A Festa Literária da Portela, FLIPortela, que está em sua terceira edição, é uma das atividades já programadas no extenso calendário de eventos e festejos para comemorar o centenário da Portela, celebrado em 11 de abril. O encontro começa nesta sexta-feira (28) e termina no domingo (30), na quadra da Majestade do Samba, como a agremiação é chamada, na zona norte do Rio.
“A programação conta com atividades para alunos da rede pública, debates, lançamentos de livros, saraus de poesias, muitas homenagens à história portelense e, claro, a principal conversa de sambista, que é samba”, diz o site da tradicional azul e branco.
“Neste 2023, celebramos um século de tradição, iniciada nos quintais e terreiros de Oswaldo Cruz e Madureira e que se tornou não só uma potência na expressão cultural que ajudou a moldar como um patrimônio do Rio.”
Os organizadores prometem muita descontração: “nada contra os rigores acadêmicos. Mas, gostamos da descontração dos bares, das ruas, dos botequins e das peladas de fim de semana.”
Livro e enredo
Um dos destaques da programação da Festa Literária deste ano, será o debate Um Defeito de Cor: narrativas de mulheres negras que atravessam sonho, ficção e realidade, previsto para às 15h30 de sábado. O livro Um Defeito de Cor foi escolhido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga como tema para o enredo da Portela em 2024.
A mesa, que vai ter a mediação da jornalista Lola Ferreira, vai contar com a presença da autora da obra Ana Maria Gonçalves e da jornalista Flávia Oliveira, da coordenadora-geral da ONG Criola, Lúcia Xavier, e da diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto.
Ao mesmo tempo, para incentivar a leitura e a popularização da obra, a Festa Literária vai oferecer descontos na compra do livro. O diretor do Departamento Cultural da Portela, Rogério Rodrigues, disse que a aproximação da literatura dos integrantes e visitantes da Portela é uma meta, desde a criação da FLIPortela.
“Quando a festa literária foi criada, foi exatamente isso: em primeiro lugar acabar com o estigma, o preconceito, o clichê de que é subúrbio, povo suburbano, povo periférico e povo do samba não consome literatura. A gente está inundando de narrativas, sejam orais ou escritas, o tempo todo, seja por histórias e saberes compartilhadas no dia a dia da agremiação, seja trabalhando essa herança de linhagem de adaptar enredos de textos literários. A partir desses dois vértices a gente vem estimulando a divulgação do livro e incentivando o hábito de leitura”, disse Rodrigues em entrevista à Agência Brasil.
Para a autora da obra que inspirou o enredo de 2024 Ana Maria Gonçalves, a literatura, de modo geral, ainda é muito elitizada. Por isso, ela defende sua popularização e o fato da Portela ser a única escola de samba a ter uma biblioteca é um bom caminho para a aproximação da comunidade portelense com os livros. A escritora recebeu com entusiasmo a notícia de que o desfile de 2024 terá seu livro enredo como tema.
“É uma honra ter o livro como base para o enredo da Portela. É uma felicidade levar a literatura para pessoas e lugares que um livro quase nunca alcança por si só. Pelo que li do enredo e pelo que conversei com os carnavalescos, são os afetos despertados pela maternidade, principalmente a maternidade das mães pretas. Estou muito curiosa para saber qual é a leitura deles, que não é baseada no livro, mas em conversa com o livro. Um recorte do que, para eles, vale a pena salientar e traduzir para esta outra linguagem que é o carnaval”, revelou.
À reportagem, Ana Maria disse estar animada também com a presença e venda da obra na FLIPortela: “é uma maneira de levar a literatura até lugares e pessoas que ela não alcança sozinha. Vai ser um grande prazer e um grande aprendizado estar presente no FLIPortela que, sempre é bom salientar, é o único festival literário organizado por uma escola de samba.”
A autora apontou o que pretende ao participar da FLIPortela. “Não quero ser uma pessoa que está indo lá para levar cultura”, afirmou, completando que embora deseje a popularização da sua obra e da literatura, dentro da escola de samba já existe uma cultura de origem a ser respeitada.
Tradição e legado
Para Rogério Rodrigues, criador do projeto que instituiu a festa literária, a relação da literatura com a Portela é uma tradição. “Mais do que aproximar os integrantes da escola da literatura, na verdade [o objetivo da festa] é facilitar uma troca de saberes e conhecimentos porque os membros da escola de samba têm uma história prévia e a gente só está estabelecendo pontes com a chamada literatura sacralizada, canônica. Então a gente está fazendo pontes”, pontuou Rogério Rodrigues.
A primeira edição da FLIPortela ocorreu em 2019. Nos dois anos seguinte, a pandemia de covid-19 impediu a realização presencial do evento. A segunda edição presencial ocorreu em 2022.
Programação
A programação da Festa Literária inclui ainda o painel: Audiovisual como salvaguarda da memória cultural do samba, que ocorre no sábado (29), às 14h. A mediação é do jornalista e jurado do prêmio Estandarte de Ouro, Leonardo Bruno. Na sequência, às 14h30, haverá o encontro Molhando a Palavra, um especial sobre enredos literários da Portela, que vai terminar com a apresentação da Galeria da Velha Guarda, cantando os sambas que forem discutidos.
No último dia da Festa, no domingo, será inaugurada a biblioteca, às 10h. Em seguida, haverá uma Oficina de Cuíca, exibição de filmes e a roda de conversa: 100 anos de Portela e saraus de poesias. Clique aqui e acesse a programação completa do evento
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