Não vale tudo para ganhar voto, mesmo que candidatos se comportem como se valesse

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A última semana antes do primeiro turno das eleições é um momento único para que os candidatos consigam convencer que merecem o voto no próximo domingo. Talvez por isso seja tão carregada de tensão. Enquanto nomes como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ACM Neto (União) apelam para o chamado “voto útil”, numa tentativa de encerrar o pleito em uma única tacada, os adversários que estão em segundo lugar na disputa podem entrar para um vale-tudo eleitoral. Mas até que ponto é possível chegar?

 

Sinceramente, espero que não descambe para algo pior do que o visto até aqui. A manipulação de narrativas e a produção de conteúdos falsos aconteceram de cabo a rabo e das mais diversas candidaturas. Sejam aqueles que lideram as pesquisas de intenção de votos, sejam aqueles que tentam desbancar o favoritismo. E isso não serve para colocar todos num mesmo balaio. Em graus distintos, as militâncias de todos os candidatos apelaram – mais do que o aceitável – para diversos elementos que moldam o mundo apenas para caber na própria concepção.

 

No plano federal, Jair Bolsonaro (PL) e sua trupe não hesitaram em construir uma realidade à parte. Vide absurdos como a negação de que há milhares de brasileiros em condições de insegurança alimentar. Basta andar pelas ruas das grandes e pequenas cidades para ver que a miserabilidade aumentou no país, em parte por conta da ausência de políticas públicas para reverter esse quadro, em parte por consequência da própria pandemia, que gerou ainda mais desigualdade ao redor do globo.

 

?? claro que as narrativas de ficção não são tão escancaradas. Algumas distorções são pequenas e apenas os leitores mais atentos perceberiam. As respostas de Lula a perguntas sobre corrupção nos governos petistas, por exemplo, foram bem limitadas. Fortalecer o controle do estado é fundamental, mas é preciso colocar o dedo na ferida, sob o risco de repetir os erros do passado. Caso seja eleito, o petista vai precisar revisitar essa questão.

 

Na esfera estadual, a imprecisão em torno da autodeclaração de cor de ACM Neto talvez tenha sido o caso mais emblemático. O ex-prefeito não se declarou negro, mas a militância petista fez a conversão automática e o colocou automaticamente como preto. Por um erro de condução, o assunto tomou proporções gigantescas, ainda que desde 2016 o então candidato à reeleição em Salvador já tenha se registrado como pardo. Como os conceitos são apropriados conforme a onda, ACM Neto perdeu a guerra narrativa.

 

Já Jerônimo Rodrigues (PT) foi alvo de sistemáticas críticas pela gestão da educação e conseguiu reverter ataques por um erro de cálculo do adversário. Ao invés de ter assumido a secretaria da área em 2018, como a propaganda de ACM Neto o colocou, o petista chegou ao posto um ano depois. O resultado disso foram derrotas judiciais para a campanha do ex-prefeito. A educação sob o condão de Jerônimo nunca esteve entre as melhores – e o período da pandemia só piorou -, mas a estratégia desajustada dos adversários permitiu que subir o Ideb de muito ruim para ruim fosse celebrado como algo bom.

 

Agora, às vésperas dos eleitores irem as urnas, os candidatos não têm mais razões para guardar cartas na manga. Ou vai ou racha, sob o risco de saírem derrotados no domingo. Para nós, espectadores da democracia, cabe apenas torcer para que a beira do precipício que estamos agora seja o limite que chegaremos.

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