São Paulo — Urubu. Caveira de boi. E três espantalhos em destaque. Desamparados e abandonados no tempo. Será que o homem é um espantalho? Uma reprodução da obra Espantalhos (1940), de Candido Portinari, está entre as cópias de obras em exposição na estação Higienópolis-Mackenzie da Linha 4-Amarela do metrô, local onde a “Parada Portinari” vai ocorrer até dezembro de 2024. Cerca de 30 mil passageiros passam por ali diariamente, com destaque para “O lavrador de café” nas portas dos vagões.
Candido Portinari, conhecido como “o pintor do povo”, nasceu em uma fazenda de café, próxima à pequena cidade de Brodowski, no interior de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, começou a pintar aos 9 anos de idade. De pintar café na infância a criar o mural “Guerra e Paz”, exposto na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), tornou-se um dos maiores pintores de todos os tempos.
João Candido, seu filho, compartilhou com o Metrópoles detalhes sobre as 400 obras autenticadas que serão incluídas, ainda este ano, no acervo do artista, e os novos projetos em andamento, como a série de selos dos Correios com obras perdidas do pintor.


Influenciado por suas memórias de infância em um cafezal, Cândido Portinari retratou os trabalhadores rurais em suas obras. Comumente chamado de o pintor da “alma humana”, ele traduzia em suas pinturas a essência e os sentimentos do povo brasileiro. Portinari cresceu nas proximidades de Brodowski, em uma fazenda de café onde seus pais trabalhavam, e esse cenário rural se tornou uma fonte constante de inspiração para sua arte.
A temática do trabalho rural e da vida simples no campo foi recorrente na obra de Portinari. Sua ligação com a realidade social e a valorização dos trabalhadores marcaram suas pinturas, que refletiam as condições e dificuldades enfrentadas pela população menos privilegiada. Em cada pincelada, o artista buscava expressar a dignidade e a humanidade presentes no cotidiano dessas pessoas.
Além de suas telas, Portinari imprimiu sua sensibilidade em locais inusitados, como as portas de vagões de trem, onde deixava poesias e mensagens. Essa atitude revela não apenas sua habilidade artística, mas também sua vontade de levar arte e reflexão a diferentes públicos, fora dos espaços tradicionais de exposição.
Uma das obras mais emblemáticas de Portinari é o mural “A Guerra”, no qual a intensidade dos tons de azul contrasta com a brutalidade e o sofrimento retratados. O artista optou por representar o impacto da guerra no povo, em vez de focar nos soldados em combate, criando uma obra impactante que convida à reflexão sobre os horrores do conflito.
Em contraponto à violência da guerra, Portinari também expressou em suas pinturas o desejo e a esperança por paz. Em telas como “A Paz”, ele simbolizou a aspiração por um mundo mais pacífico e harmonioso, reforçando sua mensagem de humanidade e solidariedade através da arte.
Cândido Portinari deixou um legado artístico que vai muito além de suas pinturas. Sua capacidade de transmitir emoções e narrativas por meio da arte o consagrou como um dos grandes nomes da pintura brasileira, deixando uma marca indelével na história cultural do país. Suas obras continuam a inspirar e comover espectadores, mantendo viva a relevância de seu trabalho e sua mensagem de humanidade.Portinari cresceu nas proximidades de Brodowski, numa fazenda de café onde seus pais trabalhavam, o que se tornaria uma grande fonte de inspiração para suas obras. A sua ligação com essa temática foi notável em muitos dos seus trabalhos.
Nas portas dos vagões, era possível encontrar poesias do renomado artista, detalhe que contribuía para a disseminação de sua arte mesmo em locais inusitados.
A exposição das obras de Portinari estará em cartaz até dezembro de 2024, proporcionando ao público a oportunidade de mergulhar no universo criativo desse renomado artista brasileiro.
Uma curiosidade é que cópias das obras estão sendo exibidas na estação Mackenzie Higienópolis, permitindo que um número ainda maior de pessoas aprecie e se encante com a arte de Portinari.
Ao longo de sua carreira, Cândido Portinari produziu mais de cinco mil obras, demonstrando sua incrível produtividade e paixão pela arte.
Portinari é conhecido por sua versatilidade artística, adaptando suas técnicas ao longo do tempo, o que se reflete na diversidade e riqueza de sua produção artística.
Uma das obras em destaque é “Espantalhos”, originalmente exposta no MAM (Museu de Arte Moderna) no Rio de Janeiro, retratando a presença recorrente desses personagens na obra de Portinari.
Os espantalhos são elementos que frequentemente aparecem em suas criações, como exemplificado pela reprodução exposta na estação Mackenzie Higienópolis, mostrando a relevância desses elementos na narrativa visual de Portinari.O renomado artista Candido Portinari é reconhecido por sua vasta produção de retratos que capturam a essência do homem brasileiro, explorando questões sociais e históricas que o moldam. Seu filho João expressou em uma carta a importância de reconectar o público brasileiro com a obra de seu pai, e, por consequência, consigo mesmos.
Um dos momentos marcantes na carreira de Portinari foi a criação de uma obra monumental para a Organização das Nações Unidas (ONU), sendo aclamado por Dag Hammarskjöld, então secretário-geral da ONU, como “a obra de arte monumental mais importante doada à ONU.” Essa contribuição destacou Portinari como um artista de renome internacional.
Com cerca de 30 mil pessoas transitando diariamente pela estação Mackenzie Higienópolis, linha 4 do metrô, a arte de Portinari encontra um público diverso e amplo. Suas obras são apreciadas por uma ampla audiência, demonstrando sua relevância e impacto na sociedade contemporânea.
