Recuperar o Vitória é nosso dever

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Ao conquistar o título da Liga Nordeste, vencendo o Sport na final, o basquete do Vitória reativa a vocação olímpica do clube, nascido na Era Moderna como acesso dos baianos às diversas modalidades criadas com a garra do Leão.

Não é de uns anos pra cá a inclinação para o sucesso do nosso cestobol, como era chamado o esporte, tendo o rubro-negro destacado-se no ginásio de Cajazeiras em época mais recente.

Antes, nosso olimpismo foi incentivado pelas canoas do remo, empolgando a cidade uma inédita travessia desde a Barra à Ribeira, como marco zero das regatas.

Não é pouca coisa se lembrarmos a prudência dos organizadores dos campeonatos de futebol, ao evitar marcar jogos nos mesmos dias de regatas, pois os bondes seguiam lotados sentido Itapagipe, até início da década de 1930.

Também seria recusar ao Vitória o empenho do pioneirismo, se apagássemos a realização da primeira corrida de rua do país, fertilizando, assim, o atletismo, do qual os rubro-negros foram ases.

A garagem náutica da Barra serviu de ponto de encontro da juventude durante décadas, cabendo disputas de xadrez até a organização de times de polo aquático.

Não se tem notícia de um clube capaz de organizar desfile nas principais ruas e avenidas de Salvador, com a participação de atletas de 17 diferentes esportes, com as cores vermelha e preta no alto do pódio.

Não seria exagero pedir mais papel e tinta ao editor com o objetivo de descrever tantas proezas quantas realizou o Vitória, mas apenas o já descrito até este parágrafo já serve para lembrar do alto relevo do Leão para os baianos.

Por conta deste perfil, não se pode admitir a irracionalidade de insistirmos no projeto de extinção do Vitória, ao contrário, o basquete nos reanimou a lutar para voltar à Série B do futebol e de lá, o ânimo é reconstruir o Decano.

Conquistar mais três pontos, fora de casa, diante do São José, daria sequência ao alento obtido com o placar de 2×0 sobre o Figueirense, no Barradão, na rodada mais recente.

Nem sempre o Vitória teve orçamento generoso, dependendo na maior parte da história dos chamados abnegados (negados de si mesmos), os quais faziam vaquinhas ou apadrinhavam jogadores a fim de pagar-lhes o salário.

A bilheteria também sustentou o Vitória, com a presença de sua torcida fiel, mesmo nos momentos íngremes de suas ladeiras mais difíceis, e atualmente não é qualquer clube capaz de atrair público mesmo na terceira divisão.

Não se pode acreditar no abandono como justificativa para o declínio, devendo os gestores do clube dedicarem-se à causa da reabilitação, rumo no qual não só rubro-negros mas todos os desportistas de todas as cores devem perseverar.

A recuperação do Vitória não é benefício isolado, mas trata-se de fazer a Bahia escapar outra vez da ilusão de fortalecer seu futebol com apenas um clube incentivado a ser grande.

O extermínio faz mal ao mundo, e dentro dele o desporto, enquanto a pluralidade, ao invés, estimula o convívio e faz dos conflitos o motor da vitalidade, da mudança e do movimento.

Vamos, todas e todos, torcer para o Vitória sair desta, assim como o Bahia subir, e nossos clubes intermediários avançarem em suas demandas, para voltarmos a ter um futebol forte, junto a todos os esportes.

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.

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