Após anos distantes devido a divergências e, principalmente, a ataques do PT em campanhas anteriores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ex-senadora Marina Silva (Rede-SP) fecharam aliança. A ex-ministra do Meio Ambiente do governo do petista afirmou que estará ao lado do presidenciável nestas eleições. ???Agora, estamos diante de um quadro que é democracia ou barbárie. Estou partindo do princípio de que tudo isso que está acontecendo é a nossa capacidade de reelaborar, repensar o passado, para construir um novo futuro???, disse Marina, que disputará uma cadeira na Câmara dos Deputados, durante coletiva de imprensa no escritório da campanha de Lula, em São Paulo.
A adesão de Marina, que é candidata a deputada federal, é uma das grandes apostas do PT na reta final da campanha presidencial, devido à credibilidade da ex-ministra, que pode influenciar eleitores ainda indecisos. Além disso, Marina aproxima Lula do eleitorado evangélico. ???Para Lula, (a aproximação) é boa, pois reforça o discurso de frente ampla. E para os ambientalistas é importante pautar uma das candidaturas que têm chance de vitória???, avalia o professor Denisson Silva, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas.
???No cenário em que os dois sejam eleitos (Lula na Presidência e Marina na Câmara dos Deputados), é ainda melhor para os defensores das pautas ambientais, pois, vai ter uma parlamentar comprometida com a causa e um governo que deve ter algum grau de comprometimento também. Ela ainda anda em diversos círculos e é benquista, é evangélica, facilitando a ponte e uma aproximação maior de Lula com esse eleitorado???, afirma também Denisson Silva.
A aproximação entre Lula e Marina se torna ainda mais importante para a campanha de Lula. Uma das estratégias do petista é insistir no voto útil, para derrotar Jair Bolsonaro. Com a expressividade de votos que a ex-ministra teve nos pleitos de 2010 e 2014, a possibilidade de a transferência de voto virar o dito voto útil pode acontecer, avalia o professor.
???A transferência de voto não é algo automático. Mas, sem sombra de dúvidas, ter apoio da magnitude de Marina importa para qualquer candidato. Ou como diria na linguagem das redes sociais, Marina é uma ‘influencer’. Não é à toa que foi costurada essa aliança. Além de simbolicamente representar essa frente ampla que Lula está construindo???, afirma Denisson.
A Rede Sustentabilidade, além de ter declarado apoio a Lula, faz parte da coligação Brasil da Esperança, que tem a Federação Brasil da Esperança com PT/ PCdoB/ PV/PSB e, junto, Solidariedade/Pros e a Federação Psol/Rede/Avante/Agir. ???O governo Bolsonaro não tomou nenhuma medida efetiva para combater os males climáticos, entre eles a destruição da Amazônia, do cerrado e do Pantanal. Então, era de alguma forma esperado que Marina, que dedicou a vida à pauta ambiental, fosse para um projeto de governo que tivesse condições, ou ao menos prometesse reverter ou parar com o processo de destruição ambiental em marcha???, conclui o professor.
CANDIDATURAS ANTERIORES
O apoio a Lula vem após longo período de críticas e divergências políticas. Depois de sair do PT, em 2009, Marina Silva se filiou ao Partido Verde (PV) e iniciou sua caminhada distante da legenda de Lula. Em 2010, se candidatou à Presidência da República e angariou um número expressivo de votos: 19.636.359, ficando em terceiro lugar, com 19,33%. No entanto, sua ex-colega de governo Dilma Rousseff (PT) saiu vitoriosa, com 55.752.529 votos. José Serra (PSDB) ficou em segundo lugar, com 43.711.388 votos.
Em sua segunda tentativa, Marina teve ainda melhor desempenho. A ex-ministra se candidatou pelo PSB, novamente, em 2014, ano em que rompeu, de fato, com o PT. A campanha de Dilma Rousseff, que disputava a reeleição, observando o crescimento de Marina nas pesquisas de intenção de votos, partiu para o ataque propagando que a adversária teria relacionamento próximo com grandes banqueiros, passando a mensagem de que tiraria dos pobres para fortalecer os ricos.
