Pela primeira vez na história, Vogue realiza desfile em shopping de Salvador

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Há duas décadas, a designer baiana Luciana Galeão, varria as sobras de tecidos das roupas que havia acabado de costurar. No chão, os retalhos formavam “imagens incriveis”. A partir de então, ela viu no resíduo a ser descartado a possibilidade de criar peças com desenhos únicos e, o mais importante, sustentáveis. 

Com precisão, já se passaram 26 anos desde a confecção da primeira roupa upcycling – como é conhecida a técnica de dar um novo uso a materiais que iriam para o lixo -, mas foi em 2011, após a demolição da atual Arena Fonte Nova, que ela criou uma coleção não intitulada, mas que representa um ???manifesto??? por um novo olhar para o vestuário do reaproveitamento criativo.

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Luciana Galeão posa ao lado da primeira peça feita com tecidos dos macacões (Foto: Marina Silva/ CORREIO)

O resultado foram peças confeccionadas com tecidos dos macacões usados pelos homens que trabalharam na demolição do estádio que deu lugar à nova arena. Na coleção, as tramas ganharam estampas e foram acopladas a recortes de outros panos não comercializados e descartados por grandes marcas, também estampados manualmente com mosaicos feitos de resíduos de couro da indústria de sapatos e decoração.

Essas são criações feitas exclusivamente para apreciação e reflexão, segundo a intenção de sua criadora. Oito delas, incluindo algumas costuradas para serem vendidas, foram expostas no primeiro piso do Shopping Itaigara, em Salvador.

???Aqui estão as mais impactantes. No caso do uso dos macacões, a ideia é fazer com que as pessoas percam o preconceito com o resíduo e olhem para a roupa antes de olhar para o material, principalmente para o que usa o trabalhador da construção civil, que é vista como uma das formas mais brutas do trabalho manual???, detalha Luciana Galeão. 

O número de peças criadas por ela desde 1996, começou a ser contado há poucos meses, no entanto, as que estão expostas já não passaram despercebidas pela estudante de publicidade Maiara Gomes, 22 anos. 

???As peças são únicas e a originalidade delas chama muita atenção. São roupas que vemos que foram realmente feitas a mão, e não vemos isso em muitas vitrines. Foi o que me fez parar para apreciar a riqueza da moda???, afirma a visitante, que se descreve como uma curiosa do segmento e estuda moda sustentável para falar do assunto nas redes sociais.

Não à toa, Maiara deu de cara com uma exposição que aborda um dos seus temas favoritos no meio de um shopping. A atração faz parte da programação do Vogue Fashion???s Night Out 2022 (VFNO). O evento de moda, que ocorreu nesta quarta (14), é um grande esquenta para a chegada das novas coleções de primavera e verão no país, totalmente aberto ao público.

Considerado uma tradição para o segmento, ele ocorre há 10 anos, apenas em shoppings e, pela primeira vez, pousou na capital baiana, marcando o retorno do evento após a pandemia. Quem passou pelo centro de compras pôde apreciar, além da exposição,  workshops, desfiles comentados e um show musical.

O estudante de jornalismo e modelo fotográfico, Tiago Marshall, 22 anos, soube à noite que o evento estava marcado para o dia seguinte e chegou cedo para aproveitar o máximo de atrações possível.

???Fiquei muito surpreso de ver essa cultura dentro de um shopping. Quando a gente pensa em um evento de moda de uma revista grande como a Vogue, só vem Rio e São Paulo na cabeça. Ter isso em Salvador é surreal. Tinha muita gente tentando ver o desfile e acredito que, assim como eu, elas estavam muito realizadas???, conta Thiago.

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Modelos exibiam peças que pudessem ser usadas do escritório ao happy hour (Foto: Marina Silva/ CORREIO)

O desfile ao qual ele se refere foi a quarta atração do dia. Com o tema ???O fim do home-office: do escritório ao happy hour???, as modelos apresentavam ao público roupas e acessórios confortáveis e versáteis, que não abrissem mão do estilo. A primeira composição trazia como destaque um salto baixo com tramas em referência ao trabalho artesanal de trançar cipós para confecção de bolsas e cestos, considerado uma tradição no município baiano de Cachoeira. 

“A escolha de Salvador foi perfeita. Faz mais sentido falar de primavera/verão aqui na Bahia, onde vivemos o verão quase o ano inteiro, em algumas partes, até mesmo quando é inverno” afirmou a diretora de moda da Vogue no Brasil, Vivian Sotocorno, que ao lado da stylist – título dado a uma estilista pessoal -, Lívia Cady, comentou sobre a roupa usada por cada modelo durante o desfile.

Além disso, a programação do VFNO 2022 também contou com uma aula de treinamento funcional, uma apresentação do DJ Cady, em um palco montado na praça de alimentação, painéis sobre saúde e emagrecimento, cuidados com a pele e consultoria de moda, além de um segundo desfile comentado. O encerramento foi comandado pelo show da banda Cheiro de Amor. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

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