Melhores momentos da Copa do Mundo no Catar

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A criação dos primeiros jogos, ainda na Antiguidade Clássica, estava relacionada à “paideia”, impossível de traduzir, algo próximo como a formação do caráter, por práticas virtuosas, aquilo mais conhecido por “educação”.

Um esforço para identificar na Copa recém-encerrada alguns vestígios deste desporto original pode resultar na seleção de sete momentos emblemáticos, nos quais o conhecimento, a justiça, a moderação e a coragem estiveram presentes.

O primeiro deles teria sido proporcionado pelos marroquinos Boufal e Hakimi, ao lembrarem de suas respectivas mamães após vitórias decisivas de seu país, o primeiro semifinalista africano da história das Copas.

Boufal foi buscar a mãe e a trouxe para o campo, dançando juntos, enquanto Hakimi subiu para beijar a genitora nas arquibancadas. Este gesto incentiva amar nossas mães e compartilhar com elas a vida, pois saímos de seus úteros.

Outro bom momento de Marrocos ressaltou o valor fraternidade, ao lembrar da Palestina, comemorando com a bandeira dos árabes espremidos em Gaza e na Cisjordânia.

Como se sabe, a Palestina existe para a Fifa, mas seus cidadãos vivem em situação conflituosa com Israel, ao terem seus territórios ocupados por colonos judeus, resistindo às vezes com uso de pedras em luta desigual contra ogivas.

Mais um golaço moral desta Copa foi o protesto de Ismaila Sarr, do Senegal, embora pouco divulgado, afinal refere-se à Àfrica, onde ainda hoje se extraem riquezas sem a contrapartida equivalente pelos países europeus e Estados Unidos.

Ao marcar o primeiro gol na vitória sobre o Equador por 2×1, o atacante vedou os olhos com uma mão e com a outra imitou o gesto de uma arma disparada contra a cabeça. Teve coragem de denunciar guerras ignoradas pelo Ocidente.

O gesto visava chamar a atenção para a África, pois a partilha do continente pelas potências ocidentais não levou em conta as disputas de etnias e grupos religiosos, gerando tensões e genocídios.

Por outro lado, países ricos em minérios têm seus povos passando fome por conta da desmesura de empresas fabricantes de celulares e carros elétricos, forçando crianças a escavarem minas com as mãos em busca de cobalto.

Conhecimento e justiça estiveram juntos na arbitragem da francesa Stephanie Frappart, formando o trio com a brasileira Neuza Back e a mexicana Karen Díaz, na primeira vez de mulheres apitando jogos em Copas de homens, na vitória da Alemanha, por 4×2, sobre Costa Rica.

A desigualdade no tratamento de gêneros no Irã, com denúncias à polícia da moralidade dos aiatolás, também deu protagonismo à luta das mulheres, com a visibilidade obtida na cobertura dos jogos pela imprensa mundial.

Diante da desigualdade no planeta, com tanta gente passando fome, quem degustou pratos caríssimos em receitas exóticas temperadas a ouro, produziu forte indignação, demonstrando resistência à estupidez humana.

Por fim, podemos aprender com os argentinos as virtudes da seriedade, da união e da persistência, pois saíram na frente do marcador, botando 2×0 contra Holanda e França, sofreram o empate, voltaram a hesitar contra os franceses, mas conquistaram a Copa pelas mãos de Martínez e os pés de Messi. Mostraram uma firmeza de verdadeiros tricampeões.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.

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