???De fato, Marina teve votação expressiva, mas o contexto de 2010, por exemplo, era difícil. Tínhamos Dilma surfando numa aprovação de Lula superior a 80% e o PSDB, de José Serra, governador de São Paulo, com avaliação positiva acima dos 50%. 2014 talvez tenha sido o mais próximo de Marina ter protagonizado a disputa presidencial. Para ela e qualquer outro que tente ser presidente, tem que largar entre os dois candidatos preferidos, no máximo o terceiro se tiver muito próximo do segundo. Senão, é difícil ir para um eventual segundo turno ou até mesmo ganhar as eleições???, avalia o professor Denisson Silva, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas.
Em 2018, já na Rede Sustentabilidade, Marina se candidatou novamente, porém conseguiu apenas 1.069.578 votos. Ainda segundo Denisson, o mau desempenho da candidata se deveu à fragmentação das eleições daquele ano. No entanto, ele analisou pontos positivos da campanha da ex-ministra. ???A eleição de 2018 foi muito fragmentada. Com isso, os eleitores tiveram muitos polos de atração, ou como diríamos na metáfora econômica, tínhamos muitos produtos à disposição do consumidor (eleitor). Então, a eleição no primeiro turno seguiu o seu propósito, as pessoas votaram naqueles candidatos mais próximos de suas convicções???, disse.
???Outro ponto importante a ser considerado é a máquina partidária. Isso significa, em última instância, estrutura para a campanha. Pois parte do financiamento é distribuído pela proporcionalidade de parlamentares na Câmara dos Deputados. Mas, ainda assim, Marina saiu de alguma forma vitoriosa, pois, com bem menos recursos (próprios, privados ou estatais), teve praticamente a mesma votação de Henrique Meirelles com toda estrutura do MDB e ainda o vultoso patrimônio próprio empregado na campanha???, completou.
Nesse meio tempo, Marina não poupou críticas ao PT. A ex-ministra afirmou que, durante a campanha de 2014, Dilma tinha praticado fake news contra ela. Em outras ocasiões, ela ainda afirmou que o partido não reconhece seus erros. E no impeachment da então presidente petista, Marina ainda se colocou positiva ao impedimento.
Ciro critica voto útil
A campanha do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, publicou nas redes sociais do presidenciável um vídeo em que questiona o voto útil, um dos motes da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 15 segundos, o vídeo associa o voto útil ao futebol e indaga o espectador se ele trocaria de time porque o outro tem mais chances de ganhar. ???O que você diria a alguém que mandasse você mudar de time, dizendo que ele pode não ser campeão????, questiona uma locutora no vídeo. Em seguida, Ciro afirma: ???Para eles, voto útil é tornar o seu amor inútil???.
O voto útil é uma das estratégias de campanha de Lula, já que ele lida, também, com a forte rejeição do antipetismo. Considerando que o objetivo maior do candidato é derrotar Jair Bolsonaro, o petista aposta no chamado voto útil. Conforme as pesquisas eleitorais, Lula é quem tem mais chances de ganhar de Bolsonaro logo no primeiro turno.
Em casos de eleições acirradas, como as deste ano, o voto útil é uma estratégia, também, dos eleitores, que escolhem o candidato com o qual se identificam, mas votam em um nome que não seja o seu preferido, com o intuito de impedir que outro candidato seja eleito.
SIMONE TEBET
A candidata à Presidência da República pelo MDB, Simone Tebet, afirmou que a eleição deste ano é ???diferente de tudo o que já vimos???. Em campanha em Salvador, ela disse que há muitos retrocessos. ???Esta é uma eleição diferente de tudo que já vimos, é a mais importante da nossa história. O Brasil nunca passou por tantos retrocessos, está tendo que discutir de novo se tem perigo ou não de ruptura institucional. Olha a situação!???, ressaltou.
???Então, não pode votar por medo, no menos pior, porque isso não vai dar certo. A gente tem que lembrar que o Brasil não termina em 2 de outubro. Os problemas só recomeçam???, disse a presidenciável. A candidata disse também acreditar que a polarização só irá se radicalizar após o fim das eleições. ???Deixo uma questão no ar: numa vitória no primeiro turno, se acontecesse, o que não vai acontecer, a diferença seria tão pequena, tão pequena que a gente teria que enfrentar quatro anos de discussão sobre o resultado de urnas, se as urnas são seguras, de contestação???, declarou também.
???O resultado das urnas vai ser respeitado, porque serão. Eu seria a primeira a estar na frente, como um escudo, protegendo o TSE. Porque ao proteger o TSE, vamos proteger a democracia brasileira???, completou a senadora.
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