Direita tenta voltar ao poder na Espanha e fortalecer conservadores na UE

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A direita europeia, em constante ascensão nos últimos anos, pode estar prestes a assumir mais um país da União Europeia: a Espanha. Segundo as pesquisas eleitorais, o senador e líder da oposição no Parlamento, Alberto Núñez Feijó, tende a derrotar o atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, nas eleições deste domingo, 23. A principal polêmica é que, se eleito, o candidato do conservador Partido Popular (PP) provavelmente precisará do apoio do Vox, que representa a extrema-direita espanhola. Do outro lado, caso seja reeleito, o representante do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE) deve consolidar aliança com a extrema-esquerda. Para formar governo e assumir o Executivo, a legislação espanhola determina que o mais votado nas urnas tenha maioria absoluta de aliados no Parlamento, com o mínimo de 176 deputados.

Previstas inicialmente para acontecer em dezembro de 2023, as eleições gerais foram antecipadas após Sánchez dissolver o Parlamento quando a esquerda sofreu duras derrotas nas eleições municipais e regionais. O premiê, que chegou ao poder em 2018, tentava mudar o cenário que já beneficiava a direita. O Partido Popular obteve 31,53% e quase 7 milhões de votos, 761 mil a mais do que o PSOE, que conquistou 28,11%.

Manuel Furriela, especialista em Relações Internacionais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), observa que o que se tem hoje na Espanha é um cenário de polarização já assistido em outras regiões do mundo. Para ele, desde as eleições regionais, o triunfo do Partido Popular parece inevitável. A única dúvida é se haverá necessidade de aliança com o Vox, partido ultranacionalista e ultraconservador nascido em 2013 de uma cisão no PP. A dinâmica da direita perdeu impulso quando o PP foi obrigado a negociar acordos com o Vox para formar governo em algumas regiões e, como esperava Pedro Sánchez, o PP e seu líder não saíram ilesos. O Vox rejeita, por exemplo, falar sobre “violência de gênero” e nega as mudanças climáticas.

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As chances de reeleição de Sánchez parecem mais escassas após o único debate televisionado, em 10 de julho, que levou ao crescimento de Feijóo nas pesquisas. O atual premiê se gabou de seu desempenho na economia mas, apesar dos resultados positivos no contexto europeu, o cenário ainda não gera boa percepção para os espanhóis. “O país tem um problema crítico a ser enfrentado: o alto índice de desemprego, principalmente entre os jovens”, destaca Manuel Furriela. O professor também cita a crise demográfica e o abastecimento da mão de obra via imigração, muito questionada pela população.

Gustavo Macedo, professor de relações internacionais do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), acredita que a questão migratória não deve ser solucionada por, pelo menos, mais 10 ou 15 anos. Ele também ressalta o desafio que o eleito terá para conseguir costurar uma coalizão de governo. “Seja esquerda ou direita, dificilmente terá maioria no Legislativo e será necessário costurar o governo que vai precisar avançar com aprovação de algumas pauta. Uma delas é a necessidade de correr para se modernizar e sobreviver diante de uma Europa que está passando por mudanças devido à guerra na Ucrânia.”

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Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, dissolveu o Parlamento em maio e antecipou as eleições legislativas│EFE/Moncloa / Pool / Borja Puig de la Bellacasa

Para Macedo, o resultado destas eleições na Espanha também deve mudar o cenário com o qual o Brasil vai lidar nos próximos anos. “Se a direita se consagra, pode influenciar na política externa com o Brasil, ainda mais porque a Espanha está na presidência do Conselho da União Europeia e tem a função de reorganizar as pautas que vão ser votadas.” Isso inclui o acordo entre Mercosul e União Europeia, que vem sendo debatido entre os dois blocos com previsão de finalização até o final do ano. “Se você tem um governo de esquerda eleito, pode facilitar a comunicação bilateral, mas pode dificultar a comunicação multilateral Brasil-União Europeia. Se a direita vence, pode dificultar a comunicação bilateral, mas, por outro lado, poderia favorecer o acordo entre Mersocul e UE.”

Até o último final de semana antes das eleições, cerca de 20% dos eleitores estavam indecisos sobre quem votar. Neste ano, devido à antecipação da votação para as férias de verão, foram registradas 2.622.808 solicitações antecipadas de voto por correspondência dos espanhóis. Quase 37,5 milhões de pessoas estão convocadas às urnas.

 

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