Explícito. Adjetivo utilizado para descrever algo que se declara ou enuncia de modo perfeito ou literal. Isto é, sem ambiguidades ou dúvidas. Algo que não faz restrição na expressão. A palavra é conhecida para quem utiliza de forma frequente os streamings de músicas e costuma ouvir as faixas com conteúdos mais picantes. Por lá, o conteúdo é sinalizado com o selo com o ‘E’, que indica a linguagem direta, em especial quando a faixa é sobre sexo.
Mas e quando se trata do pagodão, gênero baiano que é conhecido justamente pelo uso de linguagem explícita? Como driblar o veto nas rádios às canções +18?
Apontado pelos internautas como um dos favoritos ao título de música do Carnaval, O Kannalha usou e abusou da linguagem explícita na canção ‘Nego Doce’, que narra a história de um homem com “23cm” de pura emoção e que promete fazer a mulher gozar. A faixa, no entanto, precisou ser adaptada para que tocasse nas rádios.
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Em entrevista ao Bahia Notícias, o cantor falou sobre a necessidade de ter que mudar a letra da canção para se encaixar nas mídias convencionais.
“A gente fez uma versão para que a galera possa ouvir com a família, em casa. Me pediram e eu fiz essa caridade para a galera, mas eu sempre vou defender a bandeira chamada pagode. Eu usei, nada mais, nada menos que palavras que são usadas em músicas cariocas, em músicas do Sul, que concorrem no topo do Spotify. São as mesmas palavras”, conta Danrlei – nome de batismo do Kannalha.
Darnlei acredita que há uma discriminação por parte da grande mídia em aceitar a essência das canções que vêm da comunidade.
“Eu acho que ainda tem uma discriminação forte, acho que o artista sabe o que ele quer passar para o público e o público sabe o que quer ouvir e busca consumir isso. Através da discriminação, algumas pessoas acabam se fechando de fato e acabam indo pela cabeça dos outros. Se você gosta e você não coloca as palavras mais picantes na música pelo fato de estar sendo discriminado, você não tá sendo você. As pessoas chegam para mim e falam que gostam das músicas do jeito que elas são”.
O cantor conta que entende como a “transição” para o pagode light pode fazer com que a banda ganhe mais ouvintes, mas afirma que não irá deixar de cantar o que o público gosta. “Se O Kannalha está fazendo essa transição, por esse processo de fazer as músicas com uma linguagem mais leve, é porque o público pediu e é para agradar a todos, e não um público específico”.
Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias
Se o pagode mais leve é chamado de light, o +18 pode receber o novo selo que indica o excesso em calorias e açúcares, a tirar pelo mel de O Kannalha. O tópico também já foi motivo de debate para Bruno Magnata, vocalista da banda La Fúria, que, durante o Festival Virada Salvador, afirmou ao Bahia Notícias que chegou a pensar em cantar músicas mais leves, mas foi incentivado pelo público a seguir o caminho da ousadia.
Para o artista, este é foi o caminho encontrado por muitos artistas da nova geração para ingressar na música. “A gente tem que apoiar esses meninos novos que estão vindo, que estão surgindo da favela para cantar o pagodão. Fico muito feliz. Independente de letra, independente de qualquer coisa, eu acho que a gente tem que estar apoiando. Você vê esses meninos novos, de 15 ou 16 anos, que já estão cantando o pagodão. Podia estar fazendo coisa errada, mas está fazendo arte”, opinou Magnata.
Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias
O cantor Deivison Nascimento, Oh Polêmico, que chegou a concorrer ao título de Música do Carnaval no Troféu Bahia Folia com ‘Deixa Eu Botar Meu Boneco’, sem precisar adaptar a música, celebrou o crescimento do gênero após a pandemia.
Neste ano, o pagodeiro tem duas apostas para a folia, ‘Fritadeira’ e ‘Na Ondinha’. “O pagodão segue crescendo, de 2023 para 2024 surgiram novos nomes. Os meninos da A5 agora já são mais de dez artistas que estão estourados nas redes sociais. Isso é bom, só fortalece o movimento”, disse ao Bahia Notícias.
Se nas rádios e na TV há algum tipo de veto implícito para o pagodão, na avenida os artistas irão desfilar cantando exatamente a mesma música que o público ouve nos paredões. O Kannalha, Oh Polêmico e a banda La Fúria fazem parte da programação oficial do Carnaval de Salvador que foi anunciada pela Prefeitura na terça-feira (23).
Além do trio, se apresentam ainda nos circuitos da festa O Erótico, A Dama, ATTOOXXA, Pagodart, Ed City, Guig Ghetto. Entre os nomes de repercussão nacional estão Léo Santana, Parangolé, É O Tchan, Psirico e Xanddy Harmonia. No Carnaval dos bairros o pagodão será representado por 7Kassio, Selaquatro, Pegadeira, Blackstyle, O Breguinha e Fantasmão.

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