Camisa da Seleção Brasileira, bandeira, pandeiro para fazer aquele barulho e gogó afiado: “Olê, olê, olá, sou brasileiro e estou na Copa do Catar. Olê, olê, olá, Celinho e Claudinho vão para a Copa do Catar”. Pai e filho estão prontos para curtir juntos a Copa do Mundo, que começou domingo e vai até 18 de dezembro.
Os baianos Célio, 68 anos, e Cláudio Ferreira, 36, chegarão a Doha nesta terça-feira (22) e, na quinta (24), estarão no estádio Lusail para ver de perto a estreia do Brasil contra a Sérvia, às 16h (de Brasília). Também estarão na arquibancada nos outros dois jogos da fase classificatória, contra Suíça e Camarões, e enquanto a Seleção de Tite avançar na competição. “Já está tudo organizado e comprado. Temos hotel e ingressos até a final”, conta Cláudio, confiante de que o hexa será comemorado no país árabe.
“Eu não vou para lá achando que o Brasil vai ficar em terceiro lugar. Dessa vez eu quero o hexa”, avisou Célio, em conversa com a reportagem antes do embarque. “O ataque está bom com Pedro, Vini Júnior e Neymar. Eles estão treinando toque de bola rápido. Confio em Tite, mas quem ganha jogo são os jogadores”, completou o contador, que aposta num placar discreto e tranquilo na estreia: “O Brasil vai dar 2×0 na Sérvia”.
Os adversários da fase de grupos também não preocupam Cláudio. Ele está atento é ao mata-mata. “Pelos estudos que já fiz de chaveamento, me preocupam Argentina, Alemanha e França, mas acho que o Brasil vence todos. É rumo ao hexa total, estou confiante”, vibra o filho, que herdou do pai a profissão e a empolgação pelo Mundial.
As aventuras de Célio em Copas do Mundo começaram em 1982, na Espanha. Era recém-casado e tinha acabado de ser pai. “Eu já tinha alguma reserva de trabalho guardado e ainda acertei uma zebra na loteria esportiva, o Cruzeiro perdendo para o Anapolina dentro do Mineirão. Ganhei sozinho em Salvador e deu um dinheirinho bom, aí fui para a Copa do Mundo de navio, um sucesso total”, lembra com detalhes, 40 anos depois.
A filha mais velha, Marília, tinha apenas quatro meses e ficou sob os cuidados de parentes, já que a esposa Cristina viajou com ele para a nova lua de mel. Foram 45 dias dentro da embarcação, que parava nos portos das cidades onde o Brasil jogava (Sevilla na primeira fase e Barcelona na segunda). De negativo, apenas a saudade da pequena e a eliminação para a Itália.
“Foi muito legal, mas deu uma tristeza violenta. Eu estava atrás do gol de Waldir Peres. Paolo Rossi vinha e ele não fazia nada”, recorda Célio. O atacante italiano foi o grande carrasco brasileiro ao assinar os três gols do placar de 3×2 no estádio Sarriá, em Barcelona. Sócrates e Falcão anotaram os gols da seleção verde e amarela.
“Depois que acabou o jogo, eu assisti a um campo de lamentações. Todo mundo chorando, jogando bandeiras e camisas fora. Mas eu vi que não poderia me acabar porque o Brasil perdeu e continuei minha trajetória cantando e dançando pela rua. Ficamos até a final e só depois o navio voltou”, conta. Na decisão, em Madri, a Itália ganhou por 3×1 da Alemanha Ocidental e comemorou o tri.
Cristina foi a companheira dele em outras seis viagens para Copas no exterior: México, em 1986; Itália, em 1990; Estados Unidos, em 1994; França, em 1998; Alemanha, em 2006; e África do Sul, em 2010. “A lua de mel na Copa era diferenciada, com sabor esportivo”, diverte-se Célio. Eles só não foram para a de 2002, sediada no Japão e na Coreia do Sul. “Pela dificuldade da distância, da língua e dos valores. Iria gastar um dinheiro muito grande e fiquei com medo de ir”, explica.
Na Copa dos Estados Unidos, a filha Marília, na época com 12 anos, também foi com o casal. A menina foi pé quente e viu de perto o Brasil conquistar o tetra com Bebeto e Romário, mas vetou a ida dos irmãos a outros Mundiais. “A promessa era que eu iria levar cada filho em uma Copa, só que depois de Marília eu desisti. Ela só queria pular, tomar sorvete, eu não podia entrar nos lugares porque estava com criança, aí me atrapalhou”, diz Célio.
Por isso, o filho Cláudio só se juntou ao casal em 2014, já com 28 anos, na edição realizada no Brasil, a última vista de perto por Cristina. Já com menos disposição física, a esposa não foi para a Rússia, em 2018. Ficou em Salvador com as filhas Marília e Laís e acompanhou de longe os relatos da primeira viagem de Célio e Cláudio sozinhos, iniciando assim o que gostam de chamar de “paiceria”. Com ajuda da tecnologia, o filho passou a cuidar de tudo: reservas, ingressos, hospedagem, deslocamentos.
“Agora o filho toma conta do pai, porque eu curto mesmo. Não tem passeio igual a ir a uma Copa do Mundo. Você pode viajar para São Paulo, Rio de Janeiro, Europa… A Copa do Mundo é sucesso, pois tem a confraternização dos povos, você fala 32 línguas ao mesmo tempo, é legal demais”, afirma Célio, que não fala outros idiomas, mas se vira para se comunicar em território estrangeiro. “Eu faço um dicionário fonético e vou gravando como a gente escuta na tradução”, explicou, antes de pronunciar um monte de palavras que já sabe em árabe.
A caminho da sua 10ª Copa, Célio tem dificuldade para eleger a que mais o emocionou. “A Copa do Mundo é o motivo perfeito para fazer loucuras em nome da felicidade. Emoção tem em todas. O que fica mais emocionante é como você faz a Copa. Se mistura, canta, dança. Eu gostei muito da Alemanha e da França, porque as festas eram grandes. A que me surpreendeu foi a da Rússia. Foi emocionante. Tinha a ideia de que os russos eram fechados, com uma língua difícil de falar. Que nada, foi sucesso. Eles gostavam demais da gente. Na rua era alegria o tempo todo. Abraçavam, queriam tirar foto. Eles davam vodca a todo mundo na rua. Eu esperava os meus amigos beberem primeiro para ver se alguém passava mal”, conta, em meio a risos, já ansioso pelas memórias que vai guardar do Catar.
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