O deputado federal André Janones (Avante-MG) acionou seus “soldados” para o defender nas redes sociais da acusação de “rachadinha”. “Hoje sou eu quem preciso de vocês! Me ajudem a divulgar esse tuíte”, escreveu o parlamentar na manhã desta terça-feira, 28, num grupo do Telegram com mais de 77 mil inscritos. Ele orienta seus apoiadores a espalharem que as informações foram retiradas de contexto.
“Quando vamos aprender a não julgar e condenar antes do contraditório e à ampla da defesa? Pensei que a Lava Jato tinha deixado lições”, escreveu o parlamentar aos seus apoiadores para convencê-los a fazer sua defesa nas redes sociais.
Em áudio gravado por um ex-assessor, Janones exigiu que funcionários do seu gabinete na Câmara arquem com suas despesas pessoais. “Tem algumas pessoas aqui que vão receber um pouco de salário a mais e elas vão me ajudar a pagar as contas que ficou (sic) da minha campanha de prefeito”, afirma Janones na gravação. “Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 [mil] e eu acho justo que essas pessoas também hoje participem comigo da reconstrução disso”, acrescentou.
A prática conhecida como “rachadinha” é ilegal por se tratar de desvio de dinheiro público. Funciona assim: o valor entra como salário, mas o funcionário é coagido a devolver parte para o deputado. Janones foi um dos principais críticos da família Bolsonaro justamente por acusações de que aderem a prática.
A reunião em que o deputado foi gravado ocorreu em fevereiro de 2019. O áudio foi captado pelo ex-assessor Cefas Luiz, que divulgou seu conteúdo publicado inicialmente pelo Metrópoles. O Estadão também obteve a gravação. Cefas diz que o esquema de “rachadinha” era comandado pela ex-namorada de Janones, a atual prefeita de Ituiutaba (MG), Leandra Guedes (Avante). Em 2022, um outro ex-assessor do deputado já havia o denunciado pelos mesmos crimes.
‘Fake news’
Janones diz ser vítima de fake news, alega que suas declarações foram retiradas de contexto e nega a prática de “rachadinha”. No livro que acaba de lançar, o deputado diz que ensinou os petistas a não rebaterem fake news. “Os únicos momentos em que eu discordava totalmente do pessoal da campanha tinham relação com a forma de lidar com fake news. ..Fake news não se desmente”, registrou na obra em que ensina a tática de “desvio de foco”. “Ganha a batalha no mundo digital quem consegue pautar as redes”, ensinou.
O deputado atuou na última campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como estrategista de redes sociais e, recentemente. No tuíte em que pede para aos seus seguidores que o defendam, Janones compara as acusações de “rachadinha” com o caso do tríplex do presidente Lula. “Quando vamos aprender a não julgar e condenar antes do contraditório e à ampla da defesa? Pensei que a Lava Jato tinha deixado lições”, escreveu o parlamentar. “Espero que nos próximos três anos aprendemos a guerrear, ou em 2026 eles voltarão, com tudo. E aí, já era democracia”, finalizou.
Quem já saiu em defesa do parlamentar, antes mesmo dele pedir ajuda em seu grupo no Telegram, foi a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), que resumiu uma denúncia de corrupção a uma guerra política.
“A gente sabe como funciona o mecanismo da extrema direita, acusam os outros do que eles mesmo fazem, distorcem fatos e geram fake news”, disse, ao se solidarizar com Janones e sem comentar o teor dos áudios.
“Cassação é pouco para ele!”, disse o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ). O ex-deputado e ex-procurador Deltan Dallganol (Novo) pediu a quebra de sigilo bancário e fiscal de Janones, bem como uma investigação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre as movimentações financeiras atípicas. Dallagnol também apontou o crime de caixa dois. Ambos são opositores ao parlamentar.
Áudio
No áudio, Janones disse também que é injusto ele ganhar R$ 25 mil e usar R$ 15 mil para pagar a dívida de sua campanha à Prefeitura de Ituiutaba em 2016. “O Mário vai ganhar R$ 10 mil. Eu vou ganhar R$ 25 mil líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas que ficou de 2016. Não é justo, entendeu?”, afirma.
A relação de servidores contratados por Janones inclui um de nome Mário, contratado desde fevereiro de 2019, época da gravação. Hoje ele recebe um salário bruto de R$ 16.640,22. Procurado pela reportagem, não foi localizado.
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