Putin se volta para a China, mas negociação com Xi emperra

Publicado:

TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é esperado nesta terça (17) em Pequim, para o décimo aniversário da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês). Antes de embarcar, assinou artigo no Renmin Ribao (Diário do Povo), órgão do Partido Comunista Chinês, e concedeu entrevista à rede CCTV.

Nesta, elogiou Xi, “um dos líderes reconhecidos do mundo” e “um parceiro persistente, calmo, prático e confiável”. Falou também da BRI, cuja “principal vantagem é que, com uma estrutura de cooperação, ninguém impõe sua vontade aos outros”.

Putin é a principal atração do fórum do programa de infraestrutura de Xi Jinping, mas a visita foi precedida por duras negociações comerciais entre os dois países. Uma delas acaba de ser concluída.

A gigante russa de energia elétrica Inter Rao chegou a interromper parcialmente o abastecimento na região nordeste da China, há duas semanas, porque Pequim teria recusado um aumento de 7%, resultado de um novo imposto de Moscou.

Comentaristas chineses questionaram, online. Lu En escreveu na plataforma jornalística do Baidu que a disputa mostra como “a dependência é arriscada” e cobrou “estratégia diversificada”. Já Qianliyan afirmou no WeChat que “amizade é uma coisa, negócios são outra” -e a “boa amizade” não seria afetada.

Também o russo Mikhail Zvinchuk, do canal Rybar, no Telegram, avaliou que “amizade não significa que não existam divergências, especialmente em negócios”, e que na China “eles não vão fazer caridade, concordar com todas as ofertas russas”.

No caso, acabaram concordando. Segundo a Inter Rao, na quinta (12) Pequim aceitou pagar o aumento, afastando um ruído às vésperas do encontro bilateral. Mas o fornecimento russo só deve voltar daqui a uma semana.

Resta o outro ruído no comércio de energia, maior e também citado pelos três comentaristas, o gasoduto Power of Siberia 2. Ele retornou com o anúncio do governo russo de que estaria nos “estágios finais” e com um relatório da S&P Global, conhecida como agência de classificação de risco, avisando que ele pode ser assinado durante o fórum BRI.

Segundo a S&P, a gigante chinesa de petróleo e gás CNPC impôs uma “barganha difícil” a Moscou, sobre o preço a ser pago pelo gás russo antes entregue no Norte da Europa. Mas a consultoria americana adiantou que, segundo fonte baseada em Pequim e próxima das negociações, o acordo seria assinado “durante a visita de Putin à China”.

Para Xi, não se trata apenas de conseguir preço melhor. O segundo gasoduto russo reduziria ainda mais a dependência de gás liquefeito (LNG), que é entregue por via marítima, de maior risco diante da crescente presença militar americana e japonesa nos mares da China.

Se confirmada, esta será a segunda ou terceira viagem de Putin ao exterior, após o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostas ações na guerra. Ele visitou em abril a região ucraniana incorporada pela Rússia e, dias atrás, o Quirguistão, para a cúpula da Comunidade de Estados Independentes.

Se ainda há incerteza quanto aos próximos passos nas relações comerciais, inclusive quanto aos produtos agropecuários russos, como soja e carne suína, nos vínculos militares os acordos vêm se ampliando -do uso do porto de Vladivostok pela China à presença naval chinesa no Ártico russo.

Embora a atenção global se concentre na presença de Putin, a BRI tem significado muito mais amplo para Xi. Nestes dez anos, avalia Christoph Nedopil, professor das universidades Griffith (Austrália) e Fudan (China), o investimento de Pequim foi “impressionante”.

“No início deste ano, a soma acumulada ultrapassou US$ 1 trilhão, na maior parte destinados a transporte, energia e outras infraestruturas tradicionais”, escreveu ele no japonês Nikkei. “Embora não seja perfeitamente comparável, o Banco Mundial investiu US$ 800 bilhões durante os mesmos dez anos.”

A Itália indicou que pode deixar a BRI, mas outros 140 países, em sua grande maioria no Sul Global, são esperados em Pequim. No fim de semana, entre outros, desembarcaram na capital chinesa o queniano William Ruto e o chileno Gabriel Boric.

O fórum deve evidenciar a evolução do programa na década, em parte como resposta às críticas que recebe do Ocidente desde o princípio. Na metade do caminho, por exemplo, abandonou projetos de carvão e passou a dar atenção àqueles com padrão ambiental. Também diminuiu sua grandiosidade, priorizando sustentabilidade financeira e mecanismos como a troca de dívida por natureza. Por fim, incorporou empresas privadas como Alibaba e CATL.

Desde 2013, EUA e o G7 lideraram o lançamento de cinco programas concorrentes, por enquanto sem o mesmo impacto: Blue Dot Network, Build Back Better World, Partnership for Global Infrastructure and Investment, Global Gateway e o recente India-Middle East-Europe Economic Corridor.

Comentários Facebook

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ONU critica lei promulgada que concede anistia no Peru: ‘Um retrocesso na busca por justiça’

O cenário no Peru se torna cada vez mais preocupante com a recente promulgação de uma lei que concede anistia a militares e...

Trump defende tarifas comerciais e critica Goldman Sachs

O presidente americano, Donald Trump, reafirmou sua posição polêmica sobre as tarifas comerciais em uma recente publicação na rede Truth Social. Ele defendeu...

Exército israelense anuncia aprovação de plano para nova ofensiva em Gaza

Em um momento crítico, o Exército israelense anunciou a aprovação de um plano para uma nova ofensiva na Faixa de Gaza, intensificando os...