‘Não é correto dizer que o trem está nos trilhos’, diz vice de Zema

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O vice-governador de Minas Gerais, Paulo Brant (PSDB), contesta a tese do governador Romeu Zema (Novo) de que, em termos econômicos, o “trem” do estado “está nos trilhos”. Embora ela seja utilizada por Zema em sua campanha à reeleição, Brant, que tenta renovar o mandato de vice, mas por meio da chapa do também tucano Marcus Pestana, disse, ontem (1/8), que a folga financeira se deve à redução da máquina pública, porém, precisa ser acompanhada por ações de equacionamento.

“Não é correto dizer que o trem está nos trilhos. Não está. Quando o governo assumiu, a situação era caótica. Eu vi. O governo fez um grande ajuste de custeio da máquina. Reduziu muito. Foi louvável. Mas o custeio representa um pouquinho de nada do orçamento. Não resolve o problema”, afirmou, ao participar do “EM Entrevista”, podcast de Política do Estado de Minas.

Brant atribuiu ao Novo o que chamou de “desdém” da política e se queixou do fato de Zema tê-lo ouvido por “pouquíssimas vezes. Leia abaixo os principais pontos da entrevista, que pode ser vista na íntegra no canal do Portal Uai no YouTube.

Oficialmente, o vice-governador precisa ser demandado para atuar. O senhor se sente inquieto ao estar em um cargo com essas características?
O vice transita entre a omissão e a intromissão. Ele não pode se intrometer porque não é governador e não tem a caneta, mas não pode se omitir. Quando ele perceber que tem alguma coisa que discorda de maneira substantiva, tem a obrigação, por lealdade, de chamar o governador e conversar. Fiz isso com Zema várias vezes. Pouquíssimas vezes ele me ouviu, porque minha divergência era conceitual, em relação à visão do Novo, pela qual ele sempre optava.

Caso Pestana vença, qual será a sua primeira “intromissão” a respeito de projetos que quis emplacar com Zema, mas não conseguiu?
Vou ter que me intrometer pouco, porque concordo 90% com Pestana. Temos muitas afinidades, por exemplo, quanto à questão do Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O governo tem de fazer um acordo com a União, mas um acordo altivo. O governo não pode fazer uma negociação em que discute com técnicos do Tesouro Nacional. A negociação deve envolver o governador e o presidente. O acordo tem de ser discutido no nível da política. Não estamos tratando da dívida de um armazém com um banco; é o segundo maior estado do Brasil com a União. Você não pode fazer um acordo que inviabilize as políticas públicas em Minas.

Por que o senhor acha que a Recuperação Fiscal vai inviabilizar as políticas públicas?
(O RRF) vai gerar uma série de estrangulamentos; obriga o governo a vender todas as empresas. Não sou contra a privatização, mas o estado não pode ser obrigado a privatizar por motivos ideológicos. A Cemig pode – ou não – ser privatizada. Não é por uma ideologia que você deve vendê-la. ? uma empresa lucrativa, que pode – ou não – ficar nas mãos do estado. Hoje, pelo acordo da Recuperação Fiscal, Minas terá de vender Cemig, Copasa e Codemig, que só gera receitas ao governo. Por que privatizar a joia da coroa? ? fundamental um acordo com a União. Não podemos viver de liminar (que suspende o pagamento da dívida).

Os debates sobre o Rodoanel estão sendo bem tocados?
As pessoas que estão conduzindo, (como) Fernando Marcato (secretário de Infraestrutura e Mobilidade), são qualificados. O problema, outra vez, é político. Um Rodoanel não pode ser aprovado sem o consenso das prefeituras de BH, Betim e Contagem. Será que os três prefeitos estão fazendo isso por birra? O governador não pode terceirizar a política. ? um assunto para ele conversar com os prefeitos. ? indelegável. Como o Novo trata a política com certo desdém, não acha que a política é importante e que o papel do governador é gerenciar, a política fica relegada. Como o governador não assume, ninguém pode assumir.

O que significa o “desdém” da política que o senhor atribui ao Novo?
O Novo tem uma visão muito soberba da política. Ele acha ter a razão e as respostas técnicas, com muita dificuldade para dialogar com quem pensa diferente. A realidade é muito complexa, e Minas tem problemas demais. Eu não sou o dono da verdade. Tenho de dialogar. Em uma mesa de diálogos, você tem de tentar persuadir as pessoas, mas estar aberto a ser persuadido.

A política, para o Novo, é como se fosse um mal necessário, e a Assembleia, um obstáculo. Quem acredita na política, tem visão contrária: acho que a Assembleia ajuda. O ponto de vista da Assembleia é tão legítimo – ou mais – que o do Executivo.

Então o senhor não faz objeções ao papel do presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PSD), na condução da Recuperação Fiscal?
? terceirizar a culpa. Agostinho não tem esse poder todo. Quando ele coloca em votação projetos do governo, que recebem 55 votos contrários e dois a favor… Será que Agostinho é esse super-homem? ? muito fácil dizer que a culpa é da Assembleia ou de Agostinho. Você pode questionar uma ou outra atitude dele, mas se o governo não se questionar (e dizer) “onde eu errei”, não vai mudar. Na nossa República, a função essencial do Executivo é conquistar a maioria no Parlamento. ? possível, e não é fazendo “toma lá, dá cá”. Se o governo fracassa nesse objetivo, está comprometido.

Um exemplo: essa coisa do “ajuste” de Minas. Não é correto dizer que o trem está nos trilhos. Não está. Quando o governo assumiu, a situação era caótica. Eu vi. O governo fez um grande ajuste de custeio da máquina. Reduziu muito. Foi louvável. Mas o custeio representa um pouquinho de nada do orçamento. Não resolve o problema. Vale como uma coisa simbólica.

O que iria resolver? Um projeto, do início do governo, prevendo coisas para reestruturar a situação econômica de Minas, (com) privatizações de Cemig, Copasa, Codemig, Gasmig e a Recuperação Fiscal. Quais desses projetos foram aprovados? Nenhum. Por que a situação de Minas melhorou? O caixa melhorou por causa da inflação. A receita tributária cresceu abruptamente pelo aumento do preço de todos os produtos – principalmente os combustíveis e a energia. Esse salto, sem aumento de despesa, gerou folga financeira.

O ajuste de Minas está por ser feito. A dívida aumentou R$ 40 bilhões, e as questões da previdência e dos restos a pagar continuam. O equacionamento ficou para agora, porque o governo não conseguiu base na Assembleia. O caixa está sob controle. A situação econômica, estrutural, é muito grave.

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