Adversária do Brasil, Croácia tem sua melhor geração da história

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Mesmo depois do inédito vice-campeonato na Copa da Rússia, em 2018, a classificação da Croácia para as quartas de final no Catar também pode ser considerada mais um fato histórico na curta trajetória da seleção no futebol. Esta é apenas a sexta vez que a equipe europeia disputa o Mundial, sendo que em metade conseguiu passar das oitavas de final. 

Por mais que a geração semifinalista na Copa de 1998 tenha sido o primeiro grande ‘boom’ no futebol do país, a Croácia passou por uma acentuada evolução ao longo da última década e, hoje, não é exagero considerá-la uma potência europeia.

Mas, diferentemente de outros países, que tiveram seu sucesso no Mundial associado a uma modernização dos clubes e alto rendimento das ligas nacionais, a Croácia não se destaca com suas equipes em torneios continentais, como Liga dos Campeões, Liga Europa nem mesmo a Liga da Conferência – do terceiro escalão europeu, criada há duas temporadas. Então, de onde vem a resposta para o sucesso do país em um campeonato tão forte como a Copa do Mundo, além das boas campanhas em Eliminatórias e Liga das Nações? 

A resposta que talvez melhor represente esse cenário pode ser clichê, mas é a safra de talentos. A atual geração (que inclui os vice-campeões de 2018) é a melhor já vista no país – ainda que tenha sido uma surpresa vê-la na final contra a França há quatro anos. Não só pelos resultados, mas pelo que alguns atletas representam no futebol mundial.

Quem encabeça isso é Luka Modri?. O camisa 10 da Croácia e do Real Madrid é um dos melhores meias do futebol atual e consegue desempenhar um grande papel tanto defensivo quanto ofensivo. As atuações pelo clube espanhol, onde está há dez anos, somadas à campanha histórica na Rússia lhe renderam o prêmio de melhor jogador do mundo, melhor da Copa e melhor jogador na Europa na temporada 2017/18. É o único atleta da história a ter esse feito. 

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Seleção croata comemora classificação diante do Japão nas oitavas (Foto: Divulgação/Fifa/Twitter)

E como bons times não são feitos de um único jogador, é certo destacar outros nomes desta geração, como Perisi?, Kovaci?, Brozovi? e Kramari?, que integram o elenco na Copa, além de outros que não fazem mais parte do ciclo da seleção, como Rakti? e Manduzuki?.

Ainda que alguns dos jogadores do elenco vice-campeão na Rússia não estejam disputando o Mundial no Catar, a filosofia de trabalho foi mantida e outros nomes surgiram com destaque, a exemplo do zagueiro Joško Gvardiol, de 20 anos, que atua no RB Leipzig, da Alemanha, e ganhou a vaga de titular no lugar de uma das referências técnicas e de liderança do time, o ex-capitão Domagoj Vida.

Outro fator que se tornou importante para o crescimento gradual da seleção foi a manutenção do técnico Zlatko Dali?, que chegou em 2017 e está no seu segundo ciclo de Copa do Mundo, o primeiro de forma completa. Um dos principais méritos do treinador croata foi tornar a defesa mais sólida. Na fase de grupos de 2018, passou sofrendo apenas um gol na primeira fase. Na sequência de mata-mata, o jogo que realmente furou a defesa croata foi a final contra a França, em que perdeu por 4×2. A receita se repete nesta edição. A Croácia, ao lado de Marrocos, tem a melhor defesa da Copa, com apenas um gol sofrido. A defesa brasileira já ficou para trás e sofreu dois gols.

A primeira ‘geração de ouro’

Falar da geração da década de 1990 da Croácia não traz respostas diretas sobre o atual sucesso do país no Mundial. Mas ela não deve ser ignorada e deve ser vista como um espelho para o atual grupo, mostrando que o futebol sempre fez parte da história dos croatas, ainda que não fossem reconhecidos assim. 

A Croácia é uma das nações formadas após a dissolução da antiga Iugoslávia, que era comandada pelo líder militar Josip Broz Tito, do Partido Comunista. A história da Iugoslávia em Copas do Mundo gerou inclusive uma certa rivalidade com a Seleção Brasileira, já que é o quarto país que mais vezes enfrentou o Brasil em Mundiais, com quatro confrontos. Uma vitória para cada lado, em 1930 para os iugoslavos por 2×1 e em 1950 para o Brasil por 2×0, além de dois empates: 1×1 em 1954, na Copa da Suíça, e 0x0 na Copa de 74, na Alemanha.

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Croácia conquistou o 3º lugar na Copa de 98 após ser eliminada pela França nas semis (Foto: Reprodução/Twitter)

Em 1991, já após a morte de Tito e em meio ao processo que resultaria na dissolução da Iugoslávia, a Croácia declarou sua independência. Em 96, no seu primeiro grande campeonato de seleções, chegou às quartas de final da Eurocopa, disputada na Inglaterra, e caiu diante da Alemanha. Dois anos mais tarde, foi a zebra da Copa de 98 na França, quando alcançou as semifinais e perdeu de virada para os donos da casa e futuros campeões, por 2×1.

Deixou pelo caminho a Romênia, a Alemanha e ainda a Holanda na disputa de 3º lugar. Aquela foi a primeira vez que a Croácia se viu no centro das atenções do futebol mundial como nação independente, com um elenco formado pelo atacante e ídolo do país Davor Suker (artilheiro daquela Copa com seis gols), além do meia e capitão Boban, do outro meia Prosinecki e do lateral Jarni. 

Rivalidade na Iugoslávia

A escola croata deriva do futebol iugoslavo que, vivendo seu auge como nação, tinha um dos campeonatos nacionais mais disputados, por mais que tecnicamente não estivesse no topo. A bola alimentou a rivalidade entre croatas e sérvios – já grande o suficiente por questões que remontam à 2ª Guerra Mundial e a diferenças étnicas -, acirrando uma rivalidade de décadas dos times croatas, como Dínamo Zagreb e Hajduk Split, com as equipes sérvias do Estrela Vermelha e do Partizan Belgrado.

Entre 1923 e 1940, o lado croata da bola teve mais representatividade, com 10 títulos ao todo. Enquanto de 1945 até o fim da antiga Iugoslávia, em 1992, houve predominância sérvia, com 28 títulos, contra 11 dos croatas.

Ou seja, tanto como Iugoslávia ou como país independente, a Croácia sempre esteve conectada com o futebol. E é difícil afirmar se, após essa segunda geração de ouro virá uma terceira para dar sequência às boas campanhas em Mundiais. Certo é que, contra o Brasil, mesmo com todas as dificuldades que mostrou até agora na Copa do Catar, o elenco comandado pelo técnico Zlatko Dali? quer dar continuidade à história que vem sendo tão bem escrita nesta última década.

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Hajduk Split e Estrela Vermelha em jogo na década de 1970 (Foto: Reprodução/Twitter)

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