Quase três a cada 10 empresas novas fecham em menos de um ano na Bahia

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Começou no quintal de casa, caiu no gosto dos amigos, dos conhecidos dos amigos e virou uma empresa com sede no Rio Vermelho. Em resumo, é essa a história da hamburgueria que Tércio Campelo, 26 anos, conduzia em parceria com dois sócios. Um negócio que surgiu em julho de 2021 e fechou em maio de 2022, 10 meses depois.

Histórias como a de Tércio não são incomuns na Bahia nos últimos anos, de acordo com informações da Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo Empresarial 2020,  pesquisa do IBGE que aponta que quase três (27,6%) a cada 10 empresas abertas na Bahia fecharam em menos de 365 dias. 

Números da Junta Comercial do Estado (Juceb) dos anos seguintes consolidam a tendência de fechamentos precoces. Isso porque, segundo o órgão, ao longo de 2021, 1.315 negócios fecharam antes de completar o primeiro aniversário. Em 2022, sem contar o último trimestre (outubro a dezembro), 1.404 empresas tiveram o mesmo destino.

Em 2021, as cidades baianas com mais empresas fechando em menos de 365 dias  foram Salvador (360), Lauro de Freitas (87) e Feira de Santana (82). Este ano, o ranking mantém as mesmas cidades na liderança: Salvador (410), Lauro de Freitas (95) e Feira de Santana (79).

A Demografia das Empresas do IBGE aponta que, entre os estados do Nordeste, a Bahia tem o maior volume de empresas, com 229.167 negócios. Porém, em termos absolutos, é também o estado que viu mais CNPJ’s fechados: 33.784. No entanto, teve menos fechamentos que praticamente todos os estados das regiões Sudeste e Sul – onde há mais empresas -, exceto em relação ao Espírito Santo e Santa Catarina.

A longo prazo, a história é outra. Das 31.747 unidades locais de empresas que começaram a funcionar em 2008, na Bahia, 21,7% (6.876) encerraram suas atividades antes de completar um ano (2009); 57,1% (18.113) foram extintas antes de cinco anos (2013); e só 21,7% ainda estavam em atividade em 2018, ou seja, 78,3% (24.855) fecharam antes de completar 10 anos.

Já em 2009, das 38.168 unidades locais de empresas que nasceram ou começaram a funcionar na Bahia, 23,0% (8.778) morreram antes de completar um ano. Mais da metade (61,2% ou 23.373) fecharam as portas antes de completar 5 anos, em 2014. Apenas 7.817 (20,5% das criadas em 2009) ainda estavam em atividade dez anos depois, em 2019. Ou seja, 79,5% (30.351 unidades empresariais) fracassaram em menos de dez anos de funcionamento.

Diante desse cenário, a taxa de sobrevivência de dez anos das empresas baianas passou de 21,7% em 2018, para 20,5% em 2019 e confirmou a tendência de queda em 2020, quando registrou 18,3%.

Quando dá errado 

Uma dessas 1404 empresas que fecharam ainda este ano sem completar 365 dias na ativa foi a de Tércio, do começo da reportagem. Ele conta que nos primeiros dois meses de funcionamento, o negócio deu lucro. No entanto, os ganhos foram diluindo e, nos últimos dois meses de gestão, os sócios estavam arcando com prejuízos, o que inviabilizou a continuidade do negócio. 

“A hamburgueria nunca foi a prioridade de nenhum dos sócios, cada um tinha sua vida profissional externa a isso. Começamos a pecar em gestão, como controle de descarte, avaliação do custo de mercadoria vendida e outros pontos que nos levaram aos prejuízos”, relata ele.

Os valores de mercado e a dificuldade em gestão fizeram mais vítimas entre os novos empresários no estado. Nutricionista, Sheila Paumann, 32, conduziu a Simplesfit, uma empresa que comercializava marmitas congeladas, até julho deste ano,  em Salvador. O negócio  deixou de existir por conta da elevação dos custos de produção das refeições. 

“Eu e minha sócia fizemos um planejamento com os custos de 2021, quando começamos. Porém, maquinário e tudo que precisávamos triplicou de valor. A gente chegou a pegar o quilo do tomate por R$ 10, coisas que não dava para esperar”, fala.

Com os custos lá em cima, a Simplesfit precisou aumentar os valores cobrados pelas marmitas que produzia. No entanto, por não conseguir pagar mais caro, muitos  clientes precisaram deixar de consumir o produto.

“A marmita mais barata era de R$ 16,  no começo. Depois, passou a ser R$ 19. Quando o pessoal saía [clientes desistiam das encomendas], falava que era pela situação econômica, por não conseguir arcar com os valores. Chegamos a ter 50 clientes, mas, quando fechamos,  eram entre 15 e 20 pessoas”, conta Sheila, que precisou fechar para não falir depois de pouco mais de um ano funcionando

Pandemia ainda reflete no fechamento de negócios

A pandemia ainda é a vilã para o fechamento de empresas no caso dos números levantados pelo IBGE em relação a 2020, aponta Luiz Mário, especialista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). “O comércio e serviços foram as empresas que mais sofreram pelo fechamento.

Principalmente aquelas que estavam começando as atividades, que abriram as portas em 2020 e não conseguiram demanda para se manter”, afirma.

No caso da sequência de fechamentos em 2021 e 2022, Anderson Teixeira, economista e analista do Sebrae, avalia que a situação tem a ver com a origem dos negócios: “57% dos baianos que abriram empresas estavam desempregados. Ou seja, boa parte dos que iniciaram o processo não fizeram isso por uma oportunidade de mercado, mas sim por necessidade. Eram pessoas que precisavam de renda”.

Paralelo ao fato de surgirem fora da situação ideal, Teixeira diz  que, em muitos casos, os empresários atribuíram o insucesso  à falta de preparo para o desafio.

“Aliado à questão de empreender por necessidade, os empresários não buscaram a qualificação  para si e a equipe. O que aponta para falta de experiência no ramo em que eles foram empreender”.

Saiba o que fazer para não fechar a empresa:

Planejamento – Antes de abrir um negócio, independente de qual seja  o setor, é preciso entender o modelo adequado, saber quem é seu público e ver se é viável a empresa ser ins- talada no ponto disponível;

Capital – ? importante verificar linhas de financiamento em mais de um banco e pegar a menor taxa de juros caso seja necessário investir no seu negócio, para não se prejudicar financeiramente;

Qualificação – ? fundamental investir em todos os recursos da empresa. Em quem comanda e em quem trabalha  em cada área. O conhecimento permitirá sucesso no seu setor

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