No decorrer desta sexta-feira, 23, o dólar à vista sofreu uma queda brusca e voltou a fechar abaixo de R$ 5,50, depois de ter flertado com o nível de R$ 5,60 na quinta-feira, em um cenário de mau humor no exterior e desconforto com a comunicação do Banco Central. Essa desvalorização da moeda americana em âmbito global e o aumento do apetite por ativos de risco impulsionaram essa queda, ambos motivados pela confirmação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) iniciará um ciclo de corte de juros a partir de setembro.
Em sua participação no Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, foi direto ao afirmar: “Chegou a hora de ajustar a política monetária”. Com seu compromisso com o pleno emprego e a estabilidade de preços, o Federal Reserve agora enxerga mais riscos de desaceleração do mercado de trabalho do que de aumento da inflação.
O índice DXY, que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, caiu abaixo de 101,000 pontos, atingindo a mínima de 100,602, o que representa o menor nível desde dezembro do ano passado. Dentre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities, o peso mexicano se destacou com ganhos superiores a 2,20%, recuperando-se das perdas recentes.
No mercado interno, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 1,99%, cotado a R$ 5,4794, chegando a uma mínima de R$ 5,4749 durante a tarde, em meio à queda mais acentuada do retorno dos Treasuries de 2 anos. Mesmo com essa queda significativa, a moeda registra um pequeno ganho na semana (0,21%), mas acumula uma desvalorização de 3,11% no mês.
Powell e os dirigentes do Federal Reserve enfatizaram que o ritmo e a magnitude dos cortes de juros nos EUA serão condicionados aos indicadores econômicos. O presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker, afirmou pela manhã que o banco central cortará os juros de forma “metódica”. Já o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, declarou que a política monetária está atualmente no seu nível mais restritivo da história e prevê cortes de juros várias vezes entre 2024 e 2025.
De acordo com a ferramenta de monitoramento do CME Group, há uma probabilidade maior (superior a 65%) de um corte de 25 pontos-base na taxa de juros americana em setembro, embora as apostas em um corte maior, de 50 pontos-base, tenham aumentado. Espera-se um alívio de mais de 200 pontos-base até o final de 2025, com chances ligeiramente maiores de uma redução total de 225 pontos-base.
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, observa que, caso o Fed “não busque e nem aceite uma deterioração adicional das condições do mercado de trabalho”, o rumo da economia americana pode enfrentar novos desafios nos próximos meses.
A redução das taxas de juros não pode ser um processo demorado, uma vez que existe um atraso entre o alívio monetário e seu impacto na atividade econômica.
“Observamos que o Fed parece estar inclinado a adotar medidas agressivas logo no início do ciclo de flexibilização. Portanto, acreditamos que há uma chance significativa de um corte de 50 pontos-base já no início, em setembro,” afirma Olivares. “Uma vez estabelecido o ritmo dos cortes, a extensão do ciclo será determinada pela evolução do mercado de trabalho e, em menor escala, da inflação.”
Apesar dos sinais de redução das taxas nos EUA, a possibilidade de aumento da taxa Selic ainda este ano continua em análise. Economistas do mercado que se reuniram nesta sexta-feira com diretores do Banco Central indicaram que um aumento de 0,75 a 1,25 ponto percentual na taxa Selic nos próximos meses será necessário para manter a credibilidade da instituição monetária e ancorar as expectativas de inflação, conforme relatos dos participantes.
Na quinta-feira, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, mencionou que adotar um balanço de risco assimétrico para a inflação não equivale a um guidance para a condução da política monetária, porém reiterou a prontidão do BC para elevar as taxas, se necessário.
As declarações do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, ao longo da semana foram menos incisivas, indicando desconforto com a possibilidade de aumento da taxa Selic já em setembro por parte de um grupo relevante do mercado – o que gerou certa turbulência e, segundo analistas, contribuiu para a queda do real na quinta.
Em um cenário de redução das taxas de juros nos EUA, o economista do banco Wells Fargo Brendan MacKenna prevê que o aumento da taxa Selic ainda este ano, juntamente com manifestações mais claras do governo em relação ao comprometimento com as metas fiscais até 2025, resultará em uma valorização do real.
Mesmo considerando que a trajetória do dólar será instável, MacKenna afirma que a taxa de câmbio deve evoluir em direção a R$ 5,30 até meados de 2025, devido ao “diferencial de juros mais atrativo e à postura fiscal responsável do governo Lula.”
“Influenciado pelos ventos favoráveis de um dólar mais fraco, o real pode ter um desempenho superior a outras moedas latino-americanas e de mercados emergentes,” destaca o economista, mencionando que o dólar provavelmente voltará a subir a partir do segundo semestre de 2025, com possíveis reduções na Selic e relaxamento nas políticas fiscais, à medida que o governo se prepara para as eleições presidenciais. “Até o início de 2026, acreditamos que a taxa de câmbio pode atingir R$ 5,70.”
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Carolina Ferreira
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