Em meio a anúncios de melhoria dos índices de segurança pública ao longo do primeiro semestre de 2023, o governo Jerônimo Rodrigues teve que lidar com a repercussão do Anuário de Segurança Pública, que trouxe números ruins para a Bahia. Os dados eram referentes a 2022, mas, para a classe política, pouco importa. A conta recai sobre o governo atual, a partir da perspectiva de uma gestão continuada. Porém é preciso muita cautela antes de politizar esse debate, já que sobram engenheiros de obras prontas para apontar eventuais culpados.
A violência associada ao tráfico de drogas não é um problema exclusivo da Bahia. Aqui, todavia, os números ficaram superlativos a partir da transferência de linhas de comando do eixo Rio-São Paulo para o Nordeste. Aquelas cenas assustadoras de traficantes deixando morros cariocas a partir da ocupação pela polícia, há mais de 10 anos, trouxe reflexos pro lado de cá. Quem vive nas comunidades e no entorno delas percebeu essas mudanças. É possível citar ainda a profissionalização da cadeia produtiva do tráfico, a partir de um crime efetivamente organizado, exportando o modelo miliciano que impera nas maiores metrópoles do país.
São tantas variáveis que tornam a violência uma epidemia a ser tratada com diversas estratégias que nem mesmo os maiores especialistas conseguiram encontrar a fórmula perfeita. Existem modelos que podem ser importados e adaptados à realidade baiana, mas dificilmente encontraremos uma solução da noite para o dia, para por fim a esse grave problema social. Sim, mata-se mais pretos e pobres da periferia, que são tratados como descartáveis pela sociedade. E precisamos lidar com a (falta de) segurança pública como uma chaga, alimentada pelas diferenças econômicas e sociais de Estado (leia-se União, Estados e Municípios) que presta mal serviços à comunidade. Por essa razão, o debate raso sobre o tema não ajuda – aliás, atrapalha.
Há um esforço expressivo da cúpula da segurança pública para combater os números. Tanto o titular da SSP-BA, Marcelo Werner, quanto o comandante-geral da PM, Paulo Coutinho, têm utilizado um discurso coeso no enfrentamento aos problemas. Uso da inteligência e investimento nesse setor têm sido a tônico das falas e os resultados preliminares das ações parecem estar surtindo efeito – vide a redução da maior parte dos crimes no comparativo entre os primeiros semestres. Ainda tem muito a ser feito, mas pelo menos existe uma perspectiva melhor sobre essa área tão vital para o convívio social.
Politizar – do ponto de vista partidário – os debates sobre segurança pública serve para acirrar ânimos e trazer uma perspectiva enviesada sobre um problema crônico. Isso passa pela efetividade de um sistema nacional em pleno funcionamento, com integração entre as forças de segurança, e também o alinhamento que inclua o Legislativo e o Judiciário, já que o Executivo sozinho não vai dar conta de resolver o problema. Estariam dispostos os atores políticos a promoverem essa discussão?
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