Comunicado do Copom sobre Selic alfineta governo e indica necessidade de calma na política monetária, dizem economistas

Publicado:


ballots g068a8690f 1280

Nesta quarta-feira, 3, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. A medida já era esperada por economistas, que acreditam que um processo desinflacionário só tenha início no segundo semestre. Como justificativa da manutenção da taxa, o comitê cita que episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza e que inflação ao consumidor segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta. Os membros complementam que a reoneração dos combustíveis e a apresentação da proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal, mas que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Segundo economistas ouvidos pela Jovem Pan, o comitê aproveitou o novo anúncio para alfinetar o governo, em uma tentativa de cessar as constantes críticas em relação à condução da política monetária. O grupo ressaltou a necessidade de calma e que o processo desinflacionário tende a ser mais lento quando as expectaitvas estão desancoradas. A cautela do órgão se deve à uma precaução para evitar que ocorra um corte de juros, que precise ser revertido logo em seguida.

Para o co-head de Investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira, o comunicado do Copom seguiu com o tom mais agressivo (hawkish) da reunião passada apontando os riscos existentes para a convergência da inflação. “O comitê inclusive cita que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, dando um recado para o Governo Federal. Ao mesmo tempo, pede paciência e serenidade na condução da política monetária. Por fim, ele não retira a ênfase sobre não hesitar em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado. É válido mencionar que não havia expectativa no mercado de juros de um corte para essa reunião”, indica. CEO da Simpla Invest, Lucas Rufino pondera que o Banco Central deseja ter um cenário mais previsível para iniciar uma eventual corte de juros. Por mais que tenhamos um cenário um pouco mais claro e controlado do que antes, o Banco Central não quer se precipitar em iniciar um ciclo de corte de juros para depois ter que voltar a aumentá-lo caso algum dos indicadores de inflação se descontrole. Isso poderia causar uma perda de credibilidade relevante. Alguns temas relacionados ao aumento da arrecadação do governo estão em aberto e uma possível reoneração dos combustíveis pode pressionar a inflação. Porém, essa reunião foi muito importante por que ela pode representar um direcionamento mais claro do BC ao mercado quanto o início do ciclo de corte de juros, que é muito aguardada por todos. Mas, em junho podemos que esperar que a decisão pela manutenção dos juros se repita”, projeta.

O Copom decidiu manter o mesmo patamar da Selic mesmo após a intensa pressão que tem sido feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por aliados, que cobram cortes na taxa e criticam os efeitos dos juros sobre a atividade econômica. Desde a última reunião, finalizada em 22 de março, ocorreram avanços no cenário econômico, entre eles a apresentação do novo arcabouço fiscal. O comitê havia sinalizado anteriormente a possibilidade de uma nova alta na Selic, mas o Palácio do Planalto bate na tecla que os recentes resultados positivos na economia, como a inflação abaixo do esperado, poderiam incentivar até mesmo uma queda nos juros. Contudo, a expectativa do mercado já era da manutenção da taxa de juros, uma vez que não houve grandes alterações no contexto nacional e internacional que justificassem uma mudança na política monetária.

 

 

Facebook Comments

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Dono do Master tentou fugir para o exterior em jatinho e foi preso pela PF no aeroporto

Na noite de segunda-feira (17), Daniel Vorcaro, proprietário do Banco Master, foi detido pela Polícia Federal no Aeroporto de Guarulhos. Ele tentava embarcar...

Haddad diz que processo de liquidação do Master deve estar ‘robusto’ para ‘ter chegado a esse ponto’

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou nesta terça-feira (18) sobre a decisão do Banco Central de liquidar extrajudicialmente...

Fictor confirma suspensão da operação de compra do Master após liquidação decretada pelo BC

A Fictor Holding Financeira anunciou a suspensão da operação para adquirir o Banco Master, após o Banco Central decretar a liquidação extrajudicial da...