Apesar de algumas discordâncias, União Europeia e o Mercosul demonstram interesse em finalizar seu acordo comercial até o final deste ano. As eleições na Espanha podem ter um forte peso na decisão final, já que o país está à frente da presidência do Conselho da União Europeia, enquanto o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), está no comando do Mercosul. Acredita-se que uma vitória da direita de Alberto Feijóo possa facilitar a negociação, cujos maiores impasses são sanções ambientais impostas pelos europeus. “A reeleição do governo de esquerda (de Pedro Sánchez) pode facilitar a comunicação bilateral, mas pode dificultar a comunicação multilateral Brasil-União Europeia porque, para a esquerda europeia, é muito cara a questão ambiental. Pode ser que a presidência espanhola bata o pé com relação a essas cláusulas”, afirma Gustavo Macedo, professor de relações internacionais do Ibmec.
Manuel Furriela, especialista em relações internacionais da FMU, também acredita que a manutenção da esquerda no poder pode se tornar um desafio a mais para a consagração do acordo entre os blocos. ”Apesar de uma predileção do Lula por conta de um perfil de esquerda do Sánchez e os partidários, a verdade é que a extrema-esquerda espanhola, que viria a se alinhar para composição do futuro governo pós-eleição, é muito ligada aos pequenos produtores agrícolas espanhóis. Esses agricultores dependem muito do apoio do Estado. Então, o protecionismo a favor desses produtores pode barrar o acordo.”
Caso o favoritismo da direita se confirme nas urnas, o tratado comercial deve enfrentar outro tipo de empecilhos. “Se tivermos a vitória da direita e a composição com a direita mais extremada, o que pode acontecer é que, como ela é ligada a setores econômicos espanhóis e eles têm receios em termo de competitividade com produtores do Mercosul, pode ter questionamentos do acordo”, analisa Furriela.
Os especialistas discordam quanto à consolidação do acordo até o final do ano. “Acredito que há chance de o acordo sair esse ano. É interessante para os países do Mercosul e para a União Europeia, que sofre com a perda da parceria com os russos. E europeus estão tentando correr para ocupar o espaço que os chineses têm ocupado de financiar projetos de infraestrutura na América Latina e África”, diz Macedo. Já para Furriela, as negociações ainda devem enfrentar mais entraves. “O Brasil tem se emprenhado. Até mesmo na conferência na Bélgica Lula falou sobre o assunto, o que é um momento oportuno. Mas pouco se caminhou a favor do acordo. Se em uma grande oportunidade há essa dificuldade, acredito que ela vai continuar até o final do ano, principalmente pelas exigências ambientais apresentadas, não só pela União Europeia, como pela França.”
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