Um veredicto controverso foi proferido por um tribunal russo nesta sexta-feira (19), condenando o jornalista americano Evan Gershkovich a 16 anos de prisão sob a acusação de espionagem, uma alegação veementemente negada pelo repórter, sua família e a Casa Branca. Aos 32 anos, o jornalista do Wall Street Journal deverá cumprir sua sentença em uma colônia penitenciária de “regime fechado”, conforme determinado pelo juiz Andrei Mineyev. A detenção de Gershkovich ocorreu durante uma reportagem realizada nesta cidade localizada na região dos Urais no final de março de 2023. A Promotoria o acusou de coletar informações sensíveis para a CIA sobre um dos principais fabricantes de armas da Rússia, Uralvagonzavod, responsável pela produção dos tanques T-90 usados na Ucrânia. Os Estados Unidos acreditam que a detenção tem a intenção de utilizar o jornalista em uma possível troca de prisioneiros, em meio à crescente tensão entre Moscou e Washington devido ao conflito na Ucrânia. O Wall Street Journal criticou a sentença e prometeu continuar pressionando por sua libertação.
“Esta vergonhosa e injusta sentença ocorre após Evan ter passado 478 dias na prisão, afastado de sua família e amigos, impedido de exercer sua profissão jornalística, tudo por estar desempenhando sua função como repórter”, afirmaram o editor do jornal, Almar Latour, e a editora-chefe Emma Tucker em um comunicado.
A organização Repórteres sem Fronteiras comparou a sentença a um ato de “tomada de refém” e exigiu a libertação imediata de Gershkovich. Os EUA acreditam que sua prisão tem o propósito de forçar uma potencial troca de prisioneiros em um momento de grande tensão entre Moscou e Washington relacionado ao conflito na Ucrânia. “Estamos trabalhando incansavelmente pela libertação de Evan e continuaremos fazendo isso”, declarou o presidente dos EUA, Joe Biden, em um comunicado. A prisão do jornalista norte-americano em março de 2023 suscitou uma onda significativa de solidariedade na imprensa internacional e indignação nos ministérios das Relações Exteriores do Ocidente.
Nesta sexta-feira (19), o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, classificou a condenação do repórter como “desprezível”, enquanto a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, a descreveu como “parte da propaganda de guerra de (Vladimir) Putin”. A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, denunciou o julgamento como “simulado” e “a antítese da justiça”. No exílio, a ativista da oposição russa Yulia Navalnaya criticou o veredicto de forma contundente. A audiência desta sexta-feira foi a terceira desde o início do julgamento, em 26 de junho. A segunda audiência, inicialmente marcada para agosto, foi antecipada para quinta-feira a pedido da defesa. Normalmente, os julgamentos por acusações semelhantes na Rússia se estendem por várias semanas ou até meses.
Gershkovich é o primeiro jornalista ocidental a ser acusado de espionagem na Rússia desde o período soviético, gerando uma onda de solidariedade na imprensa americana e europeia.A Rússia concordou em negociar a libertação do repórter Vadim Krasikov, preso na Alemanha por um assassinato encomendado pelos serviços especiais russos. Vladimir Putin, presidente do país, mencionou o caso do jornalista, que é filho de imigrantes que fugiram da União Soviética para os Estados Unidos e se mudou para a Rússia em 2017. Em junho, a Casa Branca denunciou o julgamento como uma “farsa” e reiterou que o repórter “nunca trabalhou para o governo” americano. Pouco tempo depois, um painel de especialistas da ONU declarou a detenção como arbitrária e pediu sua libertação imediata.
No primeiro dia do julgamento, em 26 de junho, o jornalista foi visto na cabine de vidro reservada aos acusados, com a cabeça raspada e um sorriso no rosto. Embora não tenha permissão para falar, ele fez gestos para pessoas conhecidas dentro do tribunal. Atualmente, sua única forma de comunicação com familiares e amigos é por meio de cartas que são lidas e censuradas pela administração penitenciária. Nas correspondências, o repórter assegura que mantém o bom humor e está resignado diante de uma possível condenação.
As manifestações em apoio à libertação do jornalista se intensificaram, com diversas organizações internacionais expondo sua preocupação com a situação. A pressão sobre a Rússia para que liberte Vadim Krasikov tem crescido, especialmente após a declaração da ONU sobre a arbitrariedade de sua detenção. Enquanto isso, Vladimir Putin e autoridades russas parecem abrir espaço para discutir a resolução do caso.
Em meio a um cenário internacional tenso, a atenção está voltada para os desdobramentos desse caso, que envolve questões diplomáticas delicadas entre Rússia, Alemanha e Estados Unidos. A liberdade de imprensa e a proteção dos direitos humanos são temas centrais nas discussões sobre a prisão do jornalista, levantando debates sobre os limites da liberdade de expressão em diferentes contextos políticos.
A AFP tem acompanhado de perto os acontecimentos e continua fornecendo atualizações sobre o caso, mantendo o público informado sobre os desafios e avanços relacionados à situação do repórter russo.
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