A tarefa de se tornar uma inspiração para novos atletas envolve uma série de dificuldades, e pela maioria delas Nayara Doria já passou. Atual campeã mundial de Karatê Iku, a baiana ainda luta – metaforicamente e literalmente – para participar da edição de 2022, a primeira desde o início da pandemia de Covid-19.
A competição será realizada na cidade de Caorle, em Veneza (Itália), entre os dias 27 e 30 de outubro. Sem o investimento necessário, a atleta vem fazendo uma campanha na internet para angariar recursos (saiba mais aqui).
“Conquistando esse título, vou me tornar um espelho para os meus alunos. ?? o que mais priorizo. Tanto para as meninas, que não têm muitas referências, quanto para os meninos. [Para] Quem está começando agora no esporte ver que é possível chegar lá, ser apoiada pelo estado, pelos seus amigos, pela sua família. ?? uma sensação de êxtase”, afirmou, em entrevista ao Bahia Notícias.
Nayara é professora da Associação Banzai Dojô, projeto social que fica no bairro da Liberdade, em Salvador, desde os 12 anos, quando ainda era faixa verde no karatê. Atualmente com 19 anos e faixa preta II dan, ela enxerga o esporte como uma ferramenta de inclusão.
“Esse projeto tem 30 anos (funciona desde 1993) abrigando jovens, crianças, adultos, tornando-os cidadãos. A importância desse projeto para a nossa comunidade, da Liberdade, e a comunidade do Largo do Tanque, é gigante. Nos dias de hoje, cresce cada dia mais a taxa de criminalidade aqui em Salvador, e esses projetos esportivos, não tão valorizados pelo estado, influenciam diretamente na diminuição dessa taxa. Você traz a criança para a área de esporte, para um meio de disciplina, educação, tornando a criança um cidadão com ética, com moral, e influenciando que ele cresça a cada dia”, pontuou.
Sete vezes eleita a melhor karateca pela Associação Banzai Dojô, Nayara coleciona títulos como campeã baiana, brasileira, panamericana e mundial. Seu primeiro troféu dos melhores atletas do ano veio em 2012, aos 10 anos de idade.
No entanto, o karatê nem sempre foi sua escolha. “Na realidade, eu queria balé e natação. Só que eu comecei a fazer natação e karatê. Para uma criança de 8, 9 anos de idade, era muito esporte para pouca carga horária, porque eu estudava. Eu tive que decidir: ou era natação ou karatê”, explicou.
Para a própria alegria, a atleta decidiu pelo karatê. “Com o passar dos anos, fui sendo uma referência tanto municipal como estadual. Daí para frente, foi só vitória”, comemorou.
Nayara coleciona medalhas ao longo de sua trajetória | Foto: @photobyedyonil
Nayara atualmente é patrocinada pela Embasa, por meio do Estado da Bahia, mas os recursos disponíveis e já arrecadados não estão suprindo as necessidades exigidas com os custos altos das passagens, translado, hospedagem, alimentação, inscrição, dentre outros para a disputa do Mundial.
O investimento geral no karatê ainda é baixo, e a pandemia agravou a situação. No projeto social, por exemplo, muitas crianças deixaram de fazer as aulas no período da Covid-19, mesmo com elas acontecendo de forma online.
“Muitas crianças se desmotivaram, e começaram a caminhar por outros rumos. Neste retorno da pandemia, tem tido essa volta de gente que cansou, que não acreditava mais”, lamentou a campeã mundial.
De qualquer forma, ela espera que a realidade mude a partir do sucesso de atletas como ela. Seu objetivo, no fim, é continuar dando aula e inspirando os mais jovens.
“Continuo fazendo isso com amor, como cresci vendo meus professores fazendo. O amor, o carinho que recebemos, vendo aquela criança se desenvolver, é gratificante”, comentou.
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