Eu cresci e continuo ouvindo até hoje das minhas mais velhas: – Com saúde, né filha? O resto a gente corre atrás! – Feliz Ano Novo, com paz e saúde, que é o mais importante, né minha filha? – E a família? Todo mundo com saúde? – Depois morre, e fica tudo aí! – Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim, quero mais saúde. E até em programa besta de tevê: – Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa. E não é verdade? Então vamo’ chover no molhado porque o solstício de inverno chegou chegando e anunciando que metade do ano já foi e a gente continua adiando as providências divinas para viver mais, e melhor, e na glória. Daí venho eu, me dispondo mais uma vez a fazer o trabalho sujo e falar de saúde justo agora quando as chuvas dificultam as atividades físicas – tanto para quem as pratica ao ar livre, quanto para aquelas que, se já precisam se apegar com Cristo para honrar a mensalidade da academia no verão, imagine quando cai o cacau. E o que dizer das que ainda estão ali na fase do encorajamento! Vem essa mulher falar de saúde justo no inverno quando o corpo pede mais gordura, carboidrato e vinho para aquecer o romance mesmo que só dentro da cabeça. E tome-lhe foundue de queijo e chocolate, e tome-lhe queijos e vinhos, e tome-lhe massas gratinadas quentinhas, e pão, muito pão, com tudo isso. E o coração, coração? E a hipertensão? E o diabetes, o colesterol, a osteoporose, a obesidade, a insônia, a dificuldade de respirar (!), a dupla sertaneja artrite e artrose, a anemia, o câncer e a alegria de viver? A gente não sabe que tudo isso está relacionado com o que comemos? Então por que diabos a gente continua a olhar para isso só quando está feito o mizerê? Se voinha e mainha já cantaram a pedra até quando elas mesmas passam dos limites, mas avisam logo que “faça o que eu mando mas não faça o que eu faço? Meus palpites: falta de informação (que não é o seu caso que é uma pessoa que lê jornal); descaração; essa mania de dar ousadia e tempo de vida à mídia; e a carestia nos empurrando ladeira à baixo para as ofertas de péssima alimentação nas prateleiras dos supermercados. Mas ainda assim a responsabilidade é toda nossa, e dá sim, sempre dá, para escolher caminhos melhores. Tá com frio? Faz sopa, bença! E não precisa tacar bacon e nem linguiça pra ficar gostoso, não. A abóbora, o aipim, a cenoura, a batata, a mandioquinha, o inhame, a lentilha, o milho, o feijão, o grão-de-bico, a ervilha e mais uma galera do bem só te pedem os também santos remédios alho, sal, pimenta, oliva, gengibre, ervas e raspinhas de limão para te endoidecer, aquecer seu bucho, alma e coração, sem entupir vaso nenhum, sem matar bicho, sem comer veneno, sem morrer. É difícil, eu sei. Só que não! Não é difícil coisa nenhuma quando a gente valoriza a vida, mas antes a gente tem que infartar, né? Não seria mais jogo canalizar os nossos melhores esforços e energia para a saúde, aquela que proporciona a leveza de espírito amiga-irmã da felicidade? A gente precisa encontrar um tempinho para conversar com o corpo – conversar não, ouvir, que a gente já fala demais – porque ele tem tanta coisa para dizer! Quase tudo. Tempo para ouvir o peido, por exemplo. Pode rir de nervoso e surpresa, mas é meu amor, é preciso falar não exatamente sobre o peido, porque o peido em si é um mero detalhe, mas ele e os arrotos é que nos dizem o quanto de gases nós temos nos obrigado a produzir aqui dentro – nos causando dores e desconfortos ao dilatarem os nossos estômagos e intestinos, prejudicando o nosso sono e até mesmo a nossa respiração (eu tô falando de respirar!). Só assim pra entender que aquelas facadas no peito que a gente acha que tá infartando (e pode estar mesmo) provavelmente são gases, até porque ontem era no coração e hoje já é dor de facão. Mas se não quiser ouvir seus peidos, não ouça, tá no seu direito. Da mesma forma, é sentindo o gosto da azia que dá para saber exatamente o que te fez mal. Que pode ter sido justamente o peixinho que você comeu se achando fit, mas comprou congelado (e infectado) na promoção do supermercado. Mas se você topou ouvir o peido com o seu coração e sentir o gosto da azia, aproveite que já está aqui e olhe para o seu cocô, que também fala tanto sobre você. E se ele estiver tão disforme e fétido a ponto de te causar náuseas, não esqueça: ele é produto do que você comeu. Eu só sei que são tantas doença provocadas pela comida ruim que a gente come, e que são tantos os níveis de infecções intestinais, que a gente nem percebe mais as brandas, e nunca vai associar uma enxaqueca, um enjoo e uma leve diarréia à folha da salada contaminada pela bactéria da carne. Não vai porque andamos cada vez mais “descolados” (Krenak amor, mais beijo) tanto do corpo aqui de dentro quanto do mundo imperial de natureza e cosmos lá fora. Aliás, a que estamos conectados, afinal, diga aí! Mas, milagres acontecem quando a gente consegue se integrar (de íntegra, de integridade) com alguma coisa aqui dentro. Aí eu não sei como é para vocês, mas pra mim é como ouvir a voz de Deus, aquele que eu quero crer que habita em algum lugar até da alma mais sebosa. E eu penso que o que esse Deus quer da gente é amor próprio, saúde pra gozar da vida, e cocô lindo. Beijo!
Com o gosto da azia dá pra saber exatamente o que te fez mal
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