Meu Diário da Copa: Conto de fadas pra inglês ver

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“Dessa vez, a Inglaterra vai!”. A frase é comum antes do início de qualquer Copa do Mundo. Berço do futebol, o país costuma prometer muito e cumprir pouco. Seu único título, conquistado em 1966, em casa, foi recheado de polêmicas, e sua sequência de decepções é impressionante. Após a conquista, o melhor desempenho da seleção foi a quarta colocação, em 1990 e em 2018. 

 

No Catar, em 2022, o sorteio trouxe a possibilidade de um conto de fadas logo na fase de grupos. ?? primeira vista, Irã, Estados Unidos e País de Gales não são concorrentes que despertam grandes perspectivas de atrapalhar a classificação inglesa na primeira colocação. 

 

A melhor participação de uma dessas seleções foi na primeira Copa do Mundo, em 1930, quando os EUA terminaram em terceiro. O Irã nunca avançou da primeira fase e País de Gales está apenas em seu segundo Mundial. 

 

Entretanto, uma análise mais aprofundada mostra que esse conto de fadas é só para inglês ver. Sim, a Inglaterra é favorita para avançar em primeiro, mas o caminho é mais tortuoso do que parece. 

 

A começar pelo primeiro confronto, que é contra o Irã, país que teve a melhor campanha da fase final das eliminatórias asiáticas e terminou na primeira colocação do Grupo A. Foram 25 pontos conquistados em 10 jogos, com oito vitórias, um empate e apenas uma derrota. 

 

O Irã também foi detentor, ao lado da Austrália, do melhor ataque, com 15 gols marcados, e da segunda melhor defesa, ao lado do Japão, com quatro sofridos. 

 

A principal arma do time vinha sendo o atacante Sardar Azmoun, que atua no Bayer Leverkusen. Ele foi o artilheiro da Seleção nas eliminatórias, com 10 gols em 14 jogos. No entanto, uma lesão em um jogo da Liga dos Campeões, contra o Porto, no dia 12 de outubro, colocou em dúvida sua participação na Copa. 

 

Mehdi Taremi, atacante do próprio Porto, por sua vez, vive excelente momento. ?? o artilheiro do clube, com nove gols e sete assistências em 13 jogos, e também costuma contribuir no time nacional. Nas eliminatórias asiáticas, balançou as redes em oito oportunidades. 

 

Após o fim da qualificatória para a Copa, o Irã conseguiu resultado expressivo contra o Uruguai, vencendo por 1 a 0. 

 

Por outro lado, o país vive um momento político complicado. Inúmeros protestos são realizados contra o regime teocrático dos aiatolás, em vigor desde 1979. A onda começou após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, após ser presa pela polícia da moral no país. 

 

Uma ordem de silêncio foi dada à seleção, mas Sardar Azmoun a quebrou, apoiando os protestos. Os rumores indicam que o elenco pode estar rachado.

 

Além disso, nesta terça-feira (25), um grupo de atletas iranianos enviou uma carta à Fifa pedindo a exclusão do país da Copa do Mundo. Aguardemos cenas dos próximos capítulos. 

 

POR FALAR EM POLÍTICA

A segunda rodada do Grupo B reserva um jogo que transcende as quatro linhas. Inglaterra e Estados Unidos protagonizaram quase uma década de guerra no século XVIII, que terminou com a independência dos americanos. Hoje, as relações políticas entre os dois países são menos tensas, mas no campo de jogo a rivalidade segue. 

 

De fora da Copa do Mundo de 2018, os EUA passaram por um processo de reconstrução e, com jogadores jovens, buscam surpreender em 2022. 

 

As eliminatórias da CONCACAF foram tensas. Com 25 pontos conquistados em 14 jogos, a equipe terminou o octogonal final na terceira colocação, atrás de Canadá e México. 

 

A campanha mostrou pontos positivos. Dentro de casa, por exemplo, os Estados Unidos venceram seis jogos e empataram um dos sete que disputaram. Fora, no entanto, o país venceu apenas uma vez, empatou três e perdeu três. 

 

Os principais destaques dessa seleção estão no ataque. Na ponta direita, Christian Pulisic, jogador do Chelsea, foi o artilheiro dos EUA nas eliminatórias, com 5 gols em 10 jogos. Na temporada 2022/23, contudo, o atacante tem sido reserva nos Blues. Das nove partidas que fez pelo clube, sete foram saindo do banco. 

 

A outra esperança é Jesús Ferreira, que, apesar de não ter números que saltam os olhos pela seleção, faz ótima temporada pelo New York City. O atacante – que pode jogar tanto centralizado como vindo de trás – marcou 18 gols e deu seis assistências em 37 jogos por seu clube na atual temporada. 

 

Ainda assim, passar para as oitavas de final já seria uma boa campanha para a seleção americana. 

 

MAIS POLÍTICA 

Como se já não bastasse toda a tensão política que envolve Inglaterra, Irã e Estados Unidos, calhou o destino de colocar País de Gales no mesmo grupo. 

 

O local já chegou a ser independente dos ingleses, no século XV, mas desde então faz parte do Reino Unido, ao lado também de Irlanda do Norte e Escócia. Portanto, mesmo tendo uma estrutura política própria, com um primeiro-ministro e tudo o mais, País de Gales tem de seguir uma lógica comum aos outros territórios da região. 

 

Os principais clubes de Gales, inclusive, como Swansea e Cardiff, disputam as ligas inglesas. 

 

A seleção tem ganhado destaque mais recentemente. Sua única outra participação foi em 1958, quando caiu – bom sinal? – para o Brasil nas quartas de final. A Canarinho, comandada por Pelé e Garrincha, sagrou-se campeã daquela edição. 

 

Desde então, País de Gales não conseguiu emplacar uma seleção forte, até a chegada de Gareth Bale. O atacante galês, que tem história em clubes como Tottenham e Real Madrid, elevou o patamar da equipe nacional. 

 

Em 2016, alavancada por Bale, a seleção participou de sua primeira Eurocopa e chegou “só” na terceira colocação, caindo para a campeã Portugal na semifinal. Em 2020, o país ficou nas oitavas de final. 

 

Para 2022, Gales não tem o mesmo apelo de outrora. Apesar de ser um time organizado, Bale não está mais em seu auge. Após conviver com uma série de lesões no Real Madrid, o jogador de 33 anos foi parar no Los Angeles FC, da Major League Soccer. Ele marcou 2 gols em 12 jogos na temporada. 

 

?? verdade, também, que foi Bale o principal responsável por levar seu país à Copa. Na repescagem, marcou os dois gols que deram a vitória por 2 a 1 sobre a Áustria e colocaram a seleção na disputa contra a Ucrânia pela última vaga. Gales venceu os ucranianos por 1 a 0, com gol contra de Yarmolenko. 

 

Uma coisa é certa: não dá para subestimar quem cresce diante das dificuldades. Com Gales – e com Bale -, costuma ser assim.

 

Palpite:

 

1) Inglaterra 
2) Irã 
3) País de Gales
4) Estados Unidos

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