Opinião: Duplo comando na Câmara e no Senado abre margem para candidaturas de Elmar e Otto

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Desde o fim dos anos 1990, período em que Antônio Carlos Magalhães ainda exercia influência como uma figura central na política baiana, não se vislumbravam cenários tão concretos em que a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal pudessem ser ocupadas por representantes da Bahia. Os nomes em destaque não dependem apenas de suas trajetórias de sucesso, mas também de certa dose de “fracasso” por parte de aliados dentro do próprio partido. É um cenário complexo, que requer uma abordagem didática.

Desde a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado, seu antecessor Davi Alcolumbre (União-AP) tem trabalhado arduamente para voltar ao cargo. Figura chave para a estabilidade na primeira metade do mandato do Congresso sob a gestão de Jair Bolsonaro, Alcolumbre sempre deixou claro seu interesse em reassumir a liderança dos senadores. Sua influência sobre a distribuição de emendas e o controle da Comissão de Constituição e Justiça foram evidências claras desse desejo. Inicialmente, Alcolumbre via como certa a sua volta, até que um correligionário surgisse como candidato de peso para a presidência da Câmara.

Elmar Nascimento (União-BA) é o favorito de Arthur Lira (PP-BA) para sucedê-lo no cargo. Após ter sido peça-chave na ascensão de Lira em relação ao antigo aliado Rodrigo Maia, Elmar consolidou sua posição como uma figura influente não apenas para Lira, mas também na busca pela independência da Câmara em relação ao governo federal. Não se trata apenas de uma disputa simbólica por poder, mas sim de um embate que envolve o controle de diversas esferas da vida política brasileira, permeando até mesmo um sindicalismo parlamentar que se delineia nas entrelinhas.

Diante da possibilidade de Elmar se tornar o candidato único viável para a presidência da Câmara, Antônio Brito (PSD-BA) tentou se posicionar como um azarão, questionando a conveniência de ter a União Brasil liderando tanto o Senado, com Davi, quanto a Câmara, com Elmar. Para o governo, não seria estratégico ver o Legislativo nas mãos de um partido cuja fidelidade não oferece a segurança necessária para um governo fragilizado, como foi observado no período pós-Bolsonaro, em que o Legislativo se mostrou extremamente poderoso.

Brito entrou em cena nesse contexto, buscando desempenhar esse papel, mas mesmo se apresentando como o “líder dos líderes” – parafraseando Lira -, o social-democrata baiano sempre enfrentou chances reduzidas diante de Elmar. O político local foi paciente e, após ver suas tentativas de se destacar frustradas em diversas esferas (como secretário estadual, candidato à presidência da Câmara ou mesmo como ministro), ele solidificou sua posição de forma a tornar-se uma escolha muito difícil de ser descartada. É nesse momento que as atenções se voltam para outro baiano, agora no Senado: Otto Alencar (PSD).

O deputado do PSD poderia atuar como uma espécie de “isca”, fazendo com que o governo direcionasse mais atenção ao Senado, considerando que as chances de Elmar se firmar como representante dos deputados são bastante superiores a qualquer outro nome que tenha surgido ou possa surgir. Brito abriu uma brecha para que a União Brasil não domine ambas as casas legislativas, e o PSD de Gilberto Kassab reconheceu tanto seu próprio potencial quanto a capacidade de articulação de Otto. Como resultado, o senador baiano emergiu como uma opção viável diante do até então incontestável Davi Alcolumbre.

Estamos diante de uma disputa entre os grandes tubarões da política, envolvendo partidos de peso como União Brasil e PSD, figuras influentes como Elmar Nascimento, Arthur Lira, Antônio Brito, Davi Alcolumbre e Otto Alencar, e a estratégia de sobrevivência do governo na complicada relação com o Congresso Nacional. Já preparou sua pipoca?

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