Pesquisadores da Fiocruz detectam influenza A em pinguins na Antártica

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Um estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) detectou a presença do H11N2, um subtipo do vírus influenza A, em pinguins nas Ilhas Shetland do Sul, na Antártica. A informação, que corrobora a descoberta anterior desse subtipo no continente, foi publicada na na revista Microbiology Spectrum.

 

Os resultados estão no artigo intitulado Detecção de Influenza A (H11N2) em amostras fecais de pinguins-de-adélia (Pygoscelis adeliae) e de-barbicha (Pygoscelis antarcticus), Ilha dos Pinguins, Antártica, que sugere “sua circulação contínua no continente” e “reforça a necessidade da vigilância constante da gripe aviária” na Antártica.

 

Para os pesquisadores do Fioantar, o projeto da Fiocruz na Antártica, é possível que esse subtipo seja endêmico. E, embora não cause doenças graves nos pinguins, não se sabe como agiria em outros animais. A escassez de estudos sobre o vírus influenza em aves na América do Sul também dificulta traçar a origem do H11N2, explica Maria Ogrzewalska, pesquisadora do Fioantar e do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). “É importante em termos de vigilância saber o que está acontecendo lá, mas também temos a necessidade de saber o que acontece aqui, onde temos uma biodiversidade enorme em aves”, comenta Maria.

 

Um total de 95 amostras de fezes de aves foram coletadas nas expedições de 2019/20 do Fioantar em colônias de pinguins das Ilhas Shetland do Sul e testadas com exames RT-PCR. Cinco em sete amostras da Ilha Pinguim foram positivas para vírus de gripe aviária. A análise de genomas de quatro delas revelou a presença do H11N2 em pinguins-de-adélia e pinguins-de-barbicha pela primeira vez na ilha. O mesmo subtipo havia sido detectado na década de 2010 em outros pontos do arquipélago e da península Antártica. 

 

“O conhecimento desse vírus é importante porque ele ainda não foi identificado aqui, no Brasil. É importante para o acervo porque vai dando uma noção da diversidade do influenza e do que pode estar circulando naquelas espécies animais”, explica o virologista Fernando Couto Motta, pesquisador do Fioantar e do mesmo laboratório do IOC/Fiocruz. “Vivemos um momento de muita alteração no ambiente antártico e periantártico. O conhecimento do que existe lá permite que, numa situação em que ocorra um desequilíbrio, possamos entender o tamanho desse desequilíbrio e suas consequências”.

 

A cada primavera, mais de 100 milhões de aves (principalmente pinguins, mas também skuas e gaivotas, entre outros) se reproduzem ao redor da costa rochosa da Antártida e nas ilhas. Elas se reúnem em grandes colônias, compartilhando habitat. Durante o inverno, muitas migram para a América do Sul, África, ou áreas mais distantes, como Austrália e Nova Zelândia.

 

O artigo enfatiza “a necessidade do monitoramento uma vez que os vírus aviários podem ter implicações para a saúde da fauna endêmica e potencial risco de introdução de um vírus altamente patogênico no continente”. 

 

Além de Maria e Fernando, participaram do estudo os pesquisadores Paola Cristina Resende, Tulio Fumian, Ana Carolina da Fonseca Mendonça, Luciana Reis Appolinario, Martha Lima Brandão, Marcia Chame, Ighor Leonardo Arantes Gomes e Marilda Mendonça Siqueira.

 

Para os pesquisadores, os próximos passos incluem continuar a buscar não só influenza, mas também outros vírus de interesse, como coronavírus, e lançar mão da metagenômica. “Uma coisa é fazer uma investigação direcionada, ter uma lista de vírus e buscar se algum deles está presente nas amostras. Outra é a metagenômica, tentar fazer a identificação do material genético sem conhecimento preliminar. É o que se pode chamar de sequenciamento genético agnóstico: sequencia tudo e depois tenta identificar o que está aí. Esse trabalho demanda mais recursos e tempo de processamento”, comenta Fernando. “Esses estudos refletem o esforço da Fiocruz e do país em estar ali, investigando a microbiota presente na fauna antártica”.

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