensa desse plano?
A aplicação do Regime de Recuperação Fiscal vai gerar um apagão social maior do que estamos vivendo no estado. Isso vai representar uma redução de investimentos na saúde, na educação e na habitação ?? que já não tem, praticamente, nenhum investimento. Já convivemos, no estado e no país, com uma fome monstruosa. Não há condição de o estado investir menos nas áreas sociais e, também, deixar de investir na estrutura do estado, que tem investimentos muito precários. O pagamento da dívida pública, hoje, no Brasil, é a legalização da transferência de recursos dos nossos impostos aos banqueiros. Os juros e a forma como a dívida foi construída são inexplicáveis.
Se eleita, então, a senhora iria declarar moratória?
Talvez seja uma necessidade e a única saída para o estado e para o país. Temos um programa para Minas Gerais, e estamos terminando de afiná-lo. Mas não temos nenhum objetivo de vender a ilusão de que há um conjunto de propostas que vamos apresentar a Minas Gerais e que elas vão resolver o problema sem que haja organização dos trabalhadores para mudar as relações que existem no país ?? quiçá no mundo.

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