Perigoso e ‘justiceiro’: Quem era Leandro P, ‘chefão’ do CV no Nordeste de Amaralina

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Há dois dias os noticiários falam de Leandro P, comandante do tráfico no Nordeste de Amaralina e que foi morto durante uma operação policial em Humildes, distrito de Feira de Santana.

A morte de Leandro P gerou um clima de tensão no complexo durante todo o dia de quinta-feira (18). Moradores temiam confrontos entre policiais e traficantes. Não à toa, os policiais reforçaram a segurança nos bairros. Mas por que tanta mobilização? Quem era Leandro?

Todo cuidado das autoridades de segurança se dá pelo alto grau de envolvimento de Leandro P com o Comando Vermelho (CV) e seu status de chefe do Nordeste de Amaralina. Nascido e criado no bairro, Leandro Marques Cerqueira, 40 anos, passou a ocupar o lugar de comando em agosto de 2018, quando o último líder da região foi preso. 

Mesmo antes de estar no topo da facção, o traficante já tinha seu nome ligado a crimes graves como o assassinato de um policial militar à paisana nas ruas do Nordeste. Com ele no comando, seu nome não deixou de estar ligado a crimes parecidos em Salvador. Leandro P é, inclusive, um dos nomes mais importantes da aliança que estabeleceu o CV na Bahia. 

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Postos de saúde e escolas municipais não funcionaram nessa quinta no complexo (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Como exemplo das ações violentas envolvendo o traficante, o major Valdino Sacramento aponta a suspeita de ligação do líder do tráfico no Nordeste de Amaralina ao caso Atakarejo, quando um tio e um sobrinho foram mortos após furtarem carne em um mercado do bairro. Segundo o comandante, Leandro seria um dos mandantes do crime.

???Era notório o grau de hierarquia que ele ocupava e o poder de decisão que tinha. Trata-se de um indivíduo extremamente violento, ordenava justiçamentos e teve participação nas mortes [do tio e sobrinho] do caso Atakarejo???, diz Sacramento, explicando que esse tipo de ordenamento nas facções tinha participação de mais de um líder.

Mesmo com o possível envolvimento em casos como esses, na comunidade, o líder era tido como uma pessoa querida por alguns moradores. Pessoas que preferem não se identificar citam ações de ???proteção??? do traficante para a região. 

???Aqui, se alguém roubava alguma coisa, ele mandava devolver no outro dia. No Calazans [colégio do bairro], roubaram micro-ondas e TV uma vez e, um dia depois, tiveram que devolver. Falando da comunidade, ele não fazia mal. Apesar do tráfico, existia uma segurança dada pela facção que não existia por parte da polícia???, aponta um morador.

Outra moradora, que vive no Nordeste há mais de 30 anos, lembra das ações que Leandro P tinha em prol de algumas demandas da comunidade. Segundo ela, ele financiava até festas em datas comemorativas que as pessoas queriam promover.

???Em Dia das Crianças, se alguém pedisse a ele um dinheiro para fazer uma programação legal para os meninos, Leandro dava e ajudava no que fosse preciso. Até levar gente ao hospital. Por isso, o pessoal gosta e defende ele. Quando alguém chega financiando algumas coisas e ajudando quem tem tão pouco, é assim???, fala ela. 

As ações do traficante para construir essa relação com os moradores são vistas como parte de uma estratégia que rouba funções que deveriam ser do Estado. Pelo menos, é isso que garante o comandante Sacramento ao falar que o tráfico dá ???presentes??? para tirar direitos básicos.

???Isso é uma prática para a cooptação clandestina de apoiadores. O cidadão apelida o marginal de ???Robin Hood do tráfico??? porque ele dá uma cesta básica ou ajuda a pagar um medicamento. Em contrapartida, ele retira a liberdade de expressão e o direito de ir e vir no bairro. O mesmo indivíduo tem atitudes violentas contra direitos mínimos. […] ?? inadmissível que uma ambulância do Samu precise de escolta para fazer um atendimento???, completa ele, dizendo que o crime interrompe sistematicamente serviços que deveriam chegar à população. 

Quinta sem confrontos
Nesta quinta-feira (18), apesar das vias principais estarem movimentadas, as ruas mais remotas da região amanheceram vazias e silenciosas, com moradores temendo tiroteios, mas isso não ocorreu ao longo do dia.

 A Polícia Militar, no entanto, reforçou o efetivo no Nordeste, contando com a presença de agentes da Rondesp Atlântico e unidades do comando de policiamento especializado como a Operação Apolo e o Batalhão de Choque.

Apesar do clima aparente de tranquilidade, as 14 escolas da rede municipal e postos de saúde localizados no Complexo não funcionaram ao longo de todo o dia, por medo de possíveis confrontos.

Um funcionário que trabalha em uma das unidades disse à reportagem que as instituições só devem abrir as portas novamente na próxima segunda-feira (22). 

Na última segunda, os alunos do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Dália Menezes tiveram que se jogar no chão para se proteger dos tiroteios que aconteceram durante a manhã entre policiais militares e suspeitos.

 

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