Se Figueiredo, Sarney, FHC e Bolsonaro puderam, por que Lula, não?

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Na terça-feira, 22 de janeiro de 2002, ano eleitoral, o presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou seu programa semanal de rádio “Palavra do Presidente” para falar sobre o empenho do governo federal em resolver o problema da violência no país.

“Será uma guerra contra o crime e pela paz na sociedade”, ele disse, ao anunciar a criação de uma força-tarefa, “à semelhança do que fizemos com a crise de energia” para resolver, sem entraves burocráticos, as dificuldades para o combate à violência”.

 A força-tarefa uniria a Polícia Federal, as polícias de São Paulo, o Banco Central e a Receita Federal. “Isso tudo com o objetivo de acabar com a violência, de acabar com a insegurança, de fazer com que o Brasil volte a ser um país de paz”, segundo o presidente.

Entre as medidas que seriam adotadas, estava a proibição do uso do telefone celular pré-pago que passara a ser usado como instrumento do crime, e o emprego de bloqueadores “para impedir a comunicação entre presidiários e os seus cúmplices”.

Antes e depois de Fernando Henrique, presidentes se valeram do rádio para se comunicar diretamente com os brasileiros. Getúlio Vargas talvez tenha sido o primeiro. Foi no seu governo que se criou o programa “A Voz do Brasil”, até hoje no ar.

João Baptista Figueiredo, o último general-presidente da ditadura de 64, deu um passo adiante. O programa “O Povo e o Presidente” ia ao ar, aos domingos, na Rede Globo de Televisão após o “Fantástico”. Durou só um ano. O general não se sentia à vontade.

O pioneiro no uso do rádio como instrumento de governo foi o presidente americano Franklin Roosevelt, em 1933. Inspirado no seu programa “Conversas ao Pé do Fogo”, o presidente José Sarney criou o dele com o nome de “Conversa ao Pé do Rádio”.

O de Sarney estreou em outubro de 1985 e teve duas edições às sextas-feiras: às 6h e às 19h30. Foi até ao final do seu mandato. Durante a Assembleia Nacional Constituinte de 88, serviu para que Sarney defendesse seu governo e criticasse o Congresso.

Lula e Dilma seguiram a tradição. Com uma diferença: o programa de Lula chamava-se “Café com o Presidente”; o de Dilma, “Café com a Presidenta”. Dilma fazia questão de se apresentar como “presidenta”, a primeira mulher a governar o país.

Ninguém reclamou quando Bolsonaro inventou as conversas com devotos no cercadinho do Palácio da Alvorada, e depois as lives das quintas-feiras no Facebook, com retransmissão direta por canais bolsonaristas no Youtube, entre eles a Jovem Pan.

Na era das redes sociais, nada mais moderno do que um presidente que sabe utilizá-las para comunicar-se com seus governados. Mas, agora, foi só vazar a notícia de que Lula pensa em fazer um podcast para que o mundo comece a desabar sobre a cabeça dele.

Podcast? Para quê? Para governar diretamente com o povo, prescindindo dos canais mais comuns ao regime democrático, como os partidos políticos e a imprensa? O podcast vai virar mera ação de propaganda. A democracia será enfraquecida.

Lula foi útil para que o país se livrasse de Bolsonaro. Para mais do que isso, não presta. A não ser que governe como quer o sistema, o grande responsável pela construção de um dos países socialmente mais desiguais do planeta.

Ecos do discurso de posse que em 1985 o presidente conservador Tancredo Neves não leu porque morreu:

”Nosso progresso político deveu-se mais à força reivindicadora dos homens do povo do que à consciência das elites.”

”Desprovido de fortuna, o trabalhador só pode sentir como seu o patrimônio comum da nação […]. Nada tendo de seu, ou tendo muito pouco, está poupado do egoísmo dos que possuem e disposto a defender a esperança, que para ele está no crescimento do Brasil.”

”A pátria dos pobres está sempre no futuro e, por isso, em seu instinto, eles se colocam à frente da história”.

”A história nos tem mostrado que, invariavelmente, o exacerbado egoísmo das classes dirigentes as tem conduzido ao suicídio total.”

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