Caso Cristal: tudo sobre a morte da adolescente em assalto no Campo Grande

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Todos os dias, por volta das 7h da manhã, Cristal Rodrigues Pacheco, de 15 anos, fazia o mesmo caminho para o Colégio Nossa Senhora das Mercês, que fica localizado na Avenida Sete de Setembro, Centro de Salvador. Com a volta às aulas no início de agosto, a rotina da estudante foi interrompida drasticamente nas primeiras horas da última terça-feira (2).

Quem era Cristal

A jovem estudante era moradora de um prédio na região do Campo Grande, próximo ao Corredor da Vitória, local de classe média na capital baiana. Segundo amigos e vizinhos, a adolescente sempre foi educada, dedicada aos estudos – ela cursava o 9° ano do ensino fundamental -, amorosa com os pais e a irmã, Fernanda, de 12 anos.

De acordo com depoimentos de pessoas próximas à estudante, Cristal era atenciosa com os amigos e estava disposta a ajudar no que eles precisavam. Sua dedicação aos estudos sempre foi prioridade. 

Como Cristal morreu

Em frente ao Palácio da Aclamação, próximo ao Campo Grande, Cristal ia para o colégio junto com a mãe, Sandra, e a irmã, Fernanda. Do lado direito da avenida, duas mulheres se separaram e, em questão de segundos, fizeram a abordagem, assustando as três, atitude que já é de praxe entre os assaltantes que andam em dupla pelo Centro de Salvador. 

O pedido principal das suspeitas foi o celular da jovem. No entanto, segundo informações preliminares, Cristal teria se recusado a entregar, recebendo um tiro na região do peito por uma pistola calibre 653, em curta distância, segundo o médico e perito do Departamento de Polícia Técnica (DPT), Marcos Mousinho: “Um tiro direcionado para matar”.

A mãe, vendo a filha caída no chão, não percebeu que as duas suspeitas levaram a mochila da estudante com todos os pertences, saindo andando, com toda tranquilidade. 

Fernanda, a irmã mais nova, após a situação, correu para pedir ajuda, mas já era tarde e Cristal morreu no local do crime, nos braços da mãe e de transeuntes que passavam e observavam a cena.

Investigações 

Durante toda a terça-feira (3), a Polícia Civil se dedicou a procurar as duas suspeitas do crime. As primeiras informações é que ambas eram moradoras da região do Dois de Julho, onde foram flagradas por câmeras de segurança.

Algumas pessoas de interesse ao caso foram levadas para a 1ª Delegacia, nos Barris. No entanto, foram liberadas após serem ouvidas e prestar depoimento. 

Primeira suspeita presa

No entanto, no fim da noite, uma das suspeitas de matar a jovem Cristal à queima-roupa foi localizada no Subúrbio, presa e levada para a 1ª Delegacia. Logo depois, ela foi encaminhada para a sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. 

Em conversa com a delegada Andréa Ribeiro, diretora do DHPP, a suspeita, de 31 anos, não informou se ela teria sido a autora do disparo, mas confessou o crime e ainda afirmou que foi um tiro acidental, que passou de raspão pelo seu braço e acabou acertando Cristal no peito. 

??Ela nega que tenha sido a autora dos disparos, mas temos elementos nas investigações, nos autos do inquérito policial que nos permitem afirmar que a suspeita aqui apresentada estaria andando armada desde o mês de junho nas imediações do Centro da Cidade?, detalha a delegada.

Apesar da prisão, a arma do crime ainda não foi encontrada, nem a segunda suspeita do caso. A mulher presa já tem passagem pela polícia e estava com um mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas. Ela seria usuária de entorpecentes, além de ser moradora da região do Centro da Cidade. 

Após o depoimento, ela foi levada para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) e, em seguida, para o sistema prisional. 

O adeus a Cristal / Caminhada pela segurança

No mesmo dia do assalto, Cristal foi enterrada sob forte comoção e revolta de alunos, pais, amigos, parentes e vizinhos. Por volta das 17h, o corpo da jovem saiu da capela do cemitério e foi levado para o sepultamento.

Amigos e familiares estiveram no enterro da menina e ficaram chocadas com a partida precoce da jovem, que era considerada doce, especial e muito amiga.

“Não tenho palavras para descrever. Minha filha está abalada, sem acreditar. Está todo mundo sem acreditar. Estive com a mãe dela mais cedo, está dilacerada, a família toda dilacerada. E nós mães, que temos filhos, a mesma coisa. Ela perdeu a filha dela e a gente perdeu um pedacinho também”, disse Edilânia de Oliveira.

O primo da mãe da adolescente, Nilton Cesar Santos de Jesus, de 47 anos, lamentou a morte da parente e relembrou que a menina estava sem seu casamento há oito anos atrás, feliz e se divertindo com o evento. Ele aproveitou para pedir que os governantes tomem providência, já que poderia ser apenas mais um caso isolado em Salvador. 

“Arma tem que ficar na mão de policiais, não na mão de bandido. E a gente está vendo nossos governantes querendo armar a população. Vamos desarmar, e não armar”.

Na manhã desta quarta-feira (3), alunos de diversos colégios particulares, além de professores e amigos de Cristal estiveram no local do crime para fazer uma corrente de oração e uma caminhada para pedir paz. 

O trânsito no Centro da Cidade ficou congestionado por um tempo, mas nada impediu que centenas de pessoas saíssem do Campo Grande com cartazes e bolas brancas. Eles foram em direção ao Colégio Nossa Senhora das Mercês, onde gritavam por “Justiça”. Por fim, eles se encaminharam para o Quartel da Polícia Militar, nos aflitos. Sentados na calçada da instituição, as pessoas seguiram com as palavras de ordem e um único pedido: “Prendam a segunda mulher”.

Violência em Salvador

Mesmo com assaltos diariamente em Salvador, o caso de Cristal não foi isolado. Os soteropolitanos estão sofrendo há bastante tempo com a violência na cidade. Só na última terça-feira (02), no mesmo dia da morte da jovem, sete homicídios foram registrados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). 

Outro caso que conseguiu chocar a capital baiana foi o assalto da nutricionista Esperança Cedraz Brandão, que foi atingida por uma bala na região do rosto durante a ação, no Vale de Nazaré. Ela recebeu alta do hospital no último dia 31 de julho, mas a sensação de insegurança continuou pairando pela cidade. 

Além de Cristal e Esperança, também houve a morte do ciclista Rodrigo Santos Castro, morto por causa de um celular, no Dique do Tororó, no primeiro dia de julho. A bicicleta do modelo foi levada pelos assaltantes.

O que chama a atenção dos dois casos é que ambas foram atingidas por disparos nas primeiras horas da manhã. Moradores do Centro de Salvador reclamam dos constantes assaltos que têm ocorrido. 

“Aqui é uma cracolândia, cheia de usuários de drogas que fazem esse assalto. E o poder público não faz nada. Não fecha a praça em frente ao Palácio como faz no Campo Grande e na Piedade. E a gente fica à mercê porque volta e meia tem assalto e ficamos expostos ao pior como aconteceu hoje. Isso debaixo dos olhos da PM, perto do comando deles”, desabafa o morador.

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