Enem trata dos povos tradicionais em ano de vitórias da ‘bancada do cocar’

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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ocorrido neste domingo (13/11), tem, como tema da redação, os “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” . Os estudantes precisam escrever sobre o assunto pouco mais de um mês após o país bater recorde no número de deputados federais eleitos após se autodeclararem indígenas – justamente uma das categorias de povos originários abarcada pelo tema da redação da edição deste ano do Enem.

A partir de 1° de fevereiro do próximo ano, cinco das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados vão ser ocupadas por parlamentares autodeclarados indígenas. Entre eles, estão a mineira Célia Xakriabá, eleita pelo Psol, e Sônia Guajajara, filiada ao mesmo partido, mas que concorreu por São Paulo. No Amapá, houve a vitória de Sílvia Waiãpi, do PL.

Dois deputados do PT também autodeclarados indígenas: Paulo Guedes (MG), reeleito, e Juliana Cardoso (SP).

Primeira mulher indígena a representar Minas Gerais no Congresso Nacional, Célia Xakriabá recebeu 101.154 votos. Doutora em antropologia, ela celebrou o assunto que pauta a redação do Enem.

“É tempo de olhar para a nossa ancestralidade, para a nossa cultura e para nossos povos originários. Que isso entre nas escolas e no imaginário de todos os brasileiros e brasileiras”, disse.

Segundo dados da Câmara dos Deputados, neste ano, o número de pessoas que se consideram indígenas a disputar a eleição geral foi o maior desde o início da autodeclaração, em 2014. Naquele ano, 89 indígenas tentaram cargos eletivos; quatro anos depois, o número chegou a 134. Em 2022, foram 178.

O governo federal reconhece, como povos tradicionais, as comunidades culturalmente diferenciadas, que possuem formas tradicionais de organização e, por muitas vezes, utilizam recursos naturais e terras para atos religiosos, de subsistência e a fim, também, de manter viva a ancestralidade. Nesses critérios, encaixam-se não apenas os índios, mas, também, quilombolas, extrativistas, geraizeiros e comunidades de matriz africana.

Roraima quebrou jejum de quase quatro décadas em 2018

Quatro anos atrás, quando Joênia Wapichana (Rede/RR) foi eleita deputada federal, um hiato de quase 37 anos sem um representante dos povos tradicionais em Brasília (DF). Desta vez, ela não conseguiu o triunfo.

Antes de Joênia, o único indígena eleito à Câmara havia sido o cacique Mário Juruna, escolhido pela população em 1982, quando concorreu pelo PDT do Rio de Janeiro. O índio xavante andava pelos corredores do Congresso com o terno e a gravata que compõem a indumentária de um parlamentar, mas não abria mão de ter, à cabeça, um cocar. Portava, também, um gravador, para se preservar nas conversas travadas com os colegas.

Falecido em 2002 e batizado Mario Dzuruna Butsé, o ex-parlamentar criou, na Câmara, a Comissão Permanente do Índio. O colegiado foi um embrião da atual Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Em 1985, Juruna chegou a acusar um empresário de tentar suborná-lo para votar em Paulo Maluf na eleição presidencial indireta – que acabou vencida por Tancredo Neves.

“(Juruna) lutou muito pela demarcação (de terras), defendeu direitos, denunciou várias invasões, mortes de lideranças e demarcações mal-feitas. Foi só um mandato. Ele denunciou várias vezes a corrupção no Congresso. Há aquela imagem dele devolvendo dinheiro de propina”, lembrou, no ano passado, em entrevista ao Estado de Minas, o neto de Juruna, Rafael Weree.

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