A investida dos postulantes à presidência da Câmara dos Deputados em direção a Jair Bolsonaro (PL) tem sido evidente. Mesmo diante da promessa de respaldo do ex-presidente ao candidato indicado pelo atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), os pré-candidatos ao cargo decidiram agir previamente, buscando diretamente o ex-presidente ou enviando representantes para dialogar com ele.
O apoio de Bolsonaro pode desempenhar um papel fundamental na consolidação dos votos do PL, que detém a maior bancada na Câmara, com 93 parlamentares, além de deputados alinhados ao bolsonarismo que fazem parte de outras bancadas.
A eleição para a liderança da Câmara está marcada para fevereiro. Lira não pode concorrer à reeleição neste momento. A movimentação dos parlamentares em busca do aval de Bolsonaro contrasta com a situação no Senado, onde Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) é o favorito para suceder Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Identificado como o favorito de Lira para a disputa, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), buscou diretamente Bolsonaro, com quem se reuniu em maio.
Segundo relatos, Bolsonaro mencionou o apoio de Elmar na disputa presidencial de 2022, quando o deputado criticou membros do Partido dos Trabalhadores (PT) durante eventos na Bahia, um reduto eleitoral do PT. Durante as negociações, foi oferecido destaque ao PL na Mesa Diretora da Casa, mas não houve uma indicação concreta de apoio.
O presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), chegou a ser vetado pelo ex-presidente devido a descontentamentos com suas posições em relação ao governo Lula (PT), porém, segundo aliados, essa situação foi contornada após uma reunião entre os dois.
Os apoiadores de Pereira confiam no empenho do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A expectativa é que Tarcísio apoie a candidatura de Pereira não apenas junto a Bolsonaro, mas também à bancada paulista na Câmara e ao PL.
Membros do partido afirmam ter recebido sinais positivos do governador nesse sentido. No entanto, aliados de Tarcísio minimizam a possibilidade de um envolvimento mais proeminente do governador, destacando que, por ser filiado ao Republicanos, ele não pode negar um pedido do presidente de seu partido, mas inicialmente não está totalmente comprometido com a campanha.
Outro concorrente pela cadeira de Lira, o líder do PSD, Antonio Brito (BA), se reuniu no início do mês com Bolsonaro, recebendo dele “a medalha dos três is”, um reconhecimento que o ex-presidente concede a seus aliados.
O encontro foi intermediado pelo bolsonarista Reinhold Stephanes Junior (PSD-PR) e pelo ex-deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), que atuou como líder do governo Bolsonaro na Câmara.
Brito também conta com o apoio do ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) e do advogado Ives Gandra Martins, alinhado a Bolsonaro.
No dia 12 de maio, Brito foi entrevistado por Ives Gandra em seu programa de televisão “Anatomia do Poder”. Durante a entrevista, o advogado se referiu ao deputado como seu “sobrinho de coração”, chamando-o de Toni.
A aproximação com Bolsonaro exige cautela por parte dos concorrentes à presidência.A Câmara dos Deputados tem adotado uma postura cautelosa para não desagradar os partidários do governo. Mesmo sem planejar lançar um candidato próprio na disputa, devido à representação da esquerda em apenas um quarto das cadeiras da Câmara, o governo desempenha um papel significativo nessas circunstâncias. De salientar, o PT, sob a liderança de Lula, é a segunda maior bancada na Casa, com 80 das 513 cadeiras existentes.
Os candidatos em questão têm feito acenos ao governo, garantindo uma relação harmoniosa, sem surpresas desagradáveis ou ameaças de inclusão de temas controversos na agenda parlamentar. Já no ano anterior, Pereira ressaltou esse compromisso durante as negociações para a entrada do partido na base governista, com a indicação de Silvio Costa Filho para o Ministério de Portos e Aeroportos.
Em uma conversa na presença de Lula, Pereira assegurou a inexistência de pautas bombas durante sua gestão na presidência da Câmara. Adicionalmente, dissipou a possibilidade de utilizar o cargo em benefício de Tarcísio, caso este opte por concorrer à Presidência em 2026. Relatos indicam que Pereira afirmou que o governador de São Paulo não tem se mantido fiel ao partido, sugerindo possíveis flertes com outras legendas.
Embora seja considerado o favorito de Lira, Elmar também se comprometeu a adotar uma postura distinta de seu mentor político em sua relação com o governo. Nas reuniões com membros do PT, o líder do União Brasil indica uma relação sem a inserção de jabutis, termo parlamentar que representa a tentativa de incluir temas irrelevantes em projetos de lei. No âmbito do PT, ele conta com o apoio de figuras como o ex-ministro José Dirceu e seu filho, o ex-líder da sigla na Câmara, Zeca Dirceu (PR).
Por outro lado, Brito é apontado como o preferido dos apoiadores do governo para suceder Lira. Contudo, uma facção do PT levanta objeções ao PSD devido à passagem de Gilberto Kassab, presidente da legenda, pelo ministério de Michel Temer após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016.
Lira tem manifestado a aliados sua intenção de anunciar um nome consensual ainda em agosto, cerca de seis meses antes da eleição. Contudo, essa perspectiva depende da desistência de pelo menos dois dos candidatos mais fortes até o momento, além do acordo entre Lira e Lula em torno do candidato escolhido. Leitura adicional: Barroso: Decisão do Congresso sobre drogas terá primazia se estiver em conformidade com a Constituição.
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