Uma das pinturas icônicas de Portinari é “Lavrador de Café” de 1934, que retrata a vida simples de um trabalhador rural. A simplicidade e a profundidade desse retrato refletem a habilidade única do artista em capturar a essência da cultura e da vida brasileira.
Mesmo com uma produção extensa, estima-se que Portinari tenha assinado apenas duas mil telas ao longo de sua carreira, deixando muitas de suas obras sem autenticação. Para facilitar a identificação e busca por telas desaparecidas, algumas reproduções foram transformadas em selos, incentivando a recuperação e preservação do legado artístico de Portinari.Um catálogo raisonné é um inventário minucioso da obra de um artista, contendo informações precisas sobre cada trabalho, como tamanho, técnica, localização, data e coleção. Além disso, apresenta detalhes do percurso da obra, como proprietários anteriores, exposições e documentos relacionados. Questões de autenticidade e atribuições também são discutidas, e alguns catálogos incluem listas de obras duvidosas.
Alguns defendem a produção e atualização contínua de catálogos raisonné, enquanto outros argumentam que esses catálogos não são suficientes para determinar a autenticidade das obras de artistas consagrados e podem servir como guias para falsificadores. Douglas Quintale, perito em análises de obras de arte, defende que um raisonné deve ser objetivo e abrangente. Muitas galerias utilizam esses catálogos para comprovar a autenticidade de uma obra ao vendê-la.
Recentemente, durante a SP-Arte, a maior feira de arte da América Latina em abril de 2024, um escândalo envolvendo uma suposta obra de Tarsila do Amaral ganhou destaque. Uma tela suspeita emergiu no estande da galeria OMA, sendo apresentada como um trabalho inédito da artista. No entanto, detalhes como a presença aleatória de cactos, em contraste com as características das obras de Tarsila, levantaram dúvidas sobre sua autenticidade, gerando intensa polêmica entre peritos e estudiosos.
Os herdeiros de Tarsila realizaram uma mudança significativa no processo de autenticação das obras da artista. Com a dissolução do comitê responsável pelas validações, Paola Montenegro assumiu o papel de modernizar a gestão do legado artístico de Tarsila. Nesse contexto, a contratação de um perito especializado foi um passo estratégico, sinalizando que a ciência teria um papel fundamental na questão da autenticidade das obras, superando decisões meramente familiares.
Tarsila do Amaral e Portinari estão entre os artistas mais frequentemente copiados e falsificados no Brasil. O mercado de arte online também enfrenta desafios, com a presença de obras suspeitas à venda, inclusive com certificados falsos. Identificar potenciais falsificações nem sempre requer expertise, e a preocupação com a autenticidade das obras é crescente no meio artístico. Galerias e compradores precisam estar atentos para evitar fraudes e preservar a integridade do mercado.O mercado artístico enfrenta desafios com a autenticidade de obras de arte, como pontuou um galerista sob anonimato. Ele ressaltou a complexidade de falsificar uma assinatura em comparação com um certificado. Mesmo com cerca de 250 telas pintadas por Tarsila do Amaral, muitos desenhos não catalogados geram disputas legais.
Max Perlingeiro, curador e galerista, enfatiza a importância de investir em catálogos para proteger o mercado de arte. Ele cita o raisonné Portinari como um exemplo crucial, considerando as falsificações que prejudicam artistas no Brasil. João Cândido Portinari, filho de Candido Portinari, criou um extenso catálogo que serve de referência.O desenvolvimento de um sistema para identificar constelações de pinceladas em museus não foi bem recebido pelos museus. O motivo foi explicado pelo galerista ao mencionar que uma boa parte dos acervos dos museus possui obras falsas ou com autenticação errônea.
## Autenticações
João Cândido, filho de Cândido Portinari, é matemático e possui PhD pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele é um dos fundadores do Departamento de Matemática da PUC-Rio, do qual já foi diretor. Atualmente, ele ocupa o cargo de diretor-geral do Projeto Portinari e lidera a Associação Cultural Cândido Portinari.
Ele destaca que as falsificações de obras de seu pai diminuíram consideravelmente desde a implementação do raisonné. João enfatiza que esse é um instrumento extremamente poderoso. No entanto, ele concorda que mesmo com o catálogo, falsificações ainda circulam e obras potencialmente autênticas e desconhecidas surgem.
Para autenticar obras que aparecem, João conta com uma equipe multidisciplinar composta por restauradores, marchands e peritos. Em entrevista ao **Metrópoles**, ele revelou que costumava receber uma visita a cada semana solicitando a autenticação de obras. Ele destaca: “A maior parte delas é falsificada”.
Até o momento, cerca de 400 obras do artista foram autenticadas. Esse número é significativo, porém, considerando que Cândido Portinari foi um pintor extremamente prolífico, deixando mais de 5 mil obras de arte. Essas obras variam desde pequenos esboços até grandes murais em larga escala. Recentemente, os Correios lançaram uma coleção de selos com reproduções de telas desaparecidas. João ressalta: “Pode ser que você tenha um Portinari em casa e não saiba”.
Dessa forma, a questão da autenticidade de obras de arte, principalmente as de artistas consagrados como Cândido Portinari, permanece um desafio contínuo. A implementação de instrumentos como o raisonné pode ajudar a mitigar falsificações, porém, há sempre a possibilidade de obras genuínas desconhecidas surgirem, exigindo uma abordagem multidisciplinar e criteriosa para sua autenticação.
Compartilhe esse artigo:
Facebook Comments