Descobrir a força que o corpo feminino tem e passar a praticá-la de dentro para fora, em todas as áreas da vida. Para Bia Venturini, é sobre essa potência que se trata o pole dance. A servidora pública de 38 anos encontrou na modalidade uma poderosa ferramenta de autoconhecimento que, além de transformar sua vida, tem transformado também as das mulheres para as quais transmite a dança.
Tendo como elementos básicos uma barra e o próprio corpo, o pole dance é uma mistura de dança com acrobacias, que carrega consigo uma grande carga de sensualidade. A brasiliense iniciou no pole há quase 10 anos e, por meio dele, ressignificou a relação com o próprio corpo e se tornou mais segura – no espelho e na vida.
“Um padrão do que seria um corpo ‘bonito’ é imposto para nós desde cedo, mas quando vi na aula corpos tão diversos, desmistifiquei tudo isso. Ali eles estavam se expressando, estavam livres, e um corpo com vida é lindo, independente de seu formato. Nós, mulheres, não somos incentivadas a nos conhecer, e o pole é uma ferramenta de autoconhecimento muito forte”, diz.
Para a professora, a própria necessidade de passar ao menos uma hora em frente ao espelho com pouca roupa se desafiando a executar movimentos e usar seu corpo a seu favor faz com que a mulher passe a enxergar com mais carinho certas características que antes enxergava como defeitos. E, para quem não sabe, vale ressaltar que a pouca roupa se faz essencial na maior parte do tempo no pole dance, uma vez que os movimentos são feitos a partir do atrito entre a pele e a barra.
Bia Venturini vê no pole dance uma potente ferramenta de empoderamento e autocinhecimento “Ao longo da vida, ensinam pra gente que certas coisas são “feias” e acreditamos nelas, mas isso vai mudando quando passamos a parar de escondê-las e lançar luz sobre elas, passamos a achá-las bonitas, valorosas. Quando encaramos ali, no espelho, nossos próprios medos e inseguranças e finalmente os superamos, fica mais fácil encarar o mundo externo”, garante.
Foi o caso de Marília Perdigão, enfermeira de 36 anos que, além de aluna, se tornou amiga pessoal de Venturini. Apresentada à modalidade ainda na escola, a maranhense encontrou no pole dance as forças necessárias para sair de um relacionamento tóxico e mudar completamente sua autoestima, autoimagem e segurança.
“Vim de uma terra machista, em que as mulheres tinham que ser frágeis, tanto física quanto mentalmente. O pole mudou tudo, me mostrou minha força e me deu coragem. Ele transforma a vida de uma mulher”, relata.
Marília Perdigão teve sua vida transformada pelo pole dance “O pole mudou tudo, me mostrou minha força e me deu coragem”, diz Marília Pole dance, sensualidade e energia sexual A sensualidade, principalmente quando vem da mulher, ainda é muito demonizada e confundida com sexualidade. Na visão de Bia, a sensualidade é subjetiva e não necessariamente relacionada a algo mais sexual. “Sensual é ser. Quando o corpo está ali, livre, apenas sendo, se expressando, você é sensual. Um simples sorriso pode ser sensual”, afirma.
Contudo, a linha entre o sensual e o sexual pode se tornar tênue, abrindo espaço para más interpretações. Ainda que não exista problema algum no fato do pole dance poder ser sexual, nem sempre ele vai ser, e o que vai determinar se o pole é sexual ou não é a intenção colocada nele.
E vale ressaltar que, por mais que ainda seja vista com muito tabu e preconceito, a energia sexual é nada mais do que a energia vital. “Ela é usada para expressar sua força, suas habilidades, para criar e para expressar sexualidade também, porque não tem nada de errado nisso. Usar essa energia e essa força a seu favor movimenta a vida; é como um músculo, que quanto mais você exercita, mais ele fica forte”, pontua.
Projeto Flutua Após tantos anos testemunhando a transformação que o pole dance pode proporcionar às mulheres, Bia sentiu vontade de se tornar, de forma mais abrangente, um vetor para ajudar ainda mais o público feminino. Assim nasceu o Projeto Flutua, em que mulheres em situação de vulnerabilidade vão poder ter acesso ao pole dance e a tantas outras vivências e aprendizados.
Totalmente gratuito, o Flutua disponibiliza 16 vagas, sendo duas delas destinadas especialmente para mulheres com deficiência visual. A partir do dia 6 de maio, as candidatas selecionadas vão participar de 24 encontros, em um período de seis meses, no qual terão acesso a 46 horas de capacitação em pole dance e diversos workshops, que incluem sexualidade, expressão corporal, strip-tease, chair dance, automaquiagem e empreendedorismo no mercado da dança.
Além disso, Bia também montou uma equipe multidisciplinar para conseguir dar o suporte necessário em qualquer área que seja, incluindo uma psicóloga e uma advogada que vão lidar com possíveis casos mais complexos, como de violência doméstica.
A professora idealizou o Projeto Flutua para levar o pole dance às mulheres de baixa renda “Quis fazer o projeto para alcançar essas mulheres, todo mundo merece essa vivência”, diz Empolgada, a professora espera poder realizar muitas mais edições para mostrar a cada vez mais mulheres a força e independência que elas podem ter. “Até porque o pole dance muitas vezes não é muito acessível, financeiramente falando. Quis fazer o projeto para alcançar essas mulheres, todo mundo merece essa vivência”, conta. E para as mulheres que têm vontade de experimentar o pole dance como uma ferramenta de autoconhecimento e empoderamento, a dica de Bia é: se tiver medo, vai com medo mesmo.
“Não é sobre o pole ou sobre você virar uma super dançarina, é sobre você. Sobre se permitir fazer algo novo, ultrapassar um limite, superar um desafio e se tornar cada vez mais segura e confiante. Muitas vezes, o medo que a gente tem não é o de falhar, mas de descobrir o quanto somos maravilhosas, de acessar essa potência que a gente tem, porque ela é enorme e avassaladora, então nos assusta. Mas quando a acessamos e conduzimos de forma consciente, somos capazes de grandes realizações. Vale a pena “, finaliza.
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