Cura gay, rachadinha e assédio: vereador de Lagoa Santa é alvo de denúncias

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Homofobia, perseguição religiosa, assédio moral e até rachadinha: são essas as denúncias em que Joaquim Rufino (Republicanos), vereador de Lagoa Santa, na Grande BH, está envolvido. Quem resolveu denunciar todo o esquema envolvendo o parlamentar é Nicolas Guimarães Diniz, que trabalhava no gabinete e foi, por meses, segundo ele, alvo da perseguição no ambiente de trabalho. Atualmente, Diniz está afastado por problemas médicos.
A reportagem do Estado de Minas teve acesso a documentos, extratos bancários, conversas e áudios que indicam o suposto esquema de rachadinha dentro do gabinete.
Diniz conta que era perseguido pelo vereador e seus assessores por ser homessexual. Pastor de uma famosa igreja da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Rufino falava, de acordo com o servidor, que o assessor precisava “frequentar mais a igreja” e que tinha a “cura” para a “doença” dele. Toda essa perseguição terminou com o funcionário do gabinete sendo coagido e assediado a participar de um esquema de rachadinha.

Rachadinha no gabinete

Segundo Diniz, o esquema de rachadinha começou em 2021. Ele conta que foi abordado pelo chefe de gabinete, João Paulo Silva, que também é filho do presidente da Igreja Assembleia de Deus em Lagoa Santa. De acordo com o ex-assessor, Silva precisava de mais uma pessoa para participar do esquema e dividir os saques mensais de R$ 930, que eram repassados a dois pastores da igreja. No meio tempo, o chefe de gabinete de Rufino mantinha um outro emprego, como funcionário de uma empresa de aviação, o que não é permitido pela legislação municipal. Durante os últimos dois anos, os saques eram feitos e repassados mensalmente. Além disso, Diniz era obrigado a repassar valores e até mesmo pagar contas pessoais do vereador e de seus amigos. 
“Ele me convidou para integrar a equipe como assessor parlamentar, aceitei o salário de R$ 1,6 mil no mês de junho de 2021. Quando entrei, o vereador me disse que o salário do João Paulo era de R$ 3,6 mil mensal, mas que esse salário não ficava pra ele, que ele tinha dois apoiadores que ele não conseguiu colocar na campanha e precisava que eu ajudasse a repassar um valor junto com o João Paulo para os pastores. Eu no início não concordei, mas ele me disse que se eu não aceitasse que não teria possibilidade de emprego e como tinha contas a pagar aceitei a coação e o assédio”, afirma o assessor parlamentar.
Os pastores eram Vanderley Matias Ramos e Marcos Justino da Silva. Para a reportagem, Nicolas disse que Joaquim prometeu a eles cargos dentro do gabinete por terem ajudado na campanha eleitoral. Mas, após as eleições, o vereador contratou para o gabinete vários membros de sua igreja, não sobrando vaga para os dois. A rachadinha foi um jeito encontrado por ele para compensar a não nomeação.
Diante da possibilidade de denúncia dos assédios sofridos dentro do gabinete, Nicolas Guimarães Diniz recebeu promoções consecutivas. Ele recebia um salário base de R$ 1,6 mil no fim de 2021 e, em março do ano seguinte, já tinha em seu contracheque as cifras de R$ 3,4 mil. Em maio de 2023, o valor subiu para R$ 5,8 mil. Em troca dos aumentos, ele deveria participar de um esquema de ‘rachadinha’ beneficiando dois pastores evangélicos.
O Estado de Minas teve acesso a comprovantes de PIX que mostram as transferências consecutivas e com valores repetidos entre Diniz e João Paulo Silva. Entre setembro de 2021 e janeiro de 2022, as transferências aconteciam sempre no fim do mês e no valor de R$ 930. Há também comprovantes de pagamentos feitos pelo assessor diretamente ao seu chefe, o vereador Joaquim Rufino.
As transações repetitivas foram interrompidas em fevereiro de 2022. A data coincide com a contratação formal dos dois pastores no gabinete de Rufino. Vanderley Ramos foi contratado como ‘Assistente Parlamentar 1- Interno’ e tem um salário-base de R$ 1.350. Os vencimentos se equiparam aos de Marcos Justino Da Silva, que está lotado como ‘Assistente Parlamentar 1 – Externo’, de acordo com o Portal da Transparência da Câmara Municipal de Lagoa Santa.
Além dos indícios de rachadinha e de transferências diretas ao vereador, Diniz também usava seu salário para pagar contas pessoais do parlamentar. Segundo o assessor relatou à reportagem, Rufino tinha várias contas em atraso e pedia que os funcionários arcassem com as dívidas. Em 23 de janeiro deste ano, o assessor parlamentar pagou cinco contas de água no nome do chefe em valores somados que superam os R$ 2 mil.
Diniz também disse que o vereador mantinha um funcionário fantasma. Seu nome é Paulo Cesar Cardoso, que servia como “fazedor de bicos” para Rufino. Sempre que necessário, ele ia até um ponto da cidade, geralmente locais de renda mais baixa, para fazer bicos. Em troca, ele pedia para que as pessoas votassem no vereador. “Ele é uma pessoa muito humilde. Tinha cargo da Câmara com cargo de assessor da ouvidoria, porém não exercia a função, porque o vereador o coagia a fazer serviços externo um tipo de “marido de aluguel” onde a Câmara pagava o salário dele, mas ele ficava consertando durante o horário de trabalho chuveiros, torneiras, questões de casa em geral. Inclusive esse servidor foi utilizado para realizar um gato de luz na casa do vereador”, diz.
 
