Livro registra vida de mestre Pastinha pelo olhar de Gildo Alfinete

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O ano era 1963. Depois de quatro anos treinando com o mestre Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, finalmente, Gildo Lemos Couto recebia o diploma de capoeirista. Aprender a luta era uma forma de enfrentar os desafetos que teimavam em mexer com aquele rapaz que, de tão magrinho, ganhou a alcunha de Alfinete. Junto com a ginga, a malícia, Mestre Gildo Alfinete também começou a colecionar fotos e todos os registros da vida ao lado de um dos maiores nomes da capoeira Angola. 

Se vivo anda estivesse, Mestre Gildo Alfinete estaria comemorando o lançamento do livro “Capoeira Angola Mundo Afora – uma jornada com mestre Pastinha”, na tarde dessa terça-feira, 27, ao lado do irmão mais novo Genésio Lemos Couto e da filha Carolina Couto. O lançamento da obra foi realizado na sede da Associação Brasileira de Capoeira Angola(ABCA), na Rua Gregório de Mattos, 86, no Pelourinho, mas as homenagens foram feitas pelas ruas do centro histórico de Salvador, na forma de roda de capoeira, durante o encontro anual dos praticantes da Angola, a famosa Roda da Paz, e um cortejo que foi até o Terreiro de Jesus. 

“Registrar toda a trajetória de vida ao lado de Pastinha era o sonho de meu irmão, mas ele não teve tempo de concluir. Por isso, decidimos fazer isso por ele”, contou Genésio, conhecido como Contramestre Meio Quilo. 

Sonho concretizado

Empresário em São Paulo, Genésio disse que a decisão de concretizar o desejo do irmão se fortaleceu depois de sonhar quatro noites seguidas com o irmão cobrando a publicação do livro. “Uni forças com os meus sobrinhos e saímos recolhendo o acervo que ele guardou para garantir essa publicação. Foram três anos de pesquisa árdua e, de maio para cá, redobramos os esforços para que o livro estivesse pronto”, contou.

Psicóloga de formação, Carolina fez questão de lembrar que o processo de identificação e catalogação do acervo foi desafiador e muito instigante. “Achei um telegrama de Jorge Amado para o meu pai que estava guardado na gaveta de cueca e meia”, relata, lembrando que os registros colecionados pelo pai começaram quando ele tinha 23 anos, logo após a diplomação e seguiram por toda a vida de Gildo, que faleceu em 2015. 

Carolina destacou que, após a morte de Mestre Pastinha, Gildo Alfinete se transformou numa espécie de embaixador da Capoeira Angola no mundo. “Dois meses após os atentados contra as Torres Gêmeas, em Nova Iorque, meu pai foi convidado para falar sobre a preservação dessa arte genuinamente brasileira nos Estados Unidos. Achávamos que o evento seria cancelado pela gravidade da situação e pelo fato da cidade ainda estar enlutada, no entanto, o evento foi mantido”, rememorou a psicóloga, destacando a importância do trabalho de preservação realizado por Mestre Alfinete.

Genésio Couto fez questão de ressaltar que todos os valores arrecadados com a venda da obra serão revertidos para a própria ABCA, a Associação Nigolo (em Caruaru, Pernambuco), a Associação Origem Angola(em Natal, Rio Grande do Norte) e a ACGL, em Brasília. 

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