USP vai homenagear alunos mortos pela ditadura com diplomação póstuma

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São Paulo – A Universidade de São Paulo (USP) vai diplomar postumamente dois estudantes da instituição que foram assassinados durante a ditadura militar no Brasil.

Os homenageados serão Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Queiroz, alunos do curso de Geologia mortos pelo regime ditatorial em 1973.

A diplomação acontecerá no dia 15 de dezembro, em uma sessão solene que começará às 15h, no Instituto de Geociências, e será aberta ao público. O evento também será transmitido no canal do YouTube da faculdade.

Amigos e familiares dos dois estudantes foram convidados para participar da sessão.

Segundo a assessoria de imprensa da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP, os pedidos de diplomação póstuma foram solicitados por familiares e professores do curso de Geologia e aprovados nas instâncias da universidade.

Um projeto da universidade em parceria com a vereadora paulistana Luna Zarattini (PT) prevê, no entanto, ampliar as homenagens póstumas para todas as vítimas da ditadura militar.

O gabinete da vereadora, que também é ex-aluna da USP, apresentou a ideia à reitoria da universidade. O projeto levou o nome de “Diplomação da Resistência” e tem o objetivo de conseguir todas as diplomações até o fim de 2024, quando a universidade completa 90 anos.

Quem são os dois homenageados Alexandre Vannuchi Leme e Ronaldo Queiroz foram presidentes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP.

Segundo a Comissão da Verdade da USP, Ronaldo presidiu o DCE entre 1970 e 1971, até que abandonou o curso após sofrer perseguição política.

O relatório da comissão aponta que o estudante era responsável pelo trabalho da Ação Libertadora Nacional (ALN) no movimento estudantil.

Segundo o documento, a versão oficial apresentada sobre a morte de Ronaldo era a de que ele foi morto no dia 6 de abril de 1973, em um tiroteio depois de resistir à prisão.

“No entanto, o que de fato aconteceu é que ele foi fuzilado por agentes do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo (DOI-CODI/SP), que não chegaram a lhe dar voz de prisão, baleando o militante à queima-roupa, assim que o reconheceram”, afirma o relatório da Comissão da Verdade.

A verdade sobre o morte teria sido contada por Cláudio Guerra, um dos agentes que participou da operação que o assassinou, no livro “Memórias de uma guerra suja”.

Na presidência do DCE, Ronaldo foi sucedido por Alexandre Vannucchi Leme, estudante de Geologia assim como ele.

Vannuchi entrou na USP em 1970 e chegou ao quarto ano do curso antes de ser preso e assassinado.

Segundo a Comissão da Verdade da USP, o estudante foi preso no dia 16 de março de 1973 pelos agentes do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo (DOI-CODI).

O relatório afirma que ele foi “duramente torturado até o dia seguinte, quando não resistiu e morreu em decorrência das agressões sofridas na prisão”.

Duas versões diferentes foram apresentadas pelos agentes para justificar a morte. Em uma delas, disseram que Vannucchi teria cometido suicídio com uma lâmina de barbear. Em outra, afirmaram que ele morreu atropelado ao tentar fugir da prisão.

“Ambas as versões foram desmentidas a partir dos depoimentos de uma série de presos políticos que acompanharam sua passagem pela prisão”, diz o texto da comissão da verdade.

A morte de Vannucchi gerou uma comoção na universidade e o DCE acabou ganhando seu nome.

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