 

Homofobia no ambiente de trabalho

Diniz conta que foi perseguido por ser homessexual. Grande parte do assédio vinha de membros da Igreja Assembleia de Deus, que eram comissionados no gabinete do vereador Joaquim Rufino. “Os casos de homofobia começaram a partir de pressão de membros da Igreja Assembleia de Deus. Tudo que o vereador faz é sob o comando da igreja. A igreja, quando descobriu que sou gay, pressionava o Rufino para poder me exonerar, então aí começaram as tentativas de cura gay, em locais isolados dentro da Câmara Municipal, onde eles praticamente me demonizavam. Queriam fazer um tipo de exorcismo como se eu tivesse um demônio ou alguma doença”, conta.
Diniz procurou um médico psiquiatra. Ele conseguiu uma licença de 60 dias e está afastado do trabalho por causa da pressão e dos assédios que sofria no ambiente da Câmara. 
“Me sentia muito assediado e humilhado, os servidores do gabinete não falam nada pois tem medo de perder seus empregos, mas, como diretor de gabinete, eu não era respeitado pelos servidores, me desqualificar por eu ser gay e o vereador nunca deixou eu tomar decisões dentro do gabinete, ele sempre dizia que não era pra mexer com os irmãos da igreja pois eles que os elegem. Eu era obrigado a trabalhar de atestado médico, inclusive operado após uma bariátrica. O vereador chegava a me ligar até mesmo de madrugada, onde os registros telefônicos comprovam todos os fatos, eu não podia tirar férias, eu recebia as férias, mas não gozava das mesmas. Fiz requerimento para a presidência da Câmara, que disse que jamais irá me pagar minhas férias. Estou passando necessidade, pois estou afastado pelo INSS, e a Câmara vem negando um direito que é meu, mas gastam fortunas com restaurantes de luxo, aluguéis de carros, enfim o dinheiro público indo pelo ralo”, completa o assessor parlamentar de Rufino.

Ameaças

Na última semana, Diniz resolveu externar o caso em um grupo de whatsapp. Desde então, vem recebendo ameaças de morte. “Recebi ameaça de morte de um telefone com número suprimido, fiz o boletim de ocorrência para resguardar minha vida e de minha família, fiz a denúncia à presidência da Câmara sobre tudo que estava acontecendo. Porém, o que me foi respondido era para não fazer um espetáculo com essa situação. Me sinto moralmente estuprado, violado e injustiçado, pois a Câmara, através do presidente, foi totalmente omissa”, denuncia.
 
 

O que dizem os envolvidos

A reportagem procurou todas as pessoas citadas na matéria. Em nota (reproduzida na íntegra ao fim da matéria), o vereador Joaquim Rufino (Republicanos) negou as acusações feitas e disse que não passam de retaliações. “Tudo o que foi falado por ele não passa de retaliação pela perda do cargo. Nem o vereador Rufino, ou qualquer servidor do seu gabinete, fez ou tentou fazer qualquer tipo de manifestação contrária à opção sexual de Nicolas ou qualquer transação financeira ilegal entre eles que caracterizasse ‘rachadinha'”, disse o parlamentar. 
Citado por Diniz como funcionário fantasma do vereador, Paulo negou, mas confirmou as perseguições sofridas pelo ex-funcionário e que também estranhava o ambiente do gabinete. “Eu era assessor externo, queríamos ter uma proximidade com as comunidades mais pobres. Chegando no gabinete, de início ele passou a me dar suporte, mas passei a ter problemas com a igreja. Ele era muito ligado à igreja e eu não. Eu não era funcionário fantasma, ia lá e frequentava. O que achava um absurdo é que os evangélicos não assinavam ponto e ficavam lá atoa. Eu não. Eu tenho que produzir para a população. Pedi pra sair porque aparentemente não tinha nada pra eu fazer”, disse.
O pastor Marcos Justino atendeu a reportagem, mas disse que não iria se posicionar. Já João Paulo Silva, citado como a outra pessoa que fazia as rachadinhas, e Vanderley Matias Ramos, que recebia os valores mensalmente, não responderam aos contatos. 
A reportagem também entrou em contato com a Polícia Civil para saber sobre as investigações das denúncias de ameaças e aguarda retorno.
Confira a nota do vereador na íntegra: 
O Vereador Joaquim Rufino de Carvalho repudia toda acusação feita pelo ex-servidor da Câmara Nícolas Alexandre Diniz. Tudo o que foi falado por ele não passa de retaliação pela perda do cargo. Até o momento, muitas acusações caluniosas foram faladas e nada foi provado.

Rufino é um cristão que preza pela liberdade individual das pessoas, tanto é que deu a
oportunidade para ele fazer parte do seu gabinete no intuito de ter uma assessoria jurídica para a elaboração de projetos de lei e tomada de decisões. Porém, o ex-servidor Nícolas Alexandre Diniz não passou de uma farsa. Mesmo se posicionando como advogado, ele NUNCA possuiu OAB e sabe-se lá, se já se formou, pelo menos, como Bacharel em Direito.
Rufino chegou a ligar para o presidente da subseção da OAB/Lagoa Santa para confirmar se Nícolas realmente não tinha registro na Ordem, o que foi prontamente confirmada pelo
presidente. Além disso, Nícolas é suspeito de ter enganado várias outras pessoas em Lagoa Santa se passando por advogado.

Ele também é suspeito de ter falsificado a assinatura do vereador Rufino para benefício próprio.

Em apenas um caso já descoberto, ele teria falsificado a assinatura do vereador para que a
Câmara contratasse seu companheiro como estagiário, além de vários outros atos que serão investigados pela Câmara.

Ressaltamos que NUNCA, nem o vereador Rufino, ou qualquer servidor do seu gabinete fez ou tentou fazer qualquer tipo de manifestação contrária a opção sexual de Nicolas ou qualquer transação financeira ilegal entre eles que caracterizasse “rachadinha”. Por várias vezes, os dois viajaram juntos a trabalho e ficaram no mesmo quarto sem qualquer problema, o que descredibiliza ainda mais as falas do ex-servidor.
Sobre a suposta ameaça de morte que Nicolas teria recebido, é totalmente fora da curva achar que o vereador Rufino está envolvido. Rufino é um homem íntegro, respeitado na cidade e devidamente eleito para representa os mais de 70 mil moradores de Lagoa Santa.
Rufino segue trabalhando pela cidade e já apresentou as devidas denúncias junto a autoridade policial para investigação dos supostos crimes praticados por Nícolas.

Esperamos que todos os fatos sejam rapidamente esclarecidos.

* Colaborou com a reportagem, Bernardo Estillac

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