Professora dá ‘aulas de sentada’ para quebrar os tabus da sexualidade feminina

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Desde os anos 1990, as meninas do funk já sabem sentar. Mas, o que elas nem sempre sabiam era como transformar o mero fetiche sexual para satisfazer lascívia de marmanjo em poder e autoconhecimento. Mulheres gostam de sentar e de falar de sexo, como protagonistas e não coadjuvantes, sem tabus, sem amarras e sem preconceitos. É o que defende Sofia Seraphin, 27 anos, graduada em Dança pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e mestra em Dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ela tem um projeto sobre sexualidade feminina nas redes sociais, onde atua como ‘professora de sentada’. Isso mesmo, ensina outras mulheres a aumentarem a autoestima ao soltarem as amarras dos próprios desejos.

Usando os conhecimentos técnicos da dança e um pouco de teoria feminista aplicada, a professora, que nas redes usa o nome Sofia Shiiu (@sofiashiiu), orienta quem deseja seguir os passos de empoderamento de artistas como Anitta, Luísa Sonza e Ludmilla, que levantam a bandeira da liberdade das mulheres para serem e sentirem o que quiserem, inclusive gostar de sexo e discutir abertamente o assunto. As alunas têm entre 18 e 65 anos [as maduras também sentam], o que não significa, infelizmente, que as aulas pioneiras de Sofia não sofram preconceito e até a famigerada ação dos haters da internet. Os conservadores se chocam e os mais mal-educados mandam mensagens ofensivas e até violentas, referindo-se de forma preconceituosa ao ofício de Sofia.

A professora também já recebeu convites para ganhar dinheiro em troca de se mostrar exclusivamente para o público masculino [ah, o machismo de cada dia] e também mensagens de mulheres que desqualificam o trabalho que ela faz, por acharem um absurdo ela falar de posições sexuais e do quanto é gostoso uma mulher ter prazer. “Tem gente que critica e tem gente que entende e se beneficia dos conteúdos que eu produzo com o objetivo de romper as amarras impostas às mulheres pela sociedade, para começarem um processo de auto aceitação, libertação e de educar o próprio corpo para o seu prazer”, explica.

Gerações e tabus
Além da faixa etária diversificada, as alunas de Sofia são, em sua maioria, mulheres cis [que foram designadas mulheres ao nascer e assim se reconhecem] com diversas orientações sexuais. Mais de um milhão de pessoas acompanham o trabalho dela nas redes sociais, nem todo mundo necessariamente seguidor do perfil, pois, segundo Sofia, tem gente que gosta de acessar os conteúdos, mas tem vergonha de segui-la, por medo do que os outros vão pensar. Ela dá cursos online e ensina a rebolar, sentar e a entender e gostar do próprio corpo.

O curso mais recente se chama O Poder da Sentada, disponível na plataforma Hotmart, com aulas ao vivo e gravadas. Ela também tem o e-book ilustrado com técnicas de posições do “Shiiu”, como ela nomeia seu método. “O Shiiu surgiu justamente dessa mania que as pessoas têm de mandar falar baixo quando falamos de sexo. Eu sempre tive o sexo como algo natural, e falo abertamente sobre isso, mas em determinados lugares, as pessoas me mandavam falar baixo ou não falar sobre [o assunto], diziam ‘Sofia, shiiiiiu’, pedindo silêncio, e aí essa passou a ser a minha assinatura, uma provocação”, conta a professora.

“Gosto muito de falar sobre liberdade e libertação para as mulheres. Nós carregamos essa questão geracional, esses tabus impostos por avós e mães. Não a minha. Minha mãe sempre me ensinou sobre como me proteger e entender o sexo de uma forma natural. Com sensibilidade e informação, ela acompanhou minha vida e me orientou muito bem, sempre me respeitando e me fazendo entender como devemos ser respeitadas”, relata. 

Sofia diz ainda que sua mãe admira e entende seu trabalho, principalmente por causa dos resultados, porque ela ajuda outras mulheres a serem mais felizes. Os relatos de alunas que aplicaram suas técnicas podem ser lidos nas redes de Sofia.

Novos projetos
A professora de sentada diz que está aprimorando seu trabalho desde 2019, quando começou com o Shiiu. As aulas, o livro, que terá em breve nova edição, e novas linguagens estão em produção. “Cada mulher tem suas necessidades, sua maneira de movimentar o corpo. E muitas precisam apenas de uma orientação para conseguirem realizar os movimentos. Nem todas vão conseguir ou gostar de fazer todas as posições, mas vão saber que é possível com treino, autoconhecimento e consciência da relação com a outra pessoa, e com o tempo, vão vendo o que é bom para elas”, conta.

A psicóloga Ana Bárbara Neves (@anabarbaranevespsicologa), entende o prazer feminino como uma conquista, como foi a pílula anticoncepcional nos anos 1960, e até mesmo o voto, décadas antes da liberação sexual. 

“Se a gente for pensar na história da sexualidade feminina, antes da pílula anticoncepcional, as mulheres estavam sempre grávidas e cansadas. A mulher era criada para perpetuar a família, ser mãe e do lar. Depois do voto, da pílula, das discussões sobre a objetificação da mulher, das questões de gênero, raciais, que envolvem a construção da nossa subjetividade, isso impactou até nas relações parentais, porque sexo é poder, e quando você também domina, com posições sexuais ou expressando seus desejos, a relação do casal e até com os filhos, se transforma”, afirma Ana Bárbara.

Saiba Mais:
O Livro de Posições do Shiiu custa R$ 47,00 na plataforma Hotmart ou pode ser conseguido com desconto, acompanhando Sofia nas redes sociais.

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