Dono de falas polêmicas, uma proposta de governo extrema e novidade na política argentina, apesar de já ter sido deputado, Javier Milei (A Liberdade Avança) foi de favorito nas eleições – ele venceu a PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias) – ao segundo lugar no primeiro turno, condição que lhe obrigou a correr contra o tempo para conseguir angariar votos na reta final e vencer seu principal adversário: Sérgio Massa (Union por la Patria), que foi do terceiro lugar na PASO ao posto de vencedor no primeiro turno. A estrategéia adotada pelo libertário foi recuar em suas falas extremas para conseguir conquistar o público conservador, que embora anseie por mudança, via com receio o discurso radical. Como parte desta guinada ao centro, Milei também recebeu apoio de Patrícia Bullrich (Juntos pela Mudança), terceira colocada.
A tática e a união com Bullrich deram certo e, neste domingo, 19, o economista se consagrou como o novo presidente da Argentina ao derrotar Sergio Massa. Com 87% das urnas apuradas, ele alcançou 55% dos votos, enquanto seu adversário, vencedor do primeiro turno, ficou com 45%. Sua posse será no dia 10 dezembro. Conhecido como “Bolsonaro Argentino”, ele é admirador do ex-presidente do Brasil e de Donald Trump, ex-chefe de Estado dos Estados Unidos. Nas primárias, inclusive, Milei chegou a receber um vídeo de apoio de Jair Bolsonaro, enquanto seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi à Argentina no primeiro turno para acompanhar a votação. Javier Milei, de 53 anos, se classifica como “anarcocapitalista” e promete acabar com o sistema político tradicional. Com esse discurso, ele se conectou especialmente com os mais jovens. O economista libertário de extrema-direita surgiu nesta eleição como um fenômeno inovador, que catalisou a frustração dos eleitores. Nem mesmo as denúncias de ex-colaboradores de que pedia dinheiro em troca de candidaturas foram o suficiente para arranharem sua popularidade.
Milei, filho de um motorista de ônibus que depois se tornou empresário do transporte e de uma dona de casa, cresceu em um lar violento em Bueno Aires. Criado entre espancamento e abusos verbais, foi sustentado pela avó materna e Karina, sua irmã mais nova, a qual diz ser seu círculo afetivo mais imediato, junto a seu cachorro – ele é apaixonado pelos cães da raça mastim. Na escola, ficou famoso por ser revoltado. Em sua biografia não autorizada, o jornalista Juan Luis González revela que Milei era chamado de “El Loco”. González garante que Milei estuda telepatia e tem um meio para se comunicar com o mais velho de seus mastins, falecido em 2017, a quem pede conselhos. “O que eu faço dentro de casa é problema meu”, respondeu em entrevista ao “El País”. O economista estudou na escola Cardenal Copello em Villa Devoto, um subúrbio de classe média alta de Buenos Aires, onde jogou futebol como goleiro nas divisões inferiores do time Chacarita Juniors, cantou em uma banda que fazia cover dos Rolling Stones e de onde ele não se lembra de ter tido namoradas ou amigos.
Formado em Economia pela Universidade de Belgrano, na Argentina, ele tem dois mestrados na área. Milei atuou em consultorias, bancos e grupos de políticas econômicas, segundo um perfil disponível no site do Fórum Econômico Mundial. Antes de concorrer às eleições presidenciais e se consagrar como novo presidente da Argentina, Milei já tinha conquistado um assento nas eleições legislativas de 2021, quando recebeu 17% dos votos na cidade de Buenos Aires. Agora, como chefe de Estado, tem como principais propostas de governo a eliminação do Banco Central e dolarização a economia, permitir o livre porte de armas – ele chegou, inclusive, a defender a venda de órgãos humanos. Fernando Cerimedo, coordenador de campanha de Milei, resumiu parte de seu sucesso em uma receita simples. “Foi o único candidato que apresentou um projeto, que contou o que queria fazer. Goste você ou não, foi o único a fazê-lo. O povo se cansou de tudo o que vinha acontecendo, das promessas não cumpridas”, disse.
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