Após o Metrópoles mostrar relatos de problemas graves de saúde em pacientes de um biomédico que vendia tratamento para o bumbum, mais vítimas fizeram denúncias. Uma moradora de Brasília de 44 anos, que prefere não se identificar, disse temer pela vida, já que teve uma embolia pulmonar diagnosticada e acabou indo para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital. “Estou com muito medo de morrer”, contou.
A paciente diz que procurou o biomédico e influencer Rafael Bracca para o protocolo TX-8, de aumento de bumbum, no começo deste ano: “Mas isso acabou com minha vida”. Indicada por uma amiga a fazer o procedimento na clínica de Bracca, ela iria fazer 20 sessões, mas parou no meio quando passou a sentir muitas dores.
“Doía muito, eu tinha muito incômodo. Um dia, comecei a sentir formigamento nas pernas. Falei isso para a moça que aplicava, porque ele só fazia nas primeiras sessões”, lembra. A vítima conta que chegou a relatar esses problemas para o Rafael, que “começou a agir diferente e mudar o tom”, até que passou a oferecer a ozonioterapia, sob promessa de “acabar com o produto”.
“Isso aliviou a dor, mas passaram três dias e eu sentia mais dor do que antes. Enquanto isso, eu procurava vários médicos, mas nenhum queria assumir essa situação toda. Até que, um dia, em julho, depois de uma sessão de ozonioterapia, passei mal no trânsito, no sinal. A vista escureceu, achei que ia desmaiar ali. Entrei em pânico na hora, tremendo muito.”
UTI Depois de conseguir atendimento médico, ela acabou parando na UTI. “Fiquei dois dias lá em observação. Nesse tempo, perguntei ao Rafael o que ele tinha aplicado, porque ele nunca falava. Eu disse que estava no hospital e precisava saber exatamente o que era. Ele me mandou uma foto com uma fórmula, mas vários médicos viram e falaram que não era aquilo”, pontua.
Laudo mostra tromboembolismo pulmonar Segundo ela, o biomédico já chegava com as seringas prontas para aplicar, durante o protocolo para o bumbum, e não mostrava o que tinha ali. Desde então, a paciente do biomédico diz que vive com dores, crises de inflamação e foliculite, e teme que algo pior aconteça.
“Nas últimas semanas fui em vários cirurgiões plásticos. Marquei consulta com cirurgião de São Paulo, do Rio de Janeiro. Estou depressiva, tenho medo de morrer. Se eu ficar com o produto no corpo, posso morrer. Se eu tentar tirar, também. Se eu tiver que fazer a cirurgia, que é cara e perigosa, vou ficar mutilada.”
Ela também relata que pensa em vender o carro para conseguir a cirurgia de retirada do produto do corpo, procedimento que orçou em mais de R$ 40 mil. “E tenho vergonha de dizer para outras pessoas, porque julgam, culpam a gente. Ele não tem noção do tanto que destruiu a minha vida”, lamenta.
Sociedade de dermatologia orienta A presidente da Regional do Distrito Federal da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD-DF), Luanna Caires Portela, avalia que procedimentos estéticos são invasivos, e orienta que eles sejam realizados por médicos.
São exemplos de procedimentos invasivos a aplicação de toxina botulínica, preenchimento com ácido hialurônico, fios de PDO, lipo de “papada”, endolaser, dentre outros que podem ser realizados por um médico. Segundo a especialista, muitos envolvem anestésicos injetáveis, e exemplos de casos recentes mostram que podem levar ao óbito do paciente.
“A realização de procedimentos invasivos deve ser feita por médicos capacitados, especialmente porque em vários procedimentos ainda se faz necessário o uso de anestésicos, que quando manuseados de forma indevida acarretam graves danos ao paciente. Mas, mesmo quando bem utilizados, ainda podem ocorrer intercorrências graves, que o médico está habilitado de forma rápida a tentar reverter”, ressalta.
Luanna Caires lembra ainda que um médico especialista em dermatologia ou cirurgia plástica tem conhecimento profundo da fisiopatologia da pele. “Com o especialista na área, o paciente tem a melhor avaliação, indicação do procedimento e mais segurança ao realizar o procedimento com produtos adequados, não somente porque são regularizados pela Anvisa, mas com boa procedência e qualidade para ser aplicado no corpo ou face.”
A presidente da Regional do DF da Sociedade Brasileira de Dermatologia ainda diz que denúncias de procedimentos irregulares podem ser feitos na Vigilância Sanitária, que apura se o estabelecimento possui todos os alvarás sanitários adequados e se as substâncias utilizadas na clínica são permitidas em lei.
“Além disso, caso o paciente seja lesado, ele poderá apresentar denúncia junto ao Procon e ao Ministério Público da sua região. Em caso da realização de procedimento estético invasivo, como é o caso da reportagem, o paciente pode denunciar o caso também à Polícia Civil, para apuração do crime de exercício ilegal da medicina previsto no art. 282 do código penal.”
Procurado, o biomédico negou todas as acusações e se manifestou por meio de nota. Leia abaixo, na íntegra:
Nota explicativa by Metropoles on Scribd
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