Campanhas políticas sempre foram disputas iminentemente narrativas. Caso alguém tenha sido enganado sobre debates propositivos durante processos eleitorais, ou foi iludido ou vive em uma realidade paralela – e olha que essa realidade parece abrigar um número expressivo de eleitores. No entanto, nos últimos anos, esse controle narrativo passou a ter um componente algorítmico que não foi compreendido de maneira eficiente pelas instituições e por parte das candidaturas, especialmente aquelas que não emergiram a partir de um ecossistema disposto não apenas a destruir reputações, como também consolidar inverdades ou meias verdades.
Ao longo da campanha de 2022, vimos alguns episódios assim. A maioria deles serviu não apenas para atacar adversários, mas também para minar o próprio sistema político. Seja no plano federal quanto estadual, houve um esforço dos diversos atores para desqualificar o debate público, com questões menores do que os problemas efetivos. Para o eleitor, números e dados não fazem sentido, o que vale é uma relação passional, alimentada dentro das bolhas e sem condições para a existência de um diálogo. Como a política é a arte do diálogo, sabemos o resultado dessa implosão dentro do próprio sistema.
Jair Bolsonaro é o grande responsável por isso, mas não está isolado. O discurso do entorno de aliados e adversários do presidente também contribui para a desqualificação democrática. Estaremos, independente do resultado neste dia 30, em frangalhos enquanto nação. O vencedor terá o papel de “reunificar” o país e, convenhamos, a hipótese de caber à extrema-direita esse papel e os paralelos históricos é assustadora. Por isso é preciso estar extremamente atento a todos os sinais e tentar decifrar os códigos implícitos nas condutas dos atores políticos.
Desde 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro chegou ao poder, ficou evidente para quem acompanha a cena política a estratégia discursiva do presidente. Ela já estava presente na campanha do ano anterior, mas ainda houve, por um tempo, quem fingia não ser um problema os rompantes autocráticos da extrema-direita. Há, inclusive, quem negue a existência dessa extrema-direita no Brasil e costuma-se fazer a falsa equivalência com uma virtual extrema-esquerda, que, se existe, nunca chegou ao poder em terras brasileiras.
Sem fazer proselitismo contra ou a favor de qualquer candidatura, seja ela à presidência ou ao governo da Bahia, é muito claro que a campanha de 2022 não necessariamente será vencida pelo melhor candidato a um cargo. Quem sairá com o triunfo das urnas terá obtido êxito com base em narrativas que, não necessariamente, estarão amparadas na realidade. ?? um desafio hercúleo, mas é preciso manter um mínimo de esperança. Sob o risco de não haver muito além da terra arrasada do pós-eleições.
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