Allan do Carmo explica aposentadoria: ‘Corpo e cabeça cansados’

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As braçadas dedicadas à maratona aquática de alto rendimento agora fazem parte do passado. Aos 33 anos, 26 deles como nadador, o baiano Allan do Carmo decidiu se aposentar. A Travessia Itaparica-Salvador foi a prova derradeira disputada por ele, no último dia 10. Depois de ganhar seis vezes, quando ainda era chamada de Mar Grande-Salvador, Allan ficou fora do pódio, mas garante não ter se incomodado em chegar na quarta colocação.

Estava em busca de outras emoções na despedida. Afinal, títulos ele tem de sobra, como o da Copa do Mundo e de melhor atleta da modalidade no planeta, em 2014. Foi tricampeão sul-americano e ganhou medalhas em Jogos Pan-Americanos, Mundial de Desportos Aquáticos e Jogos Mundiais Militares. Além disso, participou dos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, e de 2016, no Rio de Janeiro.  

O corpo e a mente pediam descanso da rotina e disciplina que um atleta de alto rendimento precisa ter. Ainda com residência fixada no Rio de Janeiro, ele está de férias em Salvador e concedeu entrevista ao CORREIO.

No bate-papo, revisitou feitos do passado e falou dos planos para o seu futuro. Alguns já estão bem estruturados, como a assessoria de natação para águas abertas que lançou. Terminar a faculdade de Educação Física, que cursa no formato EAD, também está entre as metas. 

O que foi determinante para você decidir se aposentar neste momento?
Foi uma opção que eu já tinha pensado no ano passado, mas decidi estender mais um ano. Eu tinha conversado com Fernando Possenti, meu treinador, e ele falou que me apoiava em todas as decisões, mas que achava que eu teria condições de seguir mais um ano e fiz essa opção de seguir. Tinha um grupo muito bom lá no Rio de Janeiro, eu gostava de treinar, mas esse ano acabou sendo um pouco mais desgastante para mim e pensei ‘agora realmente já deu’. Corpo cansado. A cabeça cansa também e eu senti que era hora. Agora é definitivo. Eu já estava cansado, desgastado da rotina e optei por tomar essa decisão em definitivo de parar, de seguir outra rotina, outros caminhos. 

Como foi nadar a última prova?
Eu fui nadar por esse último momento. Eu não estava vidrado em resultado, em posição. Fui para curtir. Claro que chega lá a gente tem aquela veia competitiva, mas eu fui para curtir todo o momento. Me senti muito bem nadando. Aproveitei desde a travessia da ilha de barco até a chegada lá com todo mundo, com toda a torcida. Escolhi essa prova porque a gente não nada sozinho, tem o treinador ao lado no barco, meu pai, o guia, a torcida no Porto da Barra. A gente arrecadou mais de 300 kg de alimentos para doação com a troca de camisas da torcida que a gente sempre faz.

Você terminou em 4º lugar. O que achou do resultado?
Claro que a gente sempre quer ganhar, mas eu queria era curtir o momento, até pela minha história. Allan não entrou na natação para ser campeão, foi um menino que entrou para gastar energia. Minha última prova foi isso. Entrei para gastar energia e aproveitar esse momento, pois minha história sempre foi em volta da minha família, que é minha torcida, as pessoas que me acompanham, e eu queria aproveitar esse último momento junto com eles. Esse era o significado para mim dessa última prova. Mas foi uma prova que eu nadei super bem. Cheguei ali no final disputando. Foi na batida de mão o segundo, terceiro e quarto. Foi uma prova muito estratégica.

E o futuro? O que você pretende fazer a partir de agora?
Eu abri agora uma assessoria online de natação para águas abertas, junto com Diogo Villarinho e o pai dele, André Villarinho, a Mako Assessoria. Mako é referente a um tubarão rápido e que convive em grupo, tem um significado pra gente, a equipe Mako. A nossa assessoria vai ser online. Inicialmente, André será o cabeça da equipe. Eu e Diogo entramos como estagiários, pois estamos no sexto semestre da faculdade de Educação Física. A gente vai usar nossos estudos e experiência dentro da água de atleta para atleta. 

Vai se dedicar apenas a isso ou tem outros planos?
Tenho outros planos que ainda não estão certos. Eu tenho algumas coisas na área comercial e outras sobre dar palestras. 

Algum arrependimento ou faria algo diferente?
Nenhum. E não faria nada diferente. 

Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
A medalha do Pan em 2007 e a classificação para a Olimpíada em 2015. Esses dois foram os mais marcantes.

De que forma a sua experiência no esporte te transformou?
Me construiu, desde os sete anos. Eu fui construído e educado através do esporte. Todas as minhas características acho que são da modalidade, do esporte, de um cara que passa uma tranquilidade, calmo, com toda experiência de viver em grupo. 

O que de mais importante você leva da sua experiência com o esporte?
Levo uma faculdade da vida. O processo de resiliência, de treinamento, de renovação, de ganhar e perder, de saber entender a derrota e a vitória. Nem toda vitória é o melhor resultado e nem toda derrota é o pior resultado. De ter essa leitura das coisas. Saber ler as situações. Passei por muitas situações difíceis e vitoriosas. 

Qual foi o momento mais triste da sua carreira de nadador?
Quando eu fiquei fora da Olimpíada em 2012 e quando houve o processo em 2010 que o nadador faleceu na prova, em Dubai, na final da Copa do Mundo. Eu estava disputando com ele, fui para o hospital.

Nota da redação: o americano Fran Crippen, ouro no Pan do Rio-2007, morreu durante a prova e Allan foi internado por desidratação por causa do calor. A temperatura da água estava em 32ºC, valor que é proibido pelas regras atuais da Fina. A mudança ocorreu após a morte de Crippen.

Pretende continuar se exercitando e nadando?
Estou tentando. Primeiro tenho que entrar numa rotina, estabelecer uma. Pretendo continuar nadando, fazer algumas provas sem tanta responsabilidade. 

O que não podia fazer quando era atleta que deseja fazer agora?
Quero construir uma nova rotina. Agora eu vou poder ter uma liberdade maior para aproveitar com a família e os amigos, ter mais tempo no final de semana. Quero continuar tendo o cultivo do corpo e do descanso, mas poderei deixar isso um pouco de lado às vezes para dormir até mais tarde ou viajar num final de semana sem prejudicar minha segunda-feira. Pequenos detalhes. 

Qual a mensagem que você dá para os atletas que estão começando na maratona aquática?
A dedicação, o amor, a energia que a gente aplica naquilo que a gente quer, sonha, coloca como objetivo, é muito importante. Tem que dedicar e abdicar tempo. Vão ter momentos bons e ruins. É saber também avaliar que nem tudo que for ruim está errado e que nem tudo que for bom está certo. Avaliar, se dedicar, se entregar e fazer acontecer. As coisas não caem do céu. Nunca vai ser sorte. Vai ser muito trabalho, amor, carinho e dedicação.

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