Milhares de pessoas se reuniram na Praça de Maio, no centro de Buenos Aires, um dia após o atentado com arma sofrido pela vice-presidente Cristina Kirchner, quinta-feira à noite, realizado pelo brasileiro Fernando André Sabag Montiel. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, decretou feriado nacional após o ataque frustrado. A intenção foi permitir que os argentinos manifestassem apoio à democracia. Cristina, por sua vez, saudou seus apoiadores em sua primeira aparição após o episódio.
Cristina saiu de casa sem fazer declarações, mas dedicando alguns momentos para cumprimentar alguns populares. Ela apareceu com roupas confortáveis e falou animadamente com seus apoiadores antes de entrar em um veículo preto cercada por ao menos cinco seguranças.
Segundo o presidente Alberto Fernández, a arma que seria usada contra Cristina, uma Bersa 380 de fabricação argentina, travou na hora do disparo. ???Cristina permanece com vida porque, por alguma razão, a arma que contava com cinco balas não disparou, apesar de ter sido engatilhada???.
A vice-presidente foi alvo de uma tentativa de homicídio em frente à própria casa, no bairro da Recoleta, enquanto assinava livros de simpatizantes que se manifestavam em apoio a ela. Um vídeo chocante mostra o momento exato em que a arma é apontada para a cabeça de Cristina. No mesmo instante, seguranças intervêm e conseguem segurar o suspeito.
Promotores encarregados da investigação fizeram uma inspeção na área onde ocorreu o ataque. O tribunal começou a receber as primeiras declarações de testemunhas, além de policiais e membros da segurança da vice-presidente. Mais tarde, a juíza María Eugenia Capuchetti foi à casa de Kirchner para ouvi-la.
As tensões na Argentina cresceram desde o pedido da Promotoria de 12 anos de prisão contra a atual vice-presidente por suposta corrupção. Kirchner é acusada de ter orientado, enquanto era presidente da República, a atribuição de licitações de obras públicas na Província de Santa Cruz, seu berço político, em favor do empresário Lázaro Báez, contra quem os promotores também pediram 12 anos de prisão e apreensão de seus bens.
Quem é Fernando?
Fernando André Sabag Montiel nasceu no Brasil, mas é filho de um chileno e uma argentina e vive no país vizinho desde 1993. O pai dele, Fernando Ernesto Montiel Araya, foi alvo de inquérito da Polícia Federal para ser expulso de país.
Aos 35 anos, tem antecedentes criminais e supostas ligações com grupos extremistas. A polícia parou, em 17 de março de 2021, o carro do brasileiro, que estava sem placa traseira. Ao abrir a porta do condutor, uma faca de 35 centímetros caiu no chão. Fernando alegou portar a arma para autodefesa e foi liberado com uma notificação. O homem é registrado como motorista de aplicativo. Ele possui um Chevrolet Prisma preto.
Chamou atenção também que Fernando tem tatuagens referentes ao nazismo e interagia com publicações de grupos extremistas a partir de perfis nas redes sociais que foram retirados do ar. Uma das tatuagens é o ???Sol Negro???, símbolo usado por grupos neonazistas.
Trata-se de 12 raios no formato do ícone da ???SS???, a Polícia do Estado Nazista, conectados a um círculo preto no centro da imagem. Ele também marcou na pele ícones nórdicos cooptados por simpatizantes do Terceiro Reich.
De acordo com o jornal argentino Clarín, o brasileiro usava o codinome ???Salim??? no Facebook e no Instagram. Uma das publicações é sobre uma aparição na TV. Ele disse que concedeu a entrevista para fazer críticas ao governo. O texto da postagem encerra com os dizeres: ???Nem Milei (parlamentar especulado à disputa presidencial de 2023), nem Cristina???.
O imóvel alugado onde Fernando morava, localizado em Villa Zagala, estava revirado e sujo, segundo o relato de policiais que foram ao local um dia após a tentativa de atentado. A pia do banheiro estava quebrada e o sanitário – que parecia estar entupido há dias – exalava um cheiro forte. No chão, havia uma pilha de cobertores, roupas e alimentos, incluindo vários sacos de batatas.
Foi em meio à bagunça que a polícia encontrou os vibradores, lingeries e o chicote de couro. ???O que mais surpreende, além do odor e da sujeira, é a quantidade de elementos fetichistas. Não tínhamos ideia dessa faceta???, afirmou o assistente social Fabricio Pierucchi, amigo do dono da casa, em entrevista ao jornal La Nación.
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