![]() |
A colunista Paula Theotonio entre barricas de vinho (divulgação) |
Você certamente já ouviu ou leu que tal vinho fermentou ou maturou em barricas de carvalho. Ou até mesmo já sentiu aromas amadeirados nos vinhos que degustou. Mas sabia que o uso desses recipientes vai muito além de emprestar sabores e aromas às bebidas? E que existem diversos tamanhos de barris e até outros tipos de madeira utilizadas no vinho?
Quando começamos a usar barricas de carvalho?
Recipientes de madeiras diversas, barro e cerâmica já eram utilizados há milênios para armazenar líquidos como cerveja, água, óleo, mel e vinagre; metais preciosos; pregos; pós e minerais; bem como para a conservação de alimentos. Heródoto, historiador grego, foi o primeiro a registrar o uso de barris de madeira de palmeira no transporte de vinho armênio para a Babilônia (Mesopotâmia).
Mas o formato atual ??? ovalado, resistente e mais fácil de transportar ??? foi criado pelos celtas, que já estavam usando madeira da árvore do gênero Quercus (madeira fina em celta) para construir barcos. A escolha por essa matéria-prima parecia lógica: era abundante em território europeu e mais resistente à água que outras madeiras. Rapidamente o recém-criado barril de madeira foi difundido pelos gregos e romanos, que passaram a utilizá-lo para armazenamento de vinhos.
Porém demorou bastante tempo até que os produtores de vinho percebessem que, além de trazer praticidade, as barricas traziam uma outra característica para suas bebidas.
Como a barrica influencia o vinho?
Hoje sabemos que a madeira altera a composição química do vinho. Ao mesmo tempo em que empresta sabores, aromas e taninos à bebida, sua porosidade permite uma ação lenta e microscópica do oxigênio, deixando-o mais macio, menos adstringente e de coloração mais estável.
Porém nem todas as barricas são iguais, portanto essa influência varia bastante. Há diferentes tamanhos; e quanto maior, menor é sua influência no vinho. Há barris com 225 litros, como a clássica de Bordeaux, e foudres enormes que podem carregar um lote inteiro.
A espécie de carvalho utilizada para fazer o recipiente também faz toda a diferença. Os mais porosos, como o carvalho americano (Quercus alba), permitem uma maior extração de sabores e taninos da madeira. Este normalmente agrega notas de baunilha, coco, manteiga e outras notas adocicadas.
Os menos porosos, como o francês (Quercus robur, Quercus petraea), influenciam o vinho de maneira mais sutil, adicionando notas defumadas, de cravo e de cedro. Há espécies diferentes na França, Estados Unidos, Croácia, Eslovênia, Hungria, Rússia; e o enólogo faz sua escolha baseado justamente em como deseja influenciar o vinho.
Há, ainda, barricas que não são de carvalho. A madeira da acácia é conhecida por dar mais corpo e maciez aos vinhos, nem necessariamente aportar aromas amadeirados. A barrica de cerejeira aumenta as notas de cereja e frutas vermelhas; e a castanheira permite maior micro-oxigenação. A madeira brasileira jequitibá rosa, por sua vez, aporta aromas doces, com traços de anis, açúcar caramelizado e melado.
O grau de tosta da madeira também muda tudo! Carvalhos com tosta leve interferem no vinho de maneira mais delicada e aporta aromas abaunilhados. A média adiciona aromas de cacau e baunilha; a média plus dá aromas de café, toffee, frutos secos e mel; e a forte oferece aromas defumados e de tabaco.
Além disso, barricas novas costumam impactar mais os vinhos que aquelas que já foram usadas. Após cinco ou mais utilizações, passam a ser usadas apenas para armazenamento do vinho; e embora não já não influenciem no sabor, seguem promovendo a micro-oxigenação da bebida.
Vinho que amadureceu em barrica é melhor?
?? mito que o estágio em barricas seja garantia de qualidade; ou que torne o vinho superior aos demais. A madeira simplesmente altera o perfil da bebida, deixando-a com um estilo próprio. ?? um instrumentos dos enólogos tal qual os tanques de aço e as ânforas de barro. Há brancos, rosés e tintos excelentes que nunca passaram por qualquer estágio em madeira, como os brancos da região de Chablis.
Porém o perfil amadeirado ou mais macio dos vinhos é bastante desejado no mercado; e algumas técnicas alternativas (e mais baratas) têm sido empregadas para alcançar mais rapidamente o efeito das barricas.
O sabor amadeirado também pode ser alcançado pelo uso de aduelas, lascas e até serragem de carvalho. O resultado da micro-oxigenação, por sua vez, pode ser alcançado com a adição de oxigênio de maneira controlada à bebida.
Quem faz as barricas de carvalho?
As tanoarias são os locais onde se fazem barris de madeira e os tanoeiros são os profissionais que produzem esses recipientes. Um dos mais importantes negócios deste segmento no país é a Tanoaria Mesacasa, localizada no município de Monte Belo do Sul (RS). Porém seus principais clientes não são vinícolas, mas sim cachaçarias brasileiras que usam diversos tipos de madeira.
Facebook